Artigo publicado na Tribuna da Bahia em 21/12/17
Um réquiem para João de Melo Cruz
A contrapartida negativa da vida dos grandes vultos consiste na dor de perdê-los. Afere-se o valor de uma biografia pela qualidade dos que a pranteiam. Também por esse diapasão sabe-se que João de Melo Cruz foi um grande homem. Essa é a percepção geral dos que lotaram o auditório do espaço de cremação do cemitério Jardim da saudade, no último sábado, no ato final de suas exéquias ao nos deixar aos 79 anos, depois de longa enfermidade derivada da combinação perversa entre o álcool e o tabagismo.
Os diversos oradores que se sucederam no púlpito - o filho primogênito e advogado João de Melo Cruz Filho, o Janjão, o compositor Waltinho Queiroz, o vereador Pedro Godinho e o colega de turma, jornalista Isidro Otávio do Amaral Duarte-, expressaram, com propriedade, o sentimento de perda dos presentes, bem como do amplíssimo universo dos que acompanharam sua brilhante trajetória, ao longo de 54 anos de vida dedicada à defesa dos que não podem pagar um advogado. Embora o legendário Cosme de Farias, morto aos 97 anos, seja o campeão nacional no tempo que dedicou à defesa de réus carentes, João de Melo Cruz é, sem dúvida, o líder absoluto no número de júris de que participou, com dedicação e esmero que lhe granjearam o respeito e afeto do mundo jurídico, desde que assumiu a primeira vaga de defensor público, criada na Bahia, em 1964.
Neste breve depoimento, queremos registrar um pouco de nossa longa e frutuosa convivência.
Partilhamos momentos de grande significado em nossas vidas, tais como: juntos, prestamos serviço militar, através do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), na arma de Infantaria; estreamos em letra de forma na mesma edição da Revista de Infantaria, em 1959, ele com um ensaio sociológico sobre Karl Mannheim e eu com um conto; cursamos juntos a Faculdade de Direito da UFBA; em 1959, viemos de jeep de São Paulo a Salvador, em estrada de barro, sem parar para dormir; participamos da inauguração de Brasília; fizemos juntos, com estudantes de diversas unidades da Federação, em 1962, a primeira viagem aos Estados Unidos, quando nos reunimos, dentre outras pessoas, com David Rockfeller, então presidente do Chase Manhattan Bank; Henry Kissinger, Secretário de Defesa dos Estados Unidos; Ted Kennedy, concorrendo ao Senado, pela primeira vez; Bob Kennedy, Procurador Geral de Justiça e, na companhia do embaixador brasileiro Roberto Campos e do embaixador americano, no Brasil, Lincoln Gordon, estivemos com o Presidente John Kennedy que seria assassinado no ano seguinte. Esse encontro com John Kennedy está registrado no livro de memórias de Kissinger, My Years in the White House. Em 1963, ano da formatura, realizamos memorável excursão pela Europa, acompanhados dos colegas João Carlos Vieira da Silva Telles, Benedito Ribeiro dos Passos, Raymundo Antônio Carneiro Pinto, Carlos Elísio de Souza Libório, Deoclides Barreto de Araujo e o saudoso Cleomar Silva, aluno laureado de nossa turma que teve como paraninfo o talentoso Mestre Raul Affonso Nogueira Chaves.
Num momento de acentuado declínio na qualidade do ensino superior brasileiro, convém lembrar que a nossa Faculdade de Direito, fundada em 1891, reuniu, quando a cursamos, a mais qualificada plêiade de professores com que uma escola de Direito contou, no tempo e no espaço, em nosso País, a exemplo de Augusto Alexandre Machado, Nelson de Souza Sampaio, Nestor Duarte, Antônio Luís Machado Neto, Adalício Nogueira, Aliomar Baleeiro, Silvio Santos Faria, Raul Chaves, Aloísio de Carvalho Filho, Adhemar Raimundo da Silva, Edson O´Dwyer, Pedro Manso Cabral, Milton Tavares, Almir Tourinho, Orlando Gomes, Jaime Junqueira Ayres, Adherbal da Cunha Gonçalves, Evandro Balthasar da Silveira, Gilberto Valente, Décio Seabra, Calmon de Passos, José Martins Catharino, Elson Gottschalk, Lafayette Pondé, Lafayette Spínola, Luís Vianna, Filho e Neto, José Lima, Maria Tereza, Estácio de Lima e o inditoso Auto José de Castro, vítima de chocante parricídio, em 2002.
Dotado de natural altivez e independência de espírito – é rico o anedotário construído sobre suas tiradas-, João de Melo Cruz foi também um grande construtor de afeições, nos diferentes campos em que militou, além da advocacia, como no magistério superior, na política e no esporte, como o Aranha Negra, guarda-valas do time de futebol que integramos na disputa de campeonatos no Clube Baiano de Tênis. É verdade que, como goleiro, JMC fazia a tristeza e alegria dos adversários, ao mesclar defesas monumentais com frangos homéricos.
João de Melo Cruz deixou quatro filhos: João de Melo Cruz Filho e Maria Thereza, do casamento com Ana Maria Gordilho; Frederico Daniel, fruto da união com Maria das Graças Geisendorfer e a caçula, Juliana, com Márcia Delitsch, e os netos Clara e Pedro, filhos de Maria Thereza, Valentina, filha de João, e Maria Luísa, filha de Frederico.
