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sexta-feira, maio 16, 2008

O tigre virou gatinho

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Cinco anos, quatro meses e quinze dias depois, qual o perfil ideológico do governo Lula? Conservador, dirão todos. Diferente daquele do dia da posse, ainda que nos idos de janeiro de 2003 pudessem ser identificados conservadores como Henrique Meirelles, no Banco Central, Guido Mantega, no Planejamento, Roberto Rodrigues, na Agricultura, Luiz Furlan, no Desenvolvimento Industrial, Márcio Thomaz Bastos, na Justiça, e Anderson Adauto, nos Transportes. Sem falar nos que, da esquerda, pularam para o extremo oposto, como Antônio Palocci, na Fazenda, e José Dirceu, na Casa Civil.
Mesmo assim, a queda para a direita mostrou-se inexorável, com as demissões ao longo do tempo de Nilmário Miranda, nos Direitos Humanos, Waldir Pires, na Defesa, Álvaro Ribeiro da Costa, na Advocacia Geral da União, Emília Fernandes, nos Direitos da Mulher, Benedita da Silva, na Ação Social, Ricardo Berzoini, no Trabalho, Cristóvan Buarque, na Educação, Roberto Amaral, na Ciência e Tecnologia, Agnelo Queiroz, nos Esportes, entre outros, culminando agora com a saída de Marina Silva, do Meio Ambiente.
Hoje, com a permanência de Henrique Meirelles no Banco Central, o deslocamento de Guido Mantega para a Fazenda, mais a inclusão de Paulo Bernardo no Planejamento, Miguel Jorge no Desenvolvimento Industrial, Reinhold Stephanes na Agricultura, Edison Lobão nas Minas e Energia, Geddel Vieira Lima na Integração Nacional, José Gomes Temporão na Saúde, Fernando Haddad na Educação, assiste-se a um festival conservador para ninguém botar defeito. Sem falar em novas transformações, como de Dilma Rousseff mudando das Minas e Energia para a Casa Civil e da esquerda para a direita, além da presença de Mangabeira Unger no Ministério do Futuro, e Nelson Jobim, na Defesa.
O presidente sempre poderá repetir Tancredo Neves, que quando reclamaram pela economia de mineiros em seu ministério, respondeu que Minas tinha o presidente da República. Dirá o Lula que a esquerda tem o presidente da República, mas será verdade? Afinal, mesmo sem perceber, transmudou-se. Chefia uma equipe de direita. Deixou-se envolver ao máximo pelas políticas conservadoras. Para justificar suas origens, restam-lhe poucas cartas no baralho das ideologias. Quem sabe Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e do Bolsa-Família, e mais um ou outro.
A festa na comunidade neoliberal nacional e estrangeira é completa. O tigre que tanto assustou banqueiros, especuladores e empresários acabou virando gatinho. Sequer escapou a Amazônia, agora entregue a um cidadão que pode estar pensando no futuro, mas no futuro de sua outra nacionalidade, como se constata até pelo seu sotaque.
O arrependimento de Marina Silva deve ser grande, ao perceber que poderia ter reagido muitos anos atrás, pedindo para sair antes de engolir pelo menos a lei de Gestão de Florestas.
A marcha da corrupção
Difícil, mesmo, está sendo encontrar na mídia outros temas que não envolvam corrupção. Dos ainda inconclusos capítulos do mensalão e seus 40 ladrões ainda sendo processados, não punidos, dos sanguessugas das ambulâncias aos dólares da cueca, entre dezenas de outros escândalos passados, agora mergulhou o País na Operação Navalha, história da quadrilha que fraudava licitações e desviava dinheiro de obras públicas, atingindo pelo menos 61 suspeitos, entre ex-ministros, ex-governadores, governadores, parlamentares e altos empresários.
O Ministério Público acusa um ex-governador, antes ícone do PT, de peculato por pagamento de propinas e desvio de 30 milhões dos cofres públicos. Um deputado, misto de presidente de grande central sindical, está sendo denunciado pela Operação Santa Teresa, responsável por apurar pagamento de propinas em troca de empréstimos do BNDES a prefeituras diversas. Um ex-presidente do Senado, hoje deputado, tem seus bens bloqueados por desvio de dinheiro da extinta Sudam. O líder do PMDB no Senado é suspeito de receber propina de uma multinacional com sede em Paris.
Enquanto isso continua a acusação pelo uso indevido de cartões corporativos nos governos Fernando Henrique e Lula. Numa palavra, a corrupção é geral. Infelizmente, a impunidade também, porque até hoje nenhum desses ladravazes foi parar na cadeia.
Batata quente
Decidiu o Supremo Tribunal Federal ampliar sua visão a respeito da demarcação de terras na reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. É possível, até, que o ministro-relator do processo visite a região, ouvindo representantes das partes em conflito, que não são apenas duas, mas muitas. Não só índios e arrozeiros se defrontam, porque participam o governo do estado, múltiplas ONGs, a Igreja, o Ministério Público e outras.
É louvável a cautela da mais alta corte nacional de justiça, que dificilmente decidirá a questão neste primeiro semestre.
O tempo talvez surja como a melhor solução para conciliar interesses em jogo, mas, nesse caso, precisará o governo desenvolver o maior empenho para a preservação da ordem na reserva. Um entrevero que aconteça com risco de vida para qualquer dos participantes entornará o caldo. É nessa hora que se torna necessário dar mais atenção às necessidades do Exército, a única instituição capaz de evitar o pior.
Dará certo para Requião?
Autor de uma das frases mais polêmicas da semana, "o Paraná é o Brasil que deu certo", hesita o governador Roberto Requião em desencadear desde logo o movimento que poderá fixar no PMDB sua candidatura presidencial. O primeiro obstáculo muda de região e de paisagem, localizando-se em Minas. Caso Aécio Neves decida trocar o PSDB pelo PMDB, será diante da garantia de sair candidato à presidência da República.
O governador mineiro não saltará no escuro, sem pára-quedas. Da mesma forma o governador do Paraná, ainda que consciente de ser o único nome, hoje, nos atuais quadros do partido, em condições de disputar a sucessão do presidente Lula. O problema é que a antecipação de sua campanha poderia precipitar a iniciativa de Aécio, para um lado ou para outro.
No reverso da medalha, porém, o PMDB não pode perder tempo. Apesar de todo mundo acentuar que é cedo, que muita água passará sob a ponte, dois candidatos já se encontram definidos: José Serra, pelo PSDB, e Dilma Rousseff, pelo PT. Sempre haverá a hipótese de um inusitado terceiro candidato que, se aceitar, estará passando o apagador no quadro-negro: o próprio Lula. Nesse caso, nem Serra, nem Dilma, nem Requião, nem Aécio. Nenhum deles admitirá sequer disputar uma corrida com o vencedor já definido.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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