Carlos Chagas
O ministro Gilmar Mendes completa na próxima semana dois anos na presidência do Supremo Tribunal Federal, sendo de justiça reconhecer que nesse período balançou a velha árvore da Justiça. Não só agilizou as várias instâncias, tendo percorrido todos os estados e visitado seus tribunais mais de uma vez. Enfrentou Executivo e Legislativo, na defesa das prerrogativas inerentes ao Judiciário e lutou abertamente contra excessos do Ministério Público e da Polícia Federal, que para ele não é um poder.
Orgulha-se, como disse, “de haver quebrado a espinha dorsal do estado policial que se estabelecia no país”. Bateu-se pelo respeito aos processos legais e aos direitos do cidadão, inclusive com os polêmicos dois habeas-corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas. Importa reconhecer que o Judiciário sai melhor, depois da presidência de Gilmar.
Um incursão do presidente do Supremo no futebol vem causando sensação, às vésperas da Copa do Mundo: como cidadão, jamais como juiz, defende a convocação de Neymar e de Ganso, do Santos. Deixa o Dunga em sinuca, pronto para repetir João Saldanha, que mandou o então presidente Médici cuidar do ministério, porque da seleção cuidava ele. O atual treinador poderia muito bem dizer que Gilmar deve cuidar das sentenças, e ele, do time…
Ciro merece respeito
Nem o presidente Lula nem o Partido Socialista tem o direito de fritar Ciro Gomes em fogo lento. Melhor ficaria o ex-ministro e ex-governador do Ceará caso ouvisse diretamente de seu partido e do chefe do governo não estar nos seus planos para a sucessão. O problema é que tanto o Lula quanto os socialistas tergiversam, empurram a candidatura de Ciro com a barriga e desmontam as condições para ela ser lançada e vicejar. Mas não assumem. Deixam o pré-candidato pendurado no pincel, sem escada.
É bom tomarem cuidado. As recentes e duras críticas de Ciro à sua legenda prenunciam tratamento igual a ser lançado sobre o presidente da República. Não que possa adiantar alguma coisa, mas pelo menos demonstrará que com ele não se brinca impunemente.
O vegetal ou o animal?
Juscelino Kubitschek contava com muita graça que já candidato à presidência da República,mas ainda governador de Minas, precisou ir ao palácio do Catete tratar com o então presidente Café Filho de questões ligadas à agricultura em seu estado. Sofria, naqueles idos, intensa pressão militar para não disputar a chefia do governo, apontado como herdeiro do getulismo e até de simpático ao comunismo.
Café Filho formava na primeira linha dos que se opunham à candidatura de JK, mas quando o recebeu em seu gabinete, surpreendeu. Era todo gentileza e até convidou o governador a sentar-se em sua escrivaninha, para ter a sensação de tornar-se presidente. Meio constrangido, o visitante sentou. Foi quando Café Filho transfigurou-se e partiu para agressão: “Pode levantar-se, e fique sabendo que esta foi a primeira e a última vez que você ocupou essa cadeira!”
Ofendido, Juscelino encerrou a audiência e desceu para o andar térreo da sede do Executivo, onde funcionava a sala de imprensa. Sem saber da grosseria, os jornalistas indagaram do governador se havia resolvido a questão dos preços do café, na dependência do governo federal.
De bate-pronto, ele respondeu: “De que café você está falando, meu filho? Do vegetal ou do animal?”
Continuam devendo
José Serra e Dilma Rousseff estão em campanha aberta, percorrendo o país, mas continuam devendo definições concretas sobre montes de problemas nacionais. Por exemplo:
Farão o quê, diante da ocupação desordenada de terrenos nas grandes cidades, da favelização próxima da tragédia tantas vezes repetida? São favoráveis a retirar as populações dos morros e das encostas onde há risco de desabamentos?
Como promoverão a reforma tributária, capaz de retirar o Brasil da condição de país onde os mais altos impostos são cobrados de ricos e pobres?
Prosseguirão na política de abandono dos aposentados, nivelando por baixo a grande massa dos que trabalharam a vida inteira e acabam postos na pobreza?
O que fazer diante do crescimento da violência e da criminalidade? Agirão para mudar o Código Penal e o Código de Processo Penal, reduzindo benefícios para autores de crimes hediondos ou reincidentes? Admitem a pena de prisão perpétua para os irrecuperáveis?
E a impunidade, será obstáculo intransponível? Como diminuir a corrupção generalizada?
Diante da especulação financeira, continuarão protegendo os bancos e seus lucros estratosféricos?
Destas e de quantas outras questões os candidatos permanecem em silêncio?
Fonte: Tribuna da Imprensa