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segunda-feira, abril 19, 2010

A aliança só está certa depois que está fechada e é anunciada

Osvaldo Lyra - Editor de Política

Tida como presença certa na chapa encabeçada pelo governador Jaques Wagner, a deputada federal Lídice da Mata (PSB) admite nesta entrevista concedida em sua residência, no último sábado, que está com 80% de chance de ser lançada ao Senado na chapa do PT. No entanto, cautelosa, diz que “a aliança só está certa depois que está fechada e é anunciada. Por enquanto, o que há é uma disposição do governador para que eu integre a majoritária”. A ex-prefeita de Salvador, que preside o PSB na Bahia, fala sobre a derrota do governo, que foi surpreendido com a ida de César Borges para o lado do PMDB, de Geddel Vieira Lima. Ela coloca Paulo Souto como principal candidato da oposição e afirma ainda que Wagner vai vencer essa eleição, seja no primeiro ou no segundo turno.

Tribuna da Bahia - Como o PSB está acompanhando a montagem da chapa majoritária do governador Jaques Wagner? As articulações se restringem ao próprio candidato e ao presidente do PT, Jonas Paulo?
Lídice da Mata –
Não. Nós conversamos com o Jonas essa semana e no início da semana conversamos com o governador Wagner. É claro que há um novo processo de decisão em curso e o governador é o coordenador e líder disso tudo, portanto, ele terá a última palavra sobre o assunto. O que está acontecendo são conversas bilaterais, onde alguns pensam algumas coisas e outros pensam outras, o que vai dar oportunidade para ele decidir. Não é a mesma coisa do tempo do carlismo, onde existia um onipotente, um chefe a decidir. O governador recebeu dos partidos a atribuição de escolher, mas ouviu todos antes. Agora ele certamente fará uma nova rodada de oitivas para voltar a ter condições de decidir.

TB - Com a não adesão do senador César Borges, comenta-se que uma vaga ainda estaria em aberto, pois a sua já está definida. Sua posição é realmente tão confortável?
LM -
Minha posição é confortável sim. Não tenho nenhuma dúvida. Mas confortável não quer dizer permanecer a todo custo. Quer dizer que eu estou confortável de estar desenvolvendo essa tarefa de compor uma chapa majoritária e que confio no governador frente às decisões que ele vá tomar. Agora, a saída de César não desarmou o jogo, mas, obviamente, estava se construindo uma articulação que levava em conta o perfil político. A saída desse perfil não nos ameaça a perder a eleição. Nada disso. É bom lembrar que ganhamos a eleição sem César Borges. Claro que estamos em outra circunstância, mas não conheço nenhum lugar do país em que um candidato ao Senado tenha interferido tanto numa candidatura de um governo a ponto de ameaçar sua eleição. Aliás, a eleição continua como dantes no quartel de Abrantes. Wagner tem hoje uma ampla maioria, ele é o preferido e luta para ganhar as eleições.

TB - Mas sabemos que a ida do senador César Borges neutralizaria, em parte, as forças de oposição, o que poderia levar o governador a ganhar no primeiro turno. Como a senhora avalia essa questão?
LM –
Primeiro não há nenhum problema quanto a isso. O governador nunca expressou essa teoria de que teria que ganhar no primeiro turno. Em nenhum momento. Não está também dado nem tão pouco provado que a saída de César para o campo de Geddel seja tão decisiva a ponto de criar a ideia de que vai existir segundo turno. Onde isso está colocado? O que está dado como certo é que César não foi para a chapa de Paulo Souto e sim para a de Geddel. Quando se falava na vinda de César para o lado de Wagner, todos analisavam que isso desarticularia a candidatura de Paulo Souto, que continua sem agregação. Sendo assim, esse movimento continua enfraquecendo o adversário principal de Wagner que, do nosso ponto de vista, é o Paulo Souto.

TB - Por exercer oposição ao governador, o deputado federal Geddel Vieira Lima também não seria um candidato importante do campo oposicionista?
LM –
Geddel é um candidato, mas em nenhum momento pode ser colocado como o principal da oposição, mas pode até vir a ser. O cenário em que estamos discutindo é o cenário que aponta Wagner em primeiro lugar, Paulo Souto em segundo e Geddel em terceiro. Nessa circunstância, a vinda de César Borges para o campo de Wagner desarticularia a chapa de Paulo Souto. E isso continua a ser verdadeiro, pois o senador não foi para a chapa de Wagner, mas foi para a de Geddel e não para a de Souto. Essa movimentação política em nada determina que o segundo turno esteja consolidado. Ela apenas fortaleceu a candidatura de Geddel que, até pouco tempo, era analisada pelo conjunto da imprensa baiana como uma candidatura que estava isolada, com apoio de poucos partidos.

