Helio Fernandes
Agora, diante do inominável, especialistas repetem. Não é a primeira vez que o fato acontece, sempre com as mesmas causas, e naturalmente as consequências que poderiam ter sido previstas. E os técnicos de todas as especialidades, ligados ao problema, alertam para a imprevidência, imprudência, inconsequência.
É lógico, claro e evidente que não se esperava que o verão 2010/2011 tivesse essa violência, devastasse e matasse de uma forma inacreditável, como aconteceu. Não havia jornalão, rádio ou televisão que pudesse se atualizar em relação ao número de mortos.
A cada hora, dramaticamente ia aumentando. No primeiro dia, quando já contavam 100 mortos, o horror era geral. Quando chegou a 200, a contagem foi se atropelando, ninguém acreditava que pudesse subir mais. Só que chegou a 300, 4oo, na última comunicação havia atingido 672 mortos. E estimavam que houvesse número imprevisível de desaparecidos ou ainda não encontrados.
Agora estão todos estarrecidos como se tivesse acontecido pela primeira vez. Jamais aconteceu com essa violência, mas é fácil supor que a cada ano a resistência diminui, as encostas estão mais frágeis, as casas (?) aumentam, os riscos crescem na razão direta do abandono.
Ninguém foi responsabilizado, ano após ano, autoridades (?) municipais, estaduais e federais, ficam impunes e imunes, prefeitos escondidos nas suas mansões, secretários de Obras de todos os municípios, resguardados nas fortificações que sabem inatingíveis.
Responsáveis municipais e estaduais, continuam longe dos fatos, das providências e das decisões. É preciso então que o governo federal apareça e imponha medidas salvadoras, mas que ninguém tem interesse (ou recursos?) para traduzir em velocidade maior e com resultados visíveis i-m-e-d-i-a-t-a-m-e-n-t-e.
O nosso tipo de Federação, concentrada no Federal, abandona o estadual e o municipal, que se refugiam na impossibilidade de fazer. O governo federal domina tudo, mesmo os “repasses constitucionais”, são feitos como se isso fosse “generosidade” ou “desprendimento” do governo central.
(Nos EUA, presidencialismo igual ao nosso, a Constituição é “estadualista”, os estados e municípios têm direitos e deveres constitucionais e obrigatórios. Rui Barbosa hesitou muito entre a FEDERAÇÃO inconsequente e a CONFEDERAÇÃO responsável. Quando abandonou a vida pública em 1919, depois da derrota para Epitácio Pessoa, revelou ao grande amigo, senador Antonio Azeredo: “Meu maior equívoco foi ter optado pela Federação”).
Agora, o governo federal, centralizado em Dona Dilma, anuncia providências, “cujos resultados só serão conhecidos dentro de 4 anos”. Ou como foi dito textualmente pelo Ministro Mercadante: “Deve funcionar plenamente no fim de 2014”.
Nada pode ser feito na hora, mas a emergência não é a palavra da predileção de governantes. Só que é obrigatório perguntar: e o que será de 2012, 2013, 2014 e até 2015, como está dito pelo Ministro de Ciência e Tecnologia?
E esse Ministro tinha que ser logo o ex-senador derrotado para governador, Aloizio Mercadante? O mesmo homem da “RENÚNCIA IRREVOGÁVEL”, humilhado e desprezado por Lula, nesse episódio e em outros? Como acreditar na palavra dele, na sua capacidade de realização, de participação, de cooperação?
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PS – Admitamos que a própria presidente reveja a situação, diga para ela mesmo e para o respeitável público: “É muito tempo, teremos que esperar até 2014?”
PS2 – Na vida de Dona Dilma presidente, muita coisa remete a essa data, que pode ser um marco na sua história. Muitos previam incertezas e incógnitas para 2014.
PS3 – Com esforço, concentração e competência, Dona Dilma não pode derrotar esse 2014? Entre os obstáculos que colocavam para ela, não estava a tragédia, a catástrofe e a fatalidade. Da natureza ou da imprevidência, e sim da HERANÇA MALDITA.