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segunda-feira, março 07, 2022

Estilhaços globais do colapso russo




Por Míriam Leitão (foto)

A economia russa caiu num precipício e puxa as outras economias. A globalização atou tanto milhões de fios entre os países que o terremoto que atinge uma nação é sentido por todas as outras. A ideia de que o Brasil não seria afetado pela proibição de venda de fertilizantes não faz sentido. A Rússia não conseguirá vender porque a seguradora não fará o seguro que é obrigatório em qualquer carga. Metade do gás neon do mundo é fabricado pela Ucrânia e o produto é insumo para chips e semicondutores, e isso afeta a indústria de automóveis. Os choques se espalham assim, pelos elos que se formaram em anos de cooperação.

É da natureza da economia atual que nenhum país produza tudo. Mesmo uma economia com barreiras ao comércio internacional, como a nossa, depende de inúmeros insumos, produtos e mercados para continuar funcionando. Dois erros comuns dos governantes em qualquer crise é achar que é possível se blindar contra o problema ou, pior, que será beneficiado por ser um porto seguro a 10 mil quilômetros da guerra. Não existe longe. Foi assim nos colapsos cambiais dos anos 1990, foi assim na quebra do Lehman Brothers, é assim em qualquer evento extremo.

A guerra de Putin gerou uma crise geopolítica, financeira, econômica, comercial, militar e humanitária. O mundo assiste, com pouca capacidade de reação, uma nação ser esmagada por uma potência militar, lutar uma luta perdida e desesperada pela autodeterminação. É dramático, é repulsivo, é desumano. Ao lado da dor de ver um país se esvaindo, o mundo teve que viver momentos de terror com o ataque à Zaporíjia, maior usina nuclear da Europa. Um Exército que é instruído a atacar uma usina atômica é terrorista. A palavra usada pelo presidente Volodymyr Zelensky é a única possível.

Escrevi aqui há cinco dias que o bombardeio econômico que atingiu a Rússia a levaria de volta à crise de 1998. Em relatório na sexta-feira, o JP Morgan disse que pode ser até pior do que o colapso do rublo de 1998, na esteira das crises cambiais de uma sequência de moedas. O banco disse que a recessão será de 7%, a Bloomberg Economics aposta em 9%. A verdade é que não se pode estimar porque tudo dependerá da duração da guerra e das sanções. Não há mais cenário bom para a Rússia, mas isso afetará também todas as outras economias. O primeiro choque atinge a Europa.

As sanções tinham que ser decretadas, dado que não se pode dar uma resposta militar a uma potência com 6.000 ogivas nucleares, um governante sem limites, num país em que a sociedade foi amordaçada. Mas ao congelar as reservas internacionais russas, os países ocidentais instalaram uma crise imediata de liquidez no país, que rapidamente afundou a sua economia. Tudo se agravou na avalanche de empresas que decretaram o fim das atividades na Rússia ou negócios com suas empresas. A Rússia foi sendo desligada do mundo. Nada disso se faz sem espalhar estilhaços por todas as economias.

Ao fim desta semana trágica, 70% do seu petróleo estava sem comprador, apesar de os russos estarem oferecendo o produto com desconto. A comercializadora não comprava, o banco não financiava, a transportadora se negava a transportar. Toda carga precisa de seguro. Então, mesmo que a Rússia queira vender fertilizantes, o Brasil precise comprar, e haja quem transporte, os operadores não conseguem fechar o contrato com a seguradora.

— Ficou muito arriscado, o delta de risco da Rússia subiu exponencialmente para a seguradora. O navio pode ficar retido — explicou um especialista.

Claro que o Brasil pode correr atrás do Canadá, Marrocos, Irã, China, mas todos os outros países estão fazendo o mesmo. Há vários gargalos se formando. O mundo já vivia um choque de energia, agora vive o segundo antes de resolver o primeiro. As cotações de petróleo, gás, carvão explodiram nos últimos dias. Até o carvão. O ataque à usina nuclear tornou concreto um perigo que parecia apenas um cenário de terror. A usina atômica pode virar uma arma contra a própria população em caso de agressão externa.

Nos últimos dez dias o mundo teve que pensar no impensável e viver o indescritível. Pesadelos que pareciam ter ficado no passado ou pertencer aos filmes e livros de ficção amanheceram na nossa porta. Ainda não sabemos como sair do tormento de Vladimir Putin criou para todos nós.