Um dos presentes nas pompas fúnebres observou, com humor, que a ala do auditório destinada à família do morto contava, majoritariamente, com belas mulheres, de diferentes gerações, reunindo filhas, netas e ex-companheiras, - em civilizada convivência-, do exuberante e fraterno amigo que nos deixou tomados de inefável e irresignável saudade.
Os diversos oradores que se sucederam no púlpito - o filho primogênito e advogado João de Melo Cruz Filho, o Janjão, o compositor Waltinho Queiroz, o vereador Pedro Godinho e o colega de turma, jornalista Isidro Otávio do Amaral Duarte-, expressaram, com propriedade, o sentimento de perda dos presentes, bem como do amplíssimo universo dos que acompanharam sua brilhante trajetória, ao longo de 54 anos de vida dedicada à defesa dos que não podem pagar um advogado. Embora o legendário Cosme de Farias, morto aos 97 anos, seja o campeão nacional no tempo que dedicou à defesa de réus carentes, João de Melo Cruz é, sem dúvida, o líder absoluto no número de júris de que participou, com dedicação e esmero que lhe granjearam o respeito e afeto do mundo jurídico, desde que assumiu a primeira vaga de defensor público, criada na Bahia, em 1964.
Neste breve depoimento, queremos registrar um pouco de nossa longa e frutuosa convivência.
Partilhamos momentos de grande significado em nossas vidas, tais como: juntos, prestamos serviço militar, através do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), na arma de Infantaria; estreamos em letra de forma na mesma edição da Revista de Infantaria, em 1959, ele com um ensaio sociológico sobre Karl Mannheim e eu com um conto; cursamos juntos a Faculdade de Direito da UFBA; em 1959, viemos de jeep de São Paulo a Salvador, em estrada de barro, sem parar para dormir; participamos da inauguração de Brasília; fizemos juntos, com estudantes de diversas unidades da Federação, em 1962, a primeira viagem aos Estados Unidos, quando nos reunimos, dentre outras pessoas, com David Rockfeller, então presidente do Chase Manhattan Bank; Henry Kissinger, Secretário de Defesa dos Estados Unidos; Ted Kennedy, concorrendo ao Senado, pela primeira vez; Bob Kennedy, Procurador Geral de Justiça e, na companhia do embaixador brasileiro Roberto Campos e do embaixador americano, no Brasil, Lincoln Gordon, estivemos com o Presidente John Kennedy que seria assassinado no ano seguinte. Esse encontro com John Kennedy está registrado no livro de memórias de Kissinger, My Years in the White House. Em 1963, ano da formatura, realizamos memorável excursão pela Europa, acompanhados dos colegas João Carlos Vieira da Silva Telles, Benedito Ribeiro dos Passos, Raymundo Antônio Carneiro Pinto, Carlos Elísio de Souza Libório, Deoclides Barreto de Araujo e o saudoso Cleomar Silva, aluno laureado de nossa turma que teve como paraninfo o talentoso Mestre Raul Affonso Nogueira Chaves.
Num momento de acentuado declínio na qualidade do ensino superior brasileiro, convém lembrar que a nossa Faculdade de Direito, fundada em 1891, reuniu, quando a cursamos, a mais qualificada plêiade de professores com que uma escola de Direito contou, no tempo e no espaço, em nosso País, a exemplo de Augusto Alexandre Machado, Nelson de Souza Sampaio, Nestor Duarte, Antônio Luís Machado Neto, Adalício Nogueira, Aliomar Baleeiro, Silvio Santos Faria, Raul Chaves, Aloísio de Carvalho Filho, Adhemar Raimundo da Silva, Edson O´Dwyer, Pedro Manso Cabral, Milton Tavares, Almir Tourinho, Orlando Gomes, Jaime Junqueira Ayres, Adherbal da Cunha Gonçalves, Evandro Balthasar da Silveira, Gilberto Valente, Décio Seabra, Calmon de Passos, José Martins Catharino, Elson Gottschalk, Lafayette Pondé, Lafayette Spínola, Luís Vianna, Filho e Neto, José Lima, Maria Tereza, Estácio de Lima e o inditoso Auto José de Castro, vítima de chocante parricídio, em 2002.
Dotado de natural altivez e independência de espírito – é rico o anedotário construído sobre suas tiradas-, João de Melo Cruz foi também um grande construtor de afeições, nos diferentes campos em que militou, além da advocacia, como no magistério superior, na política e no esporte, como o Aranha Negra, guarda-valas do time de futebol que integramos na disputa de campeonatos no Clube Baiano de Tênis. É verdade que, como goleiro, JMC fazia a tristeza e alegria dos adversários, ao mesclar defesas monumentais com frangos homéricos.
João de Melo Cruz deixou quatro filhos: João de Melo Cruz Filho e Maria Thereza, do casamento com Ana Maria Gordilho; Frederico Daniel, fruto da união com Maria das Graças Geisendorfer e a caçula, Juliana, com Márcia Delitsch, e os netos Clara e Pedro, filhos de Maria Thereza, Valentina, filha de João, e Maria Luísa, filha de Frederico.
Um dos presentes nas pompas fúnebres observou, com humor, que a ala do auditório destinada à família do morto contava, majoritariamente, com belas mulheres, de diferentes gerações, reunindo filhas, netas e ex-companheiras, - em civilizada convivência-, do exuberante e fraterno amigo que nos deixou tomados de inefável e irresignável saudade.
Joaci Góes