Pedro do Coutto
Os dados que se encontram no título fazem parte de um estudo da especialista Virgínia Sodré, diretora do Instituto Aciona Água Brasil. Em forma de artigo, o estudo foi publicado na edição do Valor. Claro que tal situação precisa ser mudada urgentemente, por produzir uma série enorme de problemas ligados diretamente a saúde e a própria condição humana. Eis aí um setor no qual a política de ação não pode ser pautada pelo espírito conservador. Conservar o que? O déficit colossal em matéria de rede de esgoto e também conservar a falta de consumo de água potável que atinge 35 milhões de pessoas. Não é possível. É indispensável romper-se esse anel de ferro em torno de questões profundamente negativas para o desenvolvimento social e econômico do Brasil.
Na cidade do Rio de janeiro, tomando-se por exemplo as favelas, estão elas cada vez mais enraizadas nas encostas dos morros cariocas. A falta de saneamento é uma fonte permanente de várias doenças, refletindo-se até na mortalidade infantil.
ESFORÇO IMENSO – Para romper o anel de ferro a que me referi é preciso um esforço imenso inspirado no sentido da reforma. Todo processo humano é marcado por avanços reformistas, o reformismo parte basicamente da dúvida: se não houvesse dúvida não haveria progresso. A dúvida, assim, é eternamente produzida pelo choque entre as visões reformistas e as conservadoras. Não se pode querer conservar a pobreza e o atraso, no caso do Brasil, principalmente atingindo as faixas menores de renda familiar.
No caso do saneamento, ser conservador significa escravizar no século XXI a prática desumana peculiar ao período da escravidão. A população que não conta com rede de esgoto é duplamente traída na sua vontade existencial: paga impostos para receber serviços básicos em vão. Os impostos atingem sua baixa renda, mas os serviços não vêm em contrapartida.
CONSERVADORISMO – Quando se vê a discussão que domina a base político econômica do governo que assume o Brasil em janeiro de 2019, chega-se à conclusão que o conservadorismo é a engrenagem do atraso que pune imensas parcelas humanas que não tem culpa nenhuma.
No livro que Antonio Houaiss e eu escrevemos há algum tempo – “Brasil: O Fracasso do Conservadorismo” – focalizamos a profundidade da contradição que opõe a ideia conservadora e a libertação reformista.