Carlos ChagasEstá de volta o ex-ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, disposto a botar para quebrar. Quando, meses atrás, desligou-se do ministério, a notícia foi de estar vencendo sua licença de dois anos como professor em Harvard e que, se não retornasse, perderia o direito à aposentadoria. Longe da mulher e dos quatro filhos, que continuaram morando nos Estados Unidos, precisava pensar neles.
Ignora-se quem espalhou essa versão, mas, agora de volta, Mangabeira começa por desmenti-la. Informa que em Harvard não há aposentadorias e deixa claro que renunciou pela impossibilidade de o governo dar sequência aos diversos projetos por ele apresentados para preparar o futuro do país. O presidente Lula sempre concordava com tudo o que propunha, até aplaudia, mas só se dispunha a encaminhar as propostas caso tivesse certeza de que o Congresso iria aprová-las. E o Congresso não se manifestava, aguardando a iniciativa presidencial. Resultado: criou-se um círculo vicioso dentro do qual ele ficava isolado, e desgastado, pois envolvido em desavenças permanentes com diversos ministros. Suas atribuições exigiam que avançasse em setores sob responsabilidade de colegas, que muitas vezes discordavam de suas formulações.
Mangabeira Unger surpreende ainda mais seus interlocutores atuais com a explicação de porque retornou ao Brasil: para refiliar-se ao PMDB e iniciar, como já iniciou pelo Rio Grande do Sul e o Paraná, intensa campanha pelo lançamento da candidatura própria do partido. Sustenta a necessidade da elaboração de um plano a ser discutido pelas bases peemedebistas, capaz de promover a marcha do país para o seu futuro. Uma verdadeira revolução, como diz, em condições de integrar a população, aprimorar as instituições, rever o sistema educacional, realizar mudanças profundas nas funções do estado e até mesmo estabelecer a reforma política.
Está otimista, o ex-ministro, acentuando que o PMDB dispõe de nomes capazes de sensibilizar o eleitorado, refletindo o anseio das bases do partido de disputar o pleito do ano que vem. É preciso ousar, ele completa, acrescentando a necessidade da audácia como motor da realização das mudanças necessárias ao país. Sua intenção é visitar os diretórios do PMDB em todos os estados, já convidado para estar no Mato Grosso do Sul, em Minas e outros, nos próximos dias.
Importa aguardar os resultados, porque se existem líderes e contingentes aguardando que o PMDB desperte, também é certo que a direção nacional não quer nem ouvir falar de candidatura própria. Os caciques estão empenhados em apressar o apoio formal a Dilma Rousseff, consolidando a aliança com o PT e o presidente Lula.“Nós contra eles…”
Insiste o presidente Lula em emprestar caráter publicitário às eleições do ano que vem. Voltou a repetir que a disputa será “de nós contra eles”, quer dizer, de Dilma contra Serra, ou melhor, daquilo que o seu governo representa contra o que representou o governo Fernando Henrique.
O recém-encerrado périplo presidencial pelo Nordeste, com Dilma Rousseff a tiracolo e Ciro Gomes de lambuja, despertou acentuada irritação “neles”, ou seja, no PSDB e penduricalhos. Afinal, as campanhas eleitorais estão liberadas? Se é assim, melhor que José Serra e Aécio Neves decidam logo a formação da chapa tucana e saiam em campo para recuperar o tempo perdido. As próximas pesquisas eleitorais poderão revelar o crescimento da candidata oficial, junto com a estagnação ou até a diminuição dos percentuais oposicionistas.
Melhor do que Roosevelt
Quando ainda na presidência da República, logo depois de reeleito, Fernando Henrique Cardoso foi procurado por um estudioso do processo político nacional que levou-lhe a sugestão de implantar uma espécie de New-Deal no Brasil, seguindo o exemplo passado do presidente Franklin Roosevelt.
O sociólogo ouviu e, como de seu temperamento, concordou com tudo o que o interlocutor propunha, mas no final não se conteve. Disse que ele era até melhor do que Roosevelt. Apenas, os Estados Unidos eram melhores do que o Brasil…Mais 200 mil sofredores?
Informa o IBGE ser de 200 mil o déficit de professores no país, excluídos os necessários ao ensino universitário. Nos níveis primário e secundário, faltam 200 mil, propondo-se o governo a preencher as vagas até o final do ano que vem. A dúvida é se conseguirá encontrar esse número de pretendentes a ensinar, porque os salários são tão miseráveis que muitos preferem continuar como camelôs.
A propósito, vale contar o episódio da visita do primeiro navio de guerra japonês ao Rio de Janeiro, depois da Segunda Guerra Mundial, no final dos anos cinqüenta. Era a primeira vez que o Japão se apresentava como potência militar e o almirante que chefiava a missão pediu para encontrar-se com jornalistas brasileiros. Entre muitas indagações, foi perguntado como explicava aquela maravilhosa reviravolta em seu país, que de derrotado, destroçado e bombardeado, dava ao mundo lições de desenvolvimento. O velho marinheiro mostrou aquele sorriso matreiro dos orientais e respondeu que tudo se devia a um imperador do Período Meiji, de trezentos anos atrás. Os repórteres quiseram detalhes e ele completou: “aquele imperador decretou que os professores, em todo o Japão, a partir de certa data, seriam feitos nobres, recebendo títulos, propriedades e vencimentos compatíveis com o novo status. O resultado aí está…”
Fonte: Tribuna da Imprensa
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