O Globo

A ação possível - Editorial

 




Imperfeitas, sanções são melhor arma contra Putin; alternativa seria a 3ª Guerra

Em pouco mais de uma semana desde que decidiu unilateralmente invadir a Ucrânia de forma brutal, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não obteve ainda uma vitória militar decisiva contra o vizinho.

O russo logrou, contudo, um feito talvez tão ou mais impressionante do que a eventual queda de Kiev: ele viu seu país ser desligado do sistema internacional, setor por setor, gerando um isolamento nunca antes visto na globalização.

Mesmo as sanções que punem o Irã há anos, devido a suas ambições nucleares, nunca chegaram perto da ação contra a agressão russa. Trata-se, pelo valor de face, de uma demonstração saudável de que talvez não haja mais espaço no mundo para tal tipo de comportamento sem consequências duras.

Mas a questão tem mais nuances do que os clarões das bombas permitem ver neste momento.

Primeiro, há uma série de impactos secundários das medidas que já ameaçam afetar a economia mundial, da qual a Rússia constituía uma peça importante da engrenagem por seu peso no mercado energético e de alimentos.

A flutuação dos preços futuros nesses setores, com a inevitável inflação que será exacerbada pelos temores, é só um primeiro sinal. O exame de restrições de fato ao fluxo de hidrocarbonetos russos pelos Estados Unidos prenuncia um terremoto em potencial.

Há considerações éticas. O mundo ocidental vive uma onda de cancelamentos de tudo o que for russo, inclusive de pessoas que vivem há anos longe do reino de Putin.

É errado punir artistas exclusivamente por sua nacionalidade, da mesma forma como seria absurdo banir autores clássicos como Fiódor Dostoiévski, para ficar em apenas um nome.

Para além da discussão sobre se houve exageros, há limites práticos para o efeito das sanções. Até aqui, não impediram o derramamento de sangue nem sinalizam qual possa ser o desfecho da guerra.

Isso dito, são o instrumento possível de uso pelo Ocidente no momento, combinado com um apoio cada vez mais intenso aos ucranianos na forma de envio de armas.

A ideia de os Estados Unidos (e seus aliados europeus) instalarem uma zona de exclusão aérea em território com predomínio russo, como desejava o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, implicaria nada menos do que empurrar o mundo para uma Terceira Guerra. Talvez do tipo nuclear, como Putin sempre lembra.

O russo parece ter entendido o jogo, embora no mesmo dia tenha sugerido que mais restrições poderiam equivaler a uma escalada de conflito. Por ora, resta ao Ocidente esperar os efeitos de suas medidas.

Folha de São Paulo

Nomes aos bois

 




Aos fatos: guerra é guerra, condenação é condenação e Bolsonaro não é neutro

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Na Rússia, o autocrata Vladimir Putin impõe ao povo russo que guerra não é guerra, invasão não é invasão, só há uma “operação militar especial”. Quem fala o contrário fica sujeito a prisão de 15 anos, o principal jornal de oposição foi fechado, a imprensa está censurada, há restrições ao Facebook e ao Twitter e crianças são bombardeadas com fake news.

Na ONU, Conselho de Segurança, Assembleia-Geral, assembleias emergenciais e Conselho de Direitos Humanos votam pela condenação da Rússia na guerra, mas condenação não é condenação. O texto da Assembleia-Geral não “condena”, só “deplora” a ação russa.

No Brasil, a posição do Itamaraty é a mesma desde a nota no dia da invasão e em todas as manifestações na ONU, pedindo “cessar-fogo” e “suspensão imediata das hostilidades”. Não fala em guerra, como quer a Rússia, nem em condenação, como definiram os conchavos na ONU. Aqui, guerra é “hostilidade”.

Esses contorcionismos verbais mostram o peso das palavras nas relações internacionais e a força da comunicação dos poderosos para moldar a realidade, distorcer fatos e manipular corações e mentes nos próprios países e no mundo.

Se belicamente a Ucrânia não chega aos pés da Rússia, que tem bomba atômica e é a segunda maior potência militar, o presidente Volodmir Zelensky vence na comunicação. Despojado, coloquial, ele massifica a percepção de “vítima”, “bem contra o mal”, “fraco e forte”, “rico e pobre”. De outro lado, um Putin frio, ameaçador.

