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sábado, julho 19, 2008

Um ano sem ACM

Antonio Carlos e a Bahia moderna


Paulo Souto
A Bahia nesse 20 de julho lembra de um de seus filhos mais ilustres. Há um ano, o senador Antonio Carlos Magalhães nos deixava. Mas, nesse momento, mais de que o sentimento de perda, nós temos a oportunidade de repor algumas verdades a respeito desta figura única da política brasileira. Podemos dizer que com ACM nasceu a Bahia moderna. Ele que, como poucos, lutou pela valorização de nossa cultura, de nossa religiosidade e do resgate constante de nossa tradições.
Ao mesmo tempo, foi uma peça fundamental na transformação da Bahia no estado moderno, industrial, plural e desenvolvido que é hoje. ACM transformou Salvador com as avenidas de vale, com o Centro Administrativo e a Avenida Luis Viana Filho, redirecionando o eixo de crescimento da capital, hoje a terceira maior cidade do país. Ele esteve à frente das lutas pelo Pólo Petroquímico, pelo desenvolvimento do turismo como fator de desenvolvimento econômico, pela recuperação de nosso patrimônio no Centro Histórico de Salvador, pela vinda da Ford e de tantos outros empreendimentos.
Antonio Carlos Magalhães foi um filho da classe média que chegou ao poder e trouxe muitos outros que, como ele, não vinham das tradicionais famílias abastadas da Bahia, mas eram pessoas capacitadas que vieram agregar novos valores à política, à economia, à cultura da Bahia. Hoje se discute muito no Brasil como os arranjos políticos e eleitorais estão influenciando na qualidade das administrações.
Freqüentemente estamos assistindo, em diversos níveis de governo, à luta de partidos por indicações políticas para cargos importantes sem a menor preocupação com a qualificação dos pretendentes. Muitos problemas, inclusive de natureza ética, se originam dessas práticas. Nada de errado com a presença dos partidos nos governos que ajudaram a eleger, entretanto há limites que não devem ser transpostos.
Antonio Carlos, mesmo conhecendo a importância de prestigiar os partidos e seus políticos – e isso o ajudou a ter tantas vitórias – nunca deixou que essas relações influenciassem negativamente no perfil das administrações. Acho importante sublinhar esse aspecto, pois como a figura política era sempre a que sobressaía, muitos, principalmente fora do estado, não têm idéia dos seus cuidados na escolha dos que iriam participar com ele do governo.
ACM tinha a medida justa daqueles cargos que deveriam ser preservados, dos que constituíam o coração de um governo e que nem ele mesmo, com toda força de sua liderança, tinha o direito de errar voluntariamente, por exemplo, para privilegiar um amigo. Não foram poucas as vezes que o ouvi dizer que o secretário da Fazenda não deveria ser uma pessoa da intimidade do Governador. E as razões parecem óbvias. Se eventualmente tivesse que nomear alguém como secretário, cujas limitações antecipadamente ele conhecia, sabia onde fazê-lo – sempre num lugar onde era possível neutralizar as deficiências do indicado.
Ao contrário do que muitos pensam, ele gostava de reunir aqueles membros de destaque de sua equipe para trocar opiniões sobre muitos assuntos do governo. Sua personalidade forte e, por que não reconhecer, um temperamento impositivo não impediam que visse vencida a sua opinião, como, por exemplo, foi o caso da mudança do traçado original da Linha Verde, que ele imaginou inicialmente mais próxima ao litoral. ACM soube ousar na renovação de quadros administrativos e políticos como poucos políticos de sua geração souberam fazer.
Usou com toda intensidade que a sua liderança proporcionava a sua força política para eleger para a Câmara Federal, prefeituras e governo do estado técnicos que participaram das administrações e que constituíram um forte fator de diferenciação da política baiana. E nisso reside também o segredo de outra qualidade pouco lembrada de quantos analisam sua trajetória. ACM, mesmo sendo um político de uma geração dos chamados “coronéis”, foi capaz de viver um processo de constantes transformações, evoluindo o seu pensamento original em muitas questões nas quais muitas outras lideranças permaneceram estacionárias. Quando o conheci, ele era um político que acreditava no poder ilimitado do Estado, tão estatizante quanto muitos dos seus adversários da esquerda radical.
Acompanhou, entretanto, as mudanças políticas e evoluiu com os movimentos liberais, assimilando bem o processo das grandes mudanças no papel do Estado. Enfim esteve sempre atento e aberto às novas idéias. Hoje, quando assistimos à Bahia perder tantas oportunidades para continuar sua trajetória de modernização e crescimento, é que entendemos melhor a verdadeira obsessão de ACM pelo fortalecimento do poder político do Estado, arma que usou com toda veemência para defender os interesses da Bahia.
Paulo Souto, ex-governador da Bahia, é presidente do DEM
Fonte: Correio ds Bahia

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