Publicado por: Gustavo Abruzzini
“O homem público está sujeito a críticas. Exatamente pela função que exerce, mesmo porque o poder lhe advém da autoridade da lei e da soberania do povo. Age por delegação e não por direito próprio e por isso mesmo deve explicações sobre seus atos, na forma que a ordem jurídica dispõe. Tanto mais ácida ou contundente será a crítica, quanto mais alto o cargo ocupado pelo homem público. Quanto mais altas as funções, mais se exige dos homens que as ocupam. Mais devem conformar seus atos com as prescrições legais. Surpreendidos em práticas irregulares, não podem se queixar do direito de crítica exercido pela imprensa e assegurado pela Constituição e pelas Leis. Mesmo quando esse direito é exercido com certos excessos. Mais importante que a eventual suscetibilidade ferida é o direito da nação em ser bem informada (...). É irrecusável que o noticiário publicado pelo jornal Folha de São Paulo, apontando irregularidades na contratação de agências publicitárias sem licitação, circunscreveu-se aos estreitos limites da crítica inspirada pelo interesse público.”
(Sentença do juiz Nelson Bernardes de Souza que absolveu quatro jornalistas da Folha de São Paulo, processados pelo então presidente, Fernando Collor de Mello).
O trecho acima serve para fortalecer nossa posição. Posição esta proposta desde nossa edição número um. Fazer jornalismo no interior de um Estado historicamente decadente e tomado pela incompreensão dos que detêm o poder, eis que acostumados com o jornalismo de posição e bajulador, é missão das mais árduas, já dissemos aqui várias vezes. Sobretudo, porque é cada vez mais perceptível a dificuldade dos ditos homens públicos em conviver com o que seja independente deles. Inconformados, lançam-nos rótulos maldosos que justifiquem em suas cabeças áridas nossa conduta ou que rebatam nota, notícia ou relato que não lhes agrada. E impressiona que, em pleno século XXI, estes homens públicos não busquem em nenhum momento a conversa, o diálogo, o esclarecimento, o direito de resposta, enfim, expor sua versão, denotando em tal atitude o total desrespeito ou consideração à atividade informativa e ao direito da população que o elege à informação.
Neste sábado, o prefeito de Valença, o médico Álvaro Cabral participou mais uma vez do programa da rádio, ancorando, junto do dono da emissora, a entrevista com um de seus secretários. Deixou para o final, a tentativa de explicação quanto aos altos valores do contrato com a empresa que coleta o lixo da cidade. Exaltou-se, como era de se esperar, para responder ao vereador Naldo que tem sido seu maior algoz na Câmara. Na exasperação, sobrou também para o jornal que, segundo o prefeito, “está a serviço do deputado”.
O Jornal Local lamenta este tipo de colocação. Reconhecemos que é expressão corrente entre os politiqueiros da cidade, que não conseguem entender a existência de um jornal a partir do esforço empreendedor de um grupo de pessoas, capitaneados por um jornalista, hoje empresário, e que já prestou serviços, sim, ao deputado, mas que há sete anos opta em seguir sua vida prestando serviços à comunidade em que está inserido e da qual também fazem parte o deputado, sua família e seus partidários, assim como os de outras correntes. Se não prestamos melhores serviços a nosso prefeito e seu governo, isto se dá unicamente por culpa dele, que tal qual um ditador de uma “Republiqueta das Bananas”*, instituiu surpreendente e extemporânea proibição a seus secretários e colaboradores de darem entrevistas ao Jornal Local, sem seu consentimento. Ao que se sabe, temem nossa dita fé tendenciosa, como se um jornal se encerrasse numa única edição ou que, no nosso caso, estivéssemos sempre motivados a distorcer os seus fatos. Prefere, com esta atitude, vê-los distorcidos pela rua dos Mineiros
Diante de tal diatribe, reafirmamos nossa intenção em estar abertos a todos os governos e a todas as instituições, bem como a todos os homens públicos que geram noticiário que seja de relevante interesse da população de nossa região. É natural que, quanto maior for a receptividade que obtivermos de dirigentes e assessores, maior e mais facilitada será nossa tarefa, bem como será gerado natural canal de comunicação onde ponderações de lado a lado poderão ser devidamente consideradas e levadas a efeito. Longe disso, Álvaro Cabral, que em seu primeiro governo (1993-1996) foi pioneiro em instituir um serviço de comunicação social profissional, agora impede que sua assessoria tenha autonomia e visibilidade, o que faz parecer que, considerando, ainda, o fato de que também não deixa que nenhum secretário vá à rádio sem que ele esteja junto, pouco confia, então, em seus colaboradores, também.
E assim, num mar de dificuldades e desconfianças, o governante insatisfeito com nossa independência e com nossos possíveis erros, tranca-se em seu castelo de ódios, demonstrando cada vez mais ser incapaz de um gesto que o aproxime, não de nós, especificamente, mas de nossa legião de leitores, conquista maior da credibilidade e seriedade de nosso trabalho, que, infelizmente, o alcaide e seus conselheiros-mores insistem em desconsiderar e reconhecer.