Aqui no Brasil, a comunicação é confusa, desencontrada, a partir dos termos do presidente Jair Bolsonaro: “solidariedade” à Rússia, “neutralidade” e “parceria” com Putin. Na primeira versão, a simpatia com o vilão da história era por causa dos fertilizantes, agora é pela defesa de Putin à soberania do Brasil na Amazônia, amanhã, sabe-se lá qual será a justificativa, enquanto a diplomacia contém danos e mantém a racionalidade.

Essa ambiguidade remete à ida de Bolsonaro a Moscou, às vésperas da guerra lá e da eleição cá, levando não os ministros da Economia e da Agricultura, mas o especialista em fake news Carlos Bolsonaro e oito oficiais da mais alta patente. O que essa constelação de estrelas queria com Putin, estrategista de guerras e fake news em eleições alheias?

Mais um segredo que governo e Forças Armadas vão trancar por cem anos, enquanto proliferam suposições, nenhuma boa para Bolsonaro. Assim como guerra não é guerra e condenação não é condenação, fertilizante também não é fertilizante e Amazônia não é Amazônia. São disfarces, dissimulações, para esconder a verdade do mundo e do povo brasileiro. 

O Estado de São Paulo

Blinken diz que novas exigências russas sobre acordo nuclear com Irã são 'irrelevantes'




O secretário de Estado americano, Antony Blinken, descartou neste domingo (6) como "irrelevantes" as exigências russas de garantias de que novas sanções ligadas à Ucrânia não afetariam os direitos de Moscou, em meio à reformulação do acordo nuclear com o Irã.

As sanções à Rússia pela invasão da Ucrânia "não têm nada a ver com o acordo nuclear com o Irã", disse Blinken ao programa da CBS "Face the Nation". As sanções "simplesmente não estão ligadas de forma alguma, então acho que isso é irrelevante", completou.

Com partes do acordo com o Irã - que os Estados Unidos abandonaram em 2018 - agora aparentemente perto de um novo acordo, Blinken rejeitou novas demandas russas cogitadas pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, no sábado.

Blinken considerou que não era apenas do interesse dos Estados Unidos, mas também da Rússia, que o Irã não fosse capaz de "ter uma arma nuclear ou a capacidade de produzir uma em muito, muito pouco tempo".

-"abordagem pragmática"-

As últimas exigências russas ocorrem em meio à crise decorrente da invasão da Ucrânia, ameaçando as esperanças de que um acordo com o Irã seja alcançado rapidamente.

O Irã e o órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas anunciaram no sábado que concordaram com uma reaproximação para resolver questões cruciais para reviver o acordo de 2015 com as potências mundiais.

Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou em Viena que, embora a agência das Nações Unidas e o Irã ainda tenham "um número importante de questões" para resolver, "decidiram tentar uma abordagem pragmática" para superar as dificuldades.

No entanto, acrescentou Rossi, não há "prazo artificial".

Autoridades dos EUA e do Reino Unido sinalizaram no final da semana que as negociações em Viena estavam perto de um possível acordo, alertando que algumas questões ainda precisam ser resolvidas.

Mas Lavrov, o chanceler da Rússia, enfatizou no sábado que Moscou foi alvo de severas sanções por sua invasão da Ucrânia e precisava de garantias escritas antes de apoiar um novo acordo nuclear.

Nesse sentido, Lavrov solicitou que as sanções relacionadas à Ucrânia "não afetem de forma alguma nossos direitos para o desenvolvimento livre e completo do comércio, investimento e cooperação econômica, técnica e militar com o Irã".

A Rússia faz parte das negociações em Viena, juntamente com o Reino Unido, China, França e Alemanha. Os Estados Unidos participam indiretamente.

Espera-se que Moscou desempenhe um papel importante na implementação de um novo acordo com o Irã, por exemplo, recebendo carregamentos de urânio enriquecido iraniano.

-Posição "muito prejudicial"-

O acordo buscava impedir que Teerã desenvolvesse uma arma nuclear, algo que o país sempre negou ter como objetivo.

O Irã disse nesta semana que está pronto para aumentar rapidamente suas exportações de petróleo para os níveis pré-sanção assim que o acordo for assinado.

Fayaz Zahed, analista de relações internacionais iranianas, disse que o governo precisa ter muito cuidado com a possível mudança de interesses de Moscou.