TB – Essa aliança com o ex-ministro Geddel surpreendeu a base aliada do governador?
LM –
Ninguém imaginava que o ministro Geddel, um experiente político baiano, fosse sair do ministério e não fizesse até junho uma movimentação para agregar novos partidos, quando as chapas serão fechadas. O que ele fez era esperado? Foi pensado antes. Era o que desejávamos? Não. Tanto não era o que nós esperávamos, que o governador buscou fazê-lo antes. Mas esse movimento vem de uma mesma filosofia, que é a de fortalecer a candidatura de Dilma. A ideia de Wagner e Geddel é unir campos que estão juntos e de forma articulada nacionalmente. Por exemplo, se César fosse para Paulo Souto, talvez ele estivesse indo para o local onde mais iria perder, pois estaria confortável, junto aos que sempre esteve. No entanto, sairia prejudicado, pois deixaria de ter uma ligação com a sua legenda nacionalmente. Seria uma situação intricada, com os integrantes de seu partido apoiando Dilma e ele apoiando Serra. Eu creio que a chapa DEM/PSDB pensou em atrair o César, mas a influência do cenário nacional – que está cada vez mais forte e pesada sobre o quadro regional – o fez desistir de ir.

TB - Os próprios integrantes do DEM e do PSDB disseram que nessa situação a derrota foi do governador, pois, assim que o PR fechou nacionalmente com o PT, acabou o processo de espera pelo senador republicano...
LM –
Esse raciocínio é em tese certo. Mas, até aquele momento, eles não tinham dito isso. Só disseram agora porque César tomou um caminho diferente do deles, essa é a novidade. O senador tomou uma decisão que leva à reorganização do jogo dos outros. Por conta da montagem de chapa de Dilma, isso obrigou o governador Wagner a se aproximar de César. Basta ver que nos últimos três anos não havia essa aproximação. O que levou a um movimento de aproximação de ambos foi justamente o cenário nacional. É lamentável que o cenário de aproximação de Wagner e César tenha sido desfeito. Agora vamos tratar de rever tudo, não a candidatura de Wagner, mas o cenário para se montar a chapa. Existem muitos nomes e o governador tem à sua disposição aqueles que vão agregar mais.

TB – Dos nomes que estão colocados como possibilidade para o governador, cada um agrega um pouco, seja pela história ou bagagem política. Qual linha de raciocínio ele deve manter para a chapa? A de centro-esquerda? Hoje, sem César, como fica?
LM –
Sinceramente, eu não sei. Isso seria fazer adivinhação para ver como vai se localizar a chapa. O governador estará analisando agora o que tem peso. É importante ter 50%, ou não. Na política fazemos muita conjectura e a realidade pode se colocar de forma diferente. Inclusive, eu ouvi de um importante político – que não é do campo de Wagner – que tanto nós fizemos e estávamos esperando pela decisão de um ex-carlista. Ora, é porque a mudança da situação política da Bahia levou a isso. E não estávamos esperando por que esse era o melhor candidato, como muitos falavam. Isso é uma bobagem. Nós sempre vemos candidaturas que começam lá em cima e terminam lá embaixo, isso porque na política não é um valor individual que é o essencial, mas o valor do conjunto, do coletivo. Basta ver a eleição passada de prefeito, com o ex-prefeito Imbassahy, que durante um ano era o franco favorito em todas as pesquisas, no entanto ficou em último lugar. O que temos nesse quadro de agora é uma preferência do eleitorado pelo governador Jaques Wagner e nós, que somos seus aliados, acreditamos que essa preferência se manterá e lutaremos por isso. Os outros vão lutar para nos superar, cada um no patamar que estiverem, alguns com mais dificuldades que outros. Agora, tem que saber que nós vamos lutar e que temos a convicção de que vamos chegar lá. Tudo que aconteceu agora em nada tira a possibilidade de nós ganharmos no primeiro ou no segundo turno.

TB - A senhora desistiu de concorrer à prefeitura em 2008 aceitando a vaga de vice de Pinheiro. A compensação não seria agora? Qual sua expectativa?
LM –
Eu não desisti apenas por uma compensação de estar numa chapa majoritária agora, mas desisti com a clareza da responsabilidade política que tenho ao estar em um lado, em uma aliança em que a manutenção da minha candidatura, certamente, poderia influenciar decisivamente para que o campo do governador não alcançasse o segundo turno. Não foi por uma troca, até porque essa troca é absolutamente incerta. O governador não pode me dá um mandato de presente. O máximo que ele pode me dar é a certeza de que posso ter uma oportunidade de estar em sua chapa. Só quem pode dar um mandato eletivo é o povo. O governador não se comprometeu com isso, mas o que houve foi um compromisso do PT, do seu presidente, de que esse seria um cenário em que eles lutariam para ter viabilidade.

