Ariel Palacios
BUENOS AIRES - O Senado argentino votará na quarta-feira o polêmico projeto de lei da presidente Cristina Kirchner que determina aumentos para os impostos aplicados às exportações agrícolas. O tema causa um conflito de mais de 120 dias entre o governo e o setor ruralista. As incertezas sobre o eventual resultado - já que nem o governo ou a oposição contam com respectivas garantias de vitória - estão elevando a tensão política dia após dia.
O clima ficou mais tenso neste fim de semana, após senadores opositores denunciaram que o governo está subornando parlamentares em troca de seus votos para garantir a vitória no Senado e, assim, evitar uma derrota que debilitaria a presidente Cristina.
Segundo os opositores, as modalidades vão desde a oferta de vagas em embaixadas, fundos especiais para as províncias dos parlamentares e cargos no Poder Executivo. "Há um plano de troca de favores no Senado", acusou a senadora María Eugenia Estenssoro, da Coalizão Cívica. O senador e ex-presidente Adolfo Rodríguez Sáa, de um setor dissidente do governista Partido Justicialista (Peronista), comparou a votação de quarta-feira com outra ocorrida no ano 2000, a da lei trabalhista do governo de Fernando De la Rúa.
Na ocasião, uma dúzia de senadores votaram a favor em troca de dinheiro, permitindo a aprovação da impopular lei. Cristina contaria com 35 senadores garantidos, enquanto a oposição teria 30. Existem sete senadores indecisos, decisivos para definir o impasse.
Antes
Na votação anterior, na Câmara de Deputados, segundo investigações da imprensa, o governo conseguiu - na última hora - votos favoráveis por intermédio da troca de favores como fundos especiais para províncias, cargos, promessa de dinheiro para a campanha eleitoral parlamentar do ano que vem e até pressões pessoais ou aos cônjuges.
Deputados que haviam declarado total oposição ao projeto da presidente, na hora de votar, favoreceram inesperadamente o governo. Três desses deputados saíram correndo do plenário depois de votar.
No total, segundo estimativas da revista "Notícias", o governo destinou US$ 650 milhões em fundos federais para as províncias para "convencer" os deputados a votar a seu favor. Na Câmara, o governo obteve vitória apertada, com 129 votos a favor e 122 contra. Uma pesquisa realizada pela revista indicou que 80% dos argentinos acreditam que o governo pagou os parlamentares para aprovar o projeto da presidente.
A tensão cresce também entre Cristina e o vice-presidente, Julio Cobos, que está publicamente contra o projeto do governo. Cobos, um ex-aliado, é também o presidente do Senado, posição na qual - em caso de empate na votação do projeto - poderia definir o impasse com seu voto. Neste caso, a expectativa é que seu voto de Minerva favoreceria os ruralistas.
Tanto os ruralistas como kirchneristas acusam-se mutuamente de ameaças anônimas de morte e agressões às suas residências. Um dos líderes ruralistas, Eduardo Buzzi, da Federação Agrária, sustentou que recebeu ameaças de morte.
Do lado do governo, deputados de diversas províncias agrícolas reclamam de protestos realizados por furiosos ruralistas na frente de suas casas depois que votaram a favor do projeto da presidente, há duas semanas.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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