"Agora que a Rússia está sob sanções, talvez não esteja mais interessada em resolver a questão nuclear iraniana, uma posição que pode ser muito prejudicial", disse o especialista.

Os próximos dias são fundamentais devido à velocidade com que o Irã está avançando em questões nucleares.

Seu estoque de urânio enriquecido é agora cerca de 15 vezes o limite estabelecido no acordo de 2015, segundo dados divulgados pela AIEA esta semana.

AFP / Estado de Minas

Dinamarca vai realizar referendo para aderir a política de defesa da UE




Mette Frederiksen

O Governo dinamarquês quer, perante as tensões com a Rússia, aderir à política de defesa comum da União Europeia (UE) e vai realizar um referendo nacional nesse sentido a 1 de junho.

"Esperamos que todos os dinamarqueses apoiem" o levantamento desta derrogação, que mantém historicamente o país escandinavo - membro da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte) - à margem da política da UE em matéria militar, segundo afirmou Mette Frederiksen.

"Tempos históricos exigem decisões históricas", disse a primeira-ministra numa conferência de imprensa, para justificar o abandono desta "opt out" (decisão de ficar de fora), em vigor há quase 30 anos.

Este referendo decorrerá no âmbito de um acordo alcançado, este domingo, com a maioria dos partidos com assento parlamentar, que prevê igualmente um forte aumento do orçamento da Defesa nos próximos anos, para atingir o objetivo da NATO de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2033, anunciou a chefe do executivo dinamarquês.

Para já, o Governo decidiu atribuir mais sete mil milhões de coroas (cerca de 940 milhões de euros) ao orçamento da Defesa nos próximos dois anos.

Em consequência da instabilidade geopolítica causada pela invasão russa da Ucrânia, Copenhaga pretende também "tornar-se independente do gás russo o mais rapidamente possível", afirmou a dirigente.

O próximo referendo será o nono em que os eleitores do reino escandinavo se pronunciarão sobre questões europeias desde a sua adesão à UE, em 1972.

Após a rejeição por referendo do Tratado de Maastricht, em junho de 1992, a Dinamarca conseguiu derrogações em várias áreas de soberania, a começar pela moeda única, mas também nas questões de Justiça e policiais, bem como na Defesa.

As derrogações obtidas permitiram ao Governo realizar um novo referendo sobre Maastricht um ano depois, no qual os dinamarqueses disseram '"sim". E agora, elas devem ser eliminadas por referendo também.

Em dezembro de 2015, os dinamarqueses rejeitaram em referendo um reforço da sua cooperação com a UE em matéria de polícias e de segurança, com receio de perderem a soberania em matéria de imigração.

Jornal de Notícias (PT)

Sanções descabidas




Por Merval Pereira (foto)

Não apenas as sanções econômicas, instrumentos eficazes e necessários, atingem a Rússia, mas também as culturais, importante “soft power” do país. Essas, descabidas.  A Rússia trata muito bem seus escritores, pelo menos os mortos. Dostoiévski, Gorky, Tolstói, Tchekhov, Gogol, e, sobretudo, Alexandre Pushkin, poeta considerado o precursor da moderna novela russa, são figuras que dominam as ruas e praças das principais cidades da Rússia, especialmente Moscou e São Petersburgo, terra de Putin. Os locais onde moraram tornaram-se quase todos museus. Mas o mundo está tratando os escritores e artistas russos, do século XIX e os atuais, de uma maneira insana, como se a invasão da Ucrânia transformasse todo artista russo, vivo ou morto, em inimigo da Humanidade, e não seu patrimônio.

As famosas “noites brancas”, que dão o título e a ambientação de um romance de Dostoiévski, tornam o meio do ano em atração turística a mais em regiões do hemisfério norte, momento em que o sol está mais próximo da Terra. Em São Petersburgo, a casa de Dostoiévski é outra atração muito visitada, mas, no momento, um dos maiores escritores russos está sendo “cancelado” em diversos pontos do planeta.

Como noticiam as agências internacionais, na Itália, a Universidade de Milão-Bicocca tentou cancelar um curso sobre sua obra, mas teve que recuar. Em Gênova, foi desmarcado um festival de música e literatura russas dedicado a Dostoiévski, por ter o patrocínio do consulado da Rússia. Uma estátua do autor de “Crime e Castigo” quase foi derrubada em Florença, mas o prefeito resistiu, alegando que apagar séculos da cultura russa não deteria a escalada de Putin.

