Helio Fernandes
Antônio Aurélio: “Jornalista, sou seu admirador, da sua cultura, coragem e sinceridade, por isso faço a pergunta: o senhor não está satisfeito com a eleição da presidente Dilma? Como o Sr. se fartou de dizer que Serra não se elegeria, gostaria então que Lula continuasse? É só curiosidade.”
Comentário de Helio Fernandes:
Já tratei muito do assunto. Mas como é para mitigar, que palavra, tua curiosidade, vá lá. Tivemos muitas Constituições, praticamente inúteis e desnecessárias, mas que deviam ser seguidas, já que respeitá-las era impossível.
Dessa forma, achei absurdo e combati com veemência, quando o presidente FHC COMPROU mais 4 anos de mandato. E ainda queria mais 4. Era meu dever e minha obrigação profissional, tomar essa posição.
Em relação a Lula, seus 8 anos estavam garantidos pela INOVAÇÃO escandalosa de FHC. Mas quando ele tentou de todas as maneiras o terceiro mandato, fiquei da mesma forma contra. E olhem que Lula procurou (nos bastidores) de todas as formas, uma PRORROGAÇÃO geral dos mandatos até 2012. Não obteve concordância, embora muitos beneficiados ficassem a favor.
Portanto, Aurélio, não estou aborrecido, irritado ou ressentido com o fato de Dona Dilma estar no Planalto. Lula não podia mais, Serra não podia nunca, Dilma é que podia, não havia mais ninguém. E poderá em 2014 (nada contra, mas também não antecipadamente a favor) se fizer o que o Brasil espera.
Nesse ACÚMULO de Constituições, o Brasil tem duas razoáveis, que ajudariam um presidente R-E-V-O-L-U-C-I-O-N-A-D-O-R. A de 1946, que viveu menos de 18 anos, assassinada em 1964, antes da maioridade. E a de 88. Se não fosse tão longa segregada, contaminada e violada pela CONTRADIÇÃO. Discutida, votada, aprovada para ser PARLAMENTARISTA, foi traída pelo plenário, que por diferença ínfima, declarou-a PRESIDENCIALISTA. E ainda manteve esse espúrio e denegrido SISTEMA PLURIPATIDARISTA.
Só tivemos Atos Institucionais com os mais variados números, golpes que chamaram de “revolução”, a Constituição “aprovada” no escuro, porque Castelo Branco mentiu para Juscelino, dizendo, “preciso dessa aprovação para manter sua candidatura em 1965”.
Logo depois cassava Juscelino, porque ele cometeu o crime insanável: se lançou candidato a presidente, como Castelo Branco lhe dissera (mentindo) para receber seu apoio.
FHC gostava de dizer publicamente: “Sem medida provisória não há governabilidade”. Mais mentira. Dona Dilma deve acreditar na Lei, na Constituição, na realização, e principalmente na R-E-P-R-E-S-E-N-T-A-T-I-V-I-D-A-D-E. E isso só pode ser feito, FAZENDO. Não apenas prometendo ou imaginando.
É evidente que não estou fazendo oposição a Dona Dilma, seria combater o nada, em uma semana não poderia fazer mesmo. Mas poderia colocar em pauta, pelo menos isso, as reformas importantíssimas. Como a mais esperada e jamais executada, a política-eleitoral. Sem essa modificação, qualquer presidente será prisioneiro dos partidos que não existem.
Esse miserável salário mínimo serve de joguete, chantagem e intimidação para que seja reajustado pelo menos em 10 por cento. (De 510 reais para 560). Apenas jogatina de malabaristas do lobismo ou dos cargos que sustentam suas pequenininhas ambições).
Não custa relembrar a disputa por esse mesmo salário mínimo, com Vargas na Presidência e Jango Ministro do Trabalho. Jango aumentou esse “salário” em 100 por cento, foi derrubado por Golbery, Kruel e outros coronéis que fizeram “carreira sensacional” até com o próprio Jango Presidente.
Com esse ministério inútil, pobretão e praticamente desaparecido, Dona Dilma perderá rapidamente tudo o que ganhou (ou conquistou?) com a estratégia de Lula.
Ontem vi a reunião ministerial, lamentei profundamente aqueles 37 personagens (faltou algum?), que nem sabiam o que estavam fazendo ali. A grande novidade foi o excesso de computadores, só dona Dilma tinha dois. Para quê? Para nada. Lembrei das reuniões do secretariado de Carlos Lacerda. Despachava com “eles” individualmente. Conversavam, às vezes, o dia todo, o secretário saía com trabalho para 3 ou 4 meses. E a recomendação: “Não precisa vir antes”.
A secretária (a excelente Ruth Alverga) tomava nota, a data da volta, marcada por ela e pelo secretário. O que a presidente vai dizer aos Ministros naquela suntuosa e desperdiçada mesa enorme? Não quero nem estou sugerindo plágio, mas a forma realista e proveitosa de FAZER.
***
PS – Por enquanto, nem ideia nem realização. E muito menos planejamento para as questões chaves, que parecem utilizadas, no momento, para agradar os jornalistas amestrados. E quais são os Ministros cujas afirmações podem realmente ser levadas a sério?
PS2 – No Planalto, aparentemente ninguém tem autoridade ou autonomia de vôo. No Planalto, os dois que deveriam ser os mais importantes e notáveis, se constituem em equívocos, desastres anunciados, hostilidade civil e militar, e a dúvida se desaparecerão imediatamente.
PS3 – O terceiro, nomeado para espionar, perdão, não foi nomeado e sim promovido, desalentado, como não acontece nada no governo, não tem o que revelar nessa guerra fria.
PS4 – Deixo bem claro que minha vontade é que os fatos aconteçam e P-O-S-I-T-I-V-A-M-E-N-T-E. Não faço oposição por oposição, não sou pessimista, pelo contrário, sou otimista e realista.
PS5 – Mas o OTIMISMO vazio não leva a lugar algum. A não ser a inutilidade de 37 cadeiras desocupadas. Vá lá, digamos que uma delas ou pouco mais, possa ter alguém que acabe por se revelar. Mas não com esse ministério. Temos que esperar então, a hora da mudança. Não da cadeira, e sim do próprio Planalto.