TB - Houve radicalismo ou dificuldade para se tomar decisões no processo de negociação com o PR?
LM –
Eu acho que houve dificuldades de parte a parte. O governador se esforçou muito, alguns segmentos também se esforçaram. Dentro do PR também. O senador se esforçou, alguns deputados pressionaram para que se decidisse logo porque eles estavam se sentindo inseguros. Aliás, o cientista político Paulo Fábio diz algo interessante: no PR a decisão da vida dos candidatos a deputado se tornou mais importante do que a candidatura ao Senado, que é uma candidatura majoritária. A tradição é que os interesses da majoritária determinem à organização das chapas. Nesse caso, isso se inverteu um pouco. Eu acho que para César terminou não sendo um fato positivo, pois sair de uma candidatura que tem mais de 40 % de aprovação para uma candidatura que está em terceiro lugar, independente de que essa candidatura venha a crescer. Imediatamente, não é um bom jogo. Momentaneamente, a chapa de governador perdeu um pouco, mas isso não quer dizer que a candidatura do senador tenha se fortalecido. Foi uma perda relativa, pois essas relações que não são costuradas com antecedência e que não têm naturalidade na política pagam um preço grande. Acontece que também teremos vantagens com a saída de César, pois o discurso ficará mais fácil e estaremos em campo mais definido.

TB – O nome do ex-governador e ex-ministro Waldir Pires uniria os partidos da base do governador Jaques Wagner?
LM –
Não posso responder isso porque se eu o fizer estarei dificultando a decisão do governador. Ele se sentirá pressionado a tomar uma decisão. Eu não posso desautorizar qualquer que seja a decisão dele. Não é o momento de falar sobre esse assunto.

TB – E o ex-conselheiro Otto Alencar, um ex-carlista na chapa do PT? Soa como incoerência política? A população consegue entender esses movimentos?
LM –
A população acompanha o debate político. Não é aquela coisa que os políticos fazem política e a população fica alienada dentro do processo e depois perplexa sem saber o que fazer. A população, de maneira das mais diversas, vai participando da política, e isso reflete nas pesquisas de opinião. Não é a primeira vez que alguém sai do campo tradicional e vai para o campo de avanço político. Eu posso citar um caso clássico no Brasil que é o do senador Teotônio Vilela. Ele participou do golpe militar e, em um período histórico determinado, saiu desse campo e abraçou a luta democrática de tal forma que virou referência na luta pela anistia e liberdade dos presos políticos. O ex-governador Otto Alencar está há seis anos afastado da política. A Bahia mudou profundamente nesse período e, portanto, ele buscou escolher um caminho com que se identificava e eu não vejo como uma incoerência. Eu nunca vi ninguém recusar apoio. Ainda mais que estamos recebendo alguém que está querendo contribuir com o governo há algum tempo. O certo é que há segmentos que ficam ressentidos com essa nova postura política, mas o que importa é que esses segmentos sejam minoritários, e é isso que vai determinar o processo.

TB – O que pretende o PSB baiano nestas eleições? Faz quantos deputados federais? E quantos estaduais?
LM –
O nosso partido, como qualquer outro, pretende avançar, conquistar novas posições. Há uma eleição atrás o partido não tinha um deputado federal e só tinha um candidato estadual que era eu mesma. Na eleição passada nós conquistamos uma cadeira para federal, naquela época tínhamos a pretensão de tentar eleger dois, mas nossos planos não foram de todo realizados porque não tivemos condição de ter uma candidatura com uma força maior e com uma legenda que nos favorecesse e conquistamos uma nova cadeira para deputado estadual. A nossa posição é de um crescimento permanente, mas sustentado, pois é difícil para nós imaginarmos a possibilidade de formação de uma bancada de deputados federais. Nós estaremos contemplados com eleição de um de nossos membros na chapa majoritária, queremos eleger um a dois deputados federais e pretendemos eleger dois a três estaduais.

TB – A senhora acredita que a questão das proporcionais tende a prejudicar o PSB?
LM –
Nós provavelmente estaremos no chapão, que é o que imaginamos que será possível na candidatura de Wagner. Isso nos prejudica? É tão arriscado quanto nós disputarmos e nós não fazermos a legenda como já foi antes de minha eleição para federal. Na última vez, o partido faltou de oito a dez mil votos para eleger um deputado federal com legenda própria.

TB – Deputada, para finalizar: seu nome já está confirmado para o Senado na chapa do governador Jaques Wagner?
LM –
Eu não posso dizer que está confirmado, mas posso dizer que tem 80% de chances de estar. “A aliança só está certa depois que está fechada e é anunciada. Por enquanto o que há é uma disposição do governador para que eu integre a chapa majoritária”.

Fonte: Tribuna da Bahia

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