Mas Dario Nardella fez um comentário que mostra bem que mesmo quem está do lado certo comete equívocos nessa guerra de desinformação. Disse ele: "Parece que chegamos a um nível de histeria contra cidadãos russos que não têm nenhuma culpa de ter nascido na Rússia." Melhor diria que não têm nenhuma culpa de terem Putin como presidente. Ao contrário, terem nascido na Rússia é parte intrínseca do mérito de suas obras.

A estratégia de Putin de levar novamente a Rússia ao protagonismo internacional, explícita em um discurso de 2005, quando se referiu ao fim da União Soviética, em 1991, como “a maior catástrofe geopolítica do século XX”, está indo por água abaixo. O historiador russo Dmitri Trenin, do Carnegie Moscow Center, em palestra no Cebri anos atrás, já dizia que a maior área geográfica do planeta se sentia  traída pela União Européia, que atraiu seus ex-satélites.

Para ele, a ambição original pós-comunismo era uma integração com União Européia, desde a reunificação da Alemanha em 1990. O único pleito russo, feito pelo então Ministro das Relações Exteriores da Rússia Eduard Shevardnadze a Helmut Kohl, chanceler da Alemanha, foi não ampliar o Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O compromisso foi rompido no governo de George W. Bush, e a OTAN cresceu muito. Foram-se os tempos em que Bush e Putin dançavam ao som de músicas típicas russas, conforme um vídeo que corre pela internet.

No entanto, ao invadir a Ucrânia, como bem lembrou o ex-chanceler brasileiro Celso Lafer na Globonews, a Rússia rompeu o Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança, acordo político cujos signatários originais foram a Rússia, os Estados Unidos e o Reino Unido, em dezembro de 1994. Mais tarde China e França aderiram ao tratado. Na anexação da Crimeia em 2014, os Estados Unidos já advertira a Russia de que aquele tratado estava sendo rompido.  

O acordo dava à Ucrânia garantias para que assinasse o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, inclusive contra “ameaças ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia”, assim como as da Bielorrússia e do Cazaquistão. Os dois últimos hoje são governados por aliados de Putin. Em contrapartida, a Ucrânia cedeu o terceiro maior arsenal de armas nucleares do mundo entre 1994 e 1996.

O Globo

Radioatividade, o grande perigo invisível




Após ataques russos a usinas nucleares na Ucrânia, aumenta o medo de uma alta exposição à radiação. Entretanto, tomar comprimidos de iodo como medida preventiva é inútil e perigoso.

Por Gudrun Heise

Quando ocorre um acidente em uma usina nuclear, como por danos extensos ou destruição do reator, um dos primeiros elementos que escapa é o iodo radioativo. Esse iodo radioativo pode então irradiar e destruir células da tireoide ou provocar câncer.

A radioatividade entra no corpo através da inalação ou é absorvida através da pele. Câncer de tireoide, tumores, leucemia aguda, doenças oculares, distúrbios psicológicos e até mesmo danos à composição genética são apenas algumas das piores consequências à saúde que a alta exposição à radiação pode causar em humanos. Se o corpo for exposto a uma grande dose de radiação em um tempo muito curto, isso leva à morte em poucas horas ou dias. 

Qual é a utilidade da administração de iodo? 

Se forem administrados comprimidos de iodo, esse iodo também se acumula na glândula tireoide, mas uma dose elevada de iodo impede que o iodo perigoso e contaminado se instale nas células do corpo.

Nosso corpo fica praticamente inundado com a substância. Ou seja, se tivermos "iodo bom" suficiente, não há mais espaço para o "mau iodo radioativo" na glândula tireoide. Como ele não pode se acumular ali, é excretado através dos rins.

'Nosso corpo não produz iodo. Temos que ingeri-lo por meio dos alimentos'.

Nosso corpo não produz iodo. Temos que ingeri-lo para que nossa tireoide produza hormônios que controlam muitas das funções de nosso corpo, até mesmo o desenvolvimento de nosso cérebro.

Entretanto, é inútil tomar comprimidos de iodo como medida preventiva contra acidentes nucleares, pois a glândula tireoide só armazena iodo por um certo período de tempo. Tomar doses elevadas de iodo desnecessariamente pode até mesmo ser perigoso, já que muitas pessoas já sofrem de hipertireoidismo. Ninguém deve tomar esses comprimidos sem necessidade.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha (BMU), tomar comprimidos de iodo pode ser útil em caso de acidentes nucleares a até uma distância de cem quilômetros. Mas é importante fazê-lo no momento certo. Diz-se que o bloqueio de iodo é mais forte quando os comprimidos são tomados pouco antes ou durante o contato com o iodo radioativo.

