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sábado, outubro 18, 2008

A falência da autoridade pública

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - No Palácio do Planalto sem Lula, no começo da noite de quinta-feira, houve quem sustentasse a necessidade da intervenção do Exército, caso continuasse o confronto entre as polícias civil e militar de São Paulo. A medida extrema exigiria pedido do governador José Serra, impossível de ser formulado, ou votação pelo Congresso de intervenção federal no estado, outra inviabilidade política. Dá-se notícia da hipótese apenas para se ter noção de como a baderna atingiu Brasília. Naquela hora, ignorava-se a disposição do comando de greve da polícia civil de refluir à manifestação.
Ao mesmo tempo, porém, na sede do poder federal, havia quem esfregasse as mãos de satisfação, tendo em vista as dificuldades criadas para José Serra. Irritaram-se alguns auxiliares presidenciais, no entanto, quando o governador reagiu e acusou o PT, a CUT e a Força Sindical de objetivos eleitoreiros na tentativa de policiais civis invadirem o palácio dos Bandeirantes. Mesmo vendo nas telinhas as figuras do presidente da Força Sindical e do líder do PT na Assembléia, acusavam Serra de golpe baixo.
Os acontecimentos no Morumbi chocaram a nação. A troca de tiros e bombas, o saldo de mais de vinte feridos, a depredação de viaturas e perda completa da autoridade pública a poucos metros da sede do executivo estadual demonstrou como os paulistanos e os paulistas estão mergulhados no caos. Chamar o ladrão não se tornou necessário, ele permaneceu atento e terá agido com mais desenvoltura, ainda que estatísticas não possam ser produzidas, pois não havia delegacias abertas para o cidadão comum recorrer.
Os policiais civis de São Paulo têm razão integral em suas reivindicações? Sem a menor dúvida. Dispunham de motivos para apelar à violência? De jeito nenhum.
O diabo é se a moda pega. Porque a intransigência permanece de parte a parte. O governador Serra poderá até retomar as negociações, mas sentar-se-á à mesa disposto a não ceder. A polícia civil insiste na greve prolongada. Novo conflito pode acontecer. Para os demais estados, abre-se a perspectiva de encenarem-se vídeo - teipes da lambança verificada na unidade mais rica da federação.
E o presidente Lula? Em périplo pela Europa, Ásia e África, foi informado de tudo, mas, mesmo se estivesse na capital federal, poderia agir? De novo é preciso repetir: a falência da autoridade pública avança em velocidade recorde.
Ainda no mesmo dia, no Rio, foi assassinado o oitavo diretor de presídios da cidade, a mando dos barões do crime e do tráfico, por ironia presos. Leva todo mundo à indignação o argumento apresentado pelas autoridades da segurança pública fluminense: o tenente-coronel José Lourenço abriu mão da guarda - pessoal a que tinha direito e dirigia-se de casa ao trabalho em carro particular, não blindado...
Ousasse o governo promover um plebiscito e a sociedade quase toda se pronunciaria pela pena de morte. Como admitir o poder público sustentando montes de animais em cadeias de luxo, ditas de segurança máxima, se do fundo de suas celas continuam comandando o crime e até enriquecendo? De que maneira aceitar imagens transmitidas ainda nessa quinta-feira trágica, mas rotineira, onde era julgado um estuprador de onze vítimas? E quantos outros sem a menor possibilidade de recuperação, alimentados e hospedados à custa dos impostos pagos por todos nós?
Fala-se muito da sucessão presidencial de 2010, entre mil raciocínios envolvendo a popularidade do presidente Lula e a fragilidade de sua candidata preferida. É bom tomar cuidado, pois quem aparecer prometendo segurança e justiça poderá surpreender.
O futuro do cassino
Enquanto isso, a equipe econômica continua liberando dezenas de bilhões todos os dias para enfrentar a crise gerada pelo cupidez dos especuladores. Ataca os efeitos, jamais pensa na causa. Permanecem impávidas as aplicações no chamado mercado futuro, nada mais do que um cassino de roletas viciadas. Os que perderam surpreendidos pelos acontecimentos nos Estados Unidos, recebem todo o apoio do governo e, sem fazer caso do susto, jogam cada vez mais alto. Agora, com dinheiro liberado pelos Meirelles e Mantegas vestidos de avestruzes, aqueles que enterram a cabeça na areia em meio à tempestade, agindo com as patas.
Não chegou ao Brasil o alerta ecoado na Europa e até nos Estados Unidos, de necessitar a ordem econômico-financeira mundial de ampla reformulação. Não dá mais para ignorar a débâcle do neoliberalismo e advento do poder público não apenas como árbitro, mas como agente maior das decisões. O problema é sobre a natureza desse poder público, formado em grande maioria pelos especuladores do mercado futuro. Ontem, o ministro da Fazenda saiu-se com uma pérola de fazer inveja: disse não ser possível resolver os problemas antes que eles apareçam. Ainda bem que não é ministro do Planejamento...
Um faraó tropical?
Traiu-se o presidente Lula quando, em Moçambique, queixou-se dos limites que a democracia estabelece para os governantes. Falou de mandatos de cinco anos, quando os deles são de quatro e até elogiou o princípio da reeleição. Não dá para fazer nada em períodos tão curtos, quando no passado os faraós e os imperadores dispunham de tempo ilimitado.
Terá falado o subconsciente de quem imagina mandatos presidenciais de cinco anos, com reeleição? Qualquer mudança na Constituição, ampliando os mandatos em um ano, determinaria quinze minutos depois o raciocínio de que passaríamos então a viver um novo sistema. Para o qual, todos os cidadãos no gozo de seus direitos políticos poderiam concorrer. Inclusive ele.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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