Catarina Alencastro
Eduardo Bresciani
O Globo
Eduardo Bresciani
O Globo
O peso do DEM na montagem do governo Jair Bolsonaro e a distância regulamentar que o presidente eleito vem mantendo de Rodrigo Maia (DEM-RJ) tem estimulado aliados do PSL a desafiar o favoritismo do atual presidente da Câmara. A lista de rivais cresce a cada semana. Já são sete os nomes atuando nas articulações de bastidores: João Campos (PRB-GO), Alceu Moreira (MDB-RS), Capitão Augusto (PR-SP), Giacobo (PR-PR), Fábio Ramalho (MDB-MG), JHC (PSL-AL) e Delegado Waldir (PSL-GO).
Bolsonaro disse que não quer interferir nas eleições na Mesa, mas na última semana deu a Maia o recado de que há “outros candidatos muito bons”. O presidente eleito é simpático a Alceu Moreira, João Campos e Capitão Augusto, lideranças das bancadas ruralista, evangélica e da segurança, respectivamente. Aliados do atual presidente da Câmara dizem que os oponentes, por ora, não ameaçam sua vantagem e apostam que não conseguirão aglutinar apoio fora de seus próprios nichos.
REFORMA – No entanto, Maia está em alerta e vai oferecer um jantar para cerca de 40 deputados novatos na próxima terça-feira, pontapé oficial da sua campanha. O atual presidente da Câmara está fora da lista de preferidos, mas tampouco é hostil a Bolsonaro. O presidente da Câmara apoia a agenda econômica de Paulo Guedes e promete suporte à votação da reforma da Previdência.
O bom trânsito de Maia com setores da esquerda, como PT e PC do B, porém, gera desconfianças entre os bolsonaristas. Filho do presidente eleito, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já deixou claro que, na sua visão, o próximo presidente da Casa tem que “tratorar” a oposição. “O Rodrigo não é o preferido pelo PSL nem pela oposição, mas é o único que é aceito por ambos. Essa capacidade de diálogo faz diferença no parlamento. Para o governo interessa ter uma pessoa que conversa com todos”, diz o ex-líder do DEM na Câmara deputado Efraim Filho (PB).
Para João Campos, a principal fraqueza de Maia é que o DEM tem dois ministros confirmados no futuro governo, Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura). Pode ainda emplacar Luiz Henrique Mandetta na Saúde. Para Campos, pesará o receio dos outros partidos de fortalecer o DEM. ‘Não sei se atrapalha, mas ajudar não ajuda”, diz o potencial adversário.
ARTICULAÇÕES – Campos é quem tem uma articulação cada vez mais visível nos corredores da Câmara. Na última terça-feira, dia 13, reuniu um grupo de 15 aliados e engatou uma oração em pleno Salão Verde. Além da bancada da bíblia, Campos, que é delegado, é vice-presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada bancada da bala, e tem uma relação próxima com Bolsonaro. No último mês, esteve com o presidente eleito três vezes.
Na bancada da bala há outro amigo do presidente que está na disputa: Capitão Augusto (PR-SP). Ele aposta que o fato de ser de São Paulo e representar os militares pode ajudá-lo. Moreira, próximo presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), um dos polos de apoio de Bolsonaro, avalia que a proximidade com o futuro presidente não irá ajudar nenhum concorrente. “Isso não é assunto para o presidente da República. Os que interferiram, se deram mal”, resume.
Há divisão no próprio campo de Bolsonaro. O presidente eleito declarou que seu partido não deveria ter um representante na disputa, mas o deputado Delegado Waldir diz que manterá seu nome. Cita como exemplo o próprio Bolsonaro, que foi candidato em 2017 e teve a quatro votos. “Quero ter aqueles 10 minutos que o Bolsonaro teve em 2017”, diz Waldir.