Césio e estrôncio

O câncer de tireoide é uma das doenças que ocorrem quando há um acidente em uma usina nuclear e há evasão de radioatividade. Os isótopos radioativos de iodo 131 e iodo 133 são responsáveis pelo câncer de tireoide, por exemplo. Eles são emitidos especialmente nos primeiros dias de radiação. 

Outros componentes perigosos das emissões radioativas são os radionucleídeos estrôncio 90 e césio 137. Eles se depositam no tecido ósseo, o que também leva a um aumento do risco de câncer. O corpo confunde essas substâncias com o cálcio e incorpora as substâncias perigosas nos processos fisiológicos do tecido muscular e ósseo. A medula óssea é responsável pela produção de novas células sanguíneas, e esse processo pode ficar fora de controle devido à radiação ionizante. A consequência pode ser leucemia.

Danos ao genoma

A radioatividade também pode causar danos extensos ao genoma, como ocorreu depois que as bombas atômicas foram lançadas sobre as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, no final da Segunda Guerra Mundial. As crianças nasceram com deformidades terríveis. 

E mesmo com um desastre como o ocorrido na usina nuclear ucraniana de Chernobyl, em abril de 1986, os efeitos tardios são inconfundíveis. Vinte anos após o acidente, a taxa de câncer aumentou em 40% na maioria das regiões afetadas. E, de acordo com estimativas, somente na Rússia morreram 25 mil pessoas que trabalharam na limpeza do reator. 

Quase nenhuma opção de tratamento

Não há praticamente nenhum remédio ou tratamento contra os efeitos da radioatividade. O fator decisivo é se trata-se de contaminação ou incorporação.

Em caso de contaminação, substâncias radioativas são depositadas na superfície do corpo. Parece banal, mas nesses casos se tenta lavar estas substâncias com água normal e espuma de sabão. A incorporação, por outro lado, é muito mais arriscada, pois as substâncias perigosas entram diretamente no corpo e é muito difícil eliminá-las. 

Intensidade e tempo de exposição são decisivos 

A radioatividade é medida em milisieverts. A exposição a 250 milisieverts ou 0,25 sievert durante um curto período de tempo pode causar doenças. De acordo com o Escritório Federal da Alemanha de Proteção contra Radiação, a exposição média no meio ambiente é de cerca de 2,1 milisieverts. Esse valor se refere a um ano.

Com 4000 milisievert ou 4 sievert, começa a chamada exposição aguda à radiação. A mortalidade aumenta enormemente. A partir de 6 sieverts, a pessoa afetada não tem nenhuma chance, pois essa exposição leva diretamente à morte. 

Deutsche Welle

Alemanha recebe refugiados da Ucrânia de toda nacionalidade




Ministra alemã do Interior, Nancy Faeser: "Queremos salvar vidas, isso não depende do passaporte"

Com mais de 1,5 milhão em fuga da invasão russa, ministra alemã do Interior quer "salvar vidas, isso não depende do passaporte". Estação de trens de Berlim é prova viva da onda de solidariedade aos refugiados da Ucrânia.

A Alemanha receberá todos que estejam fugindo da guerra na Ucrânia, não importa sua nacionalidade, declarou a ministra do Interior Nancy Faeser ao semanário Bild am Sonntag: "Queremos salvar vidas, isso não depende do passaporte." Segundo ela, o presente esforço europeu conjunto para acolhimento dos refugiados seria "histórico".

A declaração da política social-democrata chega entre relatos, inclusive das Nações Unidas, de que indivíduos não brancos teriam sofrido tratamento racista e xenófobo nas fronteiras, ao tentar escapar do conflito armado iniciado pela Rússia. Mas Berlim quer mudar essa narrativa, a começar por sua estação ferroviária central.

Lá, milhares de refugiados da invasão na Ucrânia estão sendo recebidos por voluntários e cidadãos anônimos, recebendo ajuda, alojamento, bens essenciais e algum conforto. Eles chegam aos milhares, a cada dia, muitos trazendo pouco mais de uma mochila, levando crianças pela mão ou no colo.

