Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Mesmo faltando o segundo turno, já se conclui pela vitória de 70% dos prefeitos que se candidataram à reeleição, em todo o País. Significa o quê, esse percentual? Mais do que nunca, significa ser a reeleição uma praga, um corpo estranho inserido em nossas estruturas democráticas. Tal como está posta, presta-se à corrupção a possibilidade de prefeitos, governadores e presidentes da República concorrerem no exercício do cargo a um segundo mandato.
Querendo ou não os candidatos à reeleição valem-se da máquina que comandam. Permanecem expostos pela administração, quando caçam votos. Nomeiam, inauguram, contratam, distribuem favores e, não raro, utilizam o funcionalismo em seu favor.
O único cidadão com coragem para reconhecer essa evidência foi Mário Covas, que se licenciou do governo de São Paulo para concorrer a um segundo mandato. Seu exemplo deixou com a cara no chão quantos de lá para cá disputaram a reeleição. Não adiantou, porque de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio da Silva, a disputa pelo segundo mandato se fez em meio às regalias e benesses do poder exercido. E assim todos os governadores e prefeitos empenhados em permanecer no poder. Um horror.
Não se duvida de que, domingo, muitos prefeitos candidatos à reeleição exprimiram a melhor solução para seus municípios. Contaram com real apoio do eleitorado. Mas quantos outros não teriam a menor chance, caso afastados de suas prefeituras?
Senão este ano, com toda certeza em 2009 a reforma política será retomada no Congresso. São mínimas, porém, as possibilidades de ser revista a reeleição. Em nome da alternância no poder todos se dizem contra, mas só até o momento em que percebem em condições de valer-se dela, mesmo a longo prazo.
Uma única hipótese, certamente eivada de casuísmo, abre-se para mandar a reeleição para o lixo. Acontecerá caso Dilma Rousseff não decole em sua candidatura e o PT e adjacências consigam convencer o presidente Lula a disputar o terceiro mandato. Para tentar ocultar o inequívoco sentido de golpe nessa iniciativa, as bancadas oficiais extinguiriam a reeleição e, como compensação, ampliariam os mandatos presidenciais para cinco ou seis anos. O resultado seria a prerrogativa de todos os cidadãos na posse de seus direitos políticos concorrerem dentro dessa nova estrutura. Inclusive ele.
Em diversos países da América do Sul promoveram-se mudanças drásticas nas leis de anistia que marcaram o fim das ditaduras militares. Revogou-se o perdão e o esquecimento para torturadores, muitos dos quais, depois de julgados, continuam presos. Hoje, discute-se essa questão entre nós.
Não seria a oportunidade para se ampliar um pouco mais o princípio da punição para os que praticaram horrores? Que tal levar o ex-presidente Fernando Henrique aos tribunais para responder pelo crime de haver violentado a democracia, impondo a reeleição ao Congresso e valendo-se dela para, no exercício do cargo, reeleger-se?
Eternos explorados
A marolinha que ameaça virar tsunami aproxima-se do País, levando o governo a adotar medidas excepcionais de defesa do sistema financeiro. Em meio à queda na Bovespa, restrições no crédito, aumento do dólar e outras perigosas notícias, uma em especial leva à conclusão de que pouca coisa mudou desde Pedro Álvares Cabral. Porque, de repente, percebe-se continuar o Brasil essencialmente como exportador de matérias-primas. Antes era o pau-brasil, depois foi a cana, veio o café, misturado aos minérios, todos com os preços sempre em queda, fora bolsões e momentos excepcionais.
Pois não é que nosso maior flanco aberto para a crise está nos preços das commodities? Elas estão em queda vertiginosa, porque a primeira coisa que os poderosos fazem, quando em dificuldades, é abater o custo de suas importações. Também agem assim sem estar em dificuldades, mas essa é outra história.
Euforia no PMDB
Montados nas eleições de domingo, os cardeais do PMDB celebram o fato de que logo aumentarão a pressão sobre o presidente Lula para o partido indicar o candidato à vice-presidência, na chapa liderada pelo PT, para 2010. O PMDB cresceu em número de prefeitos, vereadores e de votos. Mesmo continuando a apoiar quem o presidente Lula apresentar, sentem-se no direito de reivindicar o companheiro.
A fulanização começa a dominar as conversas. O presidente Michel Temer pretende atuar como coordenador, ou seja, exclui-se liminarmente da disputa. Até agora se fala em Nelson Jobim, atual ministro da Defesa, escolha que muito agradaria o presidente Lula, mas outras opções surgirão. Por que não o governador Roberto Requião? Ou a senadora Roseana Sarney? Estão excluídos, obviamente, os líderes que adotam posição de independência diante do Palácio do Planalto, como Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon.
Telefones que não tocam
Semanas atrás, depois da grosseria feita ao Brasil pelo presidente do Equador, o presidente Lula declarou esperar para as próximas horas um telefonema de Rafael Correa. Nem o celular nem os telefones do Alvorada e do Planalto tocaram, ainda que dias depois os dois presidentes tivessem se reunido em Manaus.
Agora, os principais seguidores de Geraldo Alckmin comentaram, depois da derrota, aguardar um telefonema de Gilberto Kassab para o início das negociações. Nada, apesar de a cúpula do PSDB ter se apressado em declarar apoio ao prefeito.
Pois não é que em Porto Alegre os telefones também não tocam, ou se tocam deixam de ser atendidos? No caso, a vitoriosa candidata Maria do Rosário até se queixa publicamente de que Manuela D'Ávila não atende. Os telefones servem para mil coisas, mas constitui novidade que funcionem como objeto de ressentimento.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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