Comum a todos é o cansaço acumulado de muitas horas de viagem e de incertezas sobre o presente e o futuro. A sua espera estão centenas de voluntários, muitos dos quais ainda trazem a crise migratória de 2015 bem presente na memória.

A dedicação dos voluntários

Logo na fachada, a estação no centro berlinense ostenta as cores da bandeira ucraniana, cartazes e símbolos pintados de azul e amarelo indicam o caminho para o piso inferior. Uma parte do edifício foi transformada e adaptada à chegada dos refugiados procedentes da Polônia.

É o caso de Natalia, que traz a filha pela mão – seu marido, irmão e pai ficaram para trás, para combater pelo país. A família é de perto de Radekhiv, entre as cidades de Lutsk e Lviv, ela trabalha numa escola. Ela fez uma pausa em Varsóvia, onde ficou com um familiar, e neste domingo (06/03) vai seguir com sua criança para o sul da Alemanha, onde uns amigos as hospedarão.

"Estou cansada até para falar. Tento não chorar mais, para não preocupar a minha filha, mas sinto uma tristeza muito grande, não dá para explicar. Tenho sorte, porque conheço algumas pessoas, mas só penso em voltar para a minha casa", conta Natalia.

De colete amarelo fluorescente, Tatijana, de origem russa, vem oferecer ajuda. É seu primeiro dia como voluntária na estação de trens da capital alemã. Ela conta que hoje tantos se ofereceram a ajudar, que muitos tiveram de voltar para casa.

"Eu não podia ficar simplesmente sentada em casa sem fazer nada. Não conseguia. Estou ajudando porque falo a língua. Quando chegam, tento perceber do que precisam e encaminhá-los para o melhor local", relata à agência de notícias Lusa.

'Cansaço extremo une os refugiados que chegam de trem a Berlim'

População oferece alojamento em Berlim

No interior do edifício da central ferroviárias estão bem definidas as várias ajudas disponíveis para os que chegam. Há um ponto para carregar os telefones celulares, outro com bebidas quentes e alimentos, uma zona com roupa em cabides e calçados alinhados no chão, outra com mantas e agasalhos.

Com tantas crianças entre os refugiados, uma grande torre com fraldas também se destaca, em outra área de apoio. Ainda dentro da estação, há voluntários ajudando com o idioma e centenas de cidadãos comuns pé, num corredor, com cartazes feitos à mão oferecendo alojamento.

"Três a quatro camas na nossa casa para uma família pequena com duas crianças e uma mulher, por vários meses ", lê-se num cartão. Muitos dos que oferecem casa não falam russo nem ucraniano, mas acreditam em outras formas de comunicação.

'Trabalho dos voluntários já começa à saída dos trens'

Entre os que disponibilizam alojamento, está Aleksei, de Omsk, uma das maiores cidades da Sibéria. Vivendo sozinho em Berlim, ele registrou seu apartamento numa plataforma de alojamento temporário para os refugiados ucranianos, e oferece um sofá-cama para um ou dois viajantes, por várias semanas.

"Não sei como é que a guerra vai terminar. Ficou claro que o plano de [presidente russo Vladimir] Putin falhou e que está indo na direção errada. Eles esperavam uma 'vitória-relâmpago' ou uma 'operação especial', como dizem os jornais russos. Em vez disso, receberam uma resposta firme do povo ucraniano", reforça o voluntário.

Sua mãe é de Donetsk, na província de Donbass, no leste ucraniano, desde 2014 cenário dos choques entre as tropas de Kiev e forças separatistas pró-russas. "De uma coisa estou certo: esta guerra vai deixar muita gente necessitada de ajuda. Seja quem foge da Ucrânia, seja quem teve de ficar", lamenta Aleksei.

Desde que, na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou sua ofensiva militar contra três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeios em várias cidades, as autoridades de Kiev já contabilizaram mais de 2 mil civis mortos, incluindo crianças.

"É só o começo, o número de refugiados vai aumentar"

As horas vão passando na estação central de Berlim, e mais um trem da Polônia está para chegar. Por um alto-falante improvisado, uma das voluntárias vai dando orientações aos colegas. Todo mundo que chega deve ser ajudado, sem ter que apresentar passaporte, independente da nacionalidade, sexo, cor ou idade.

Ao fim de mais um dia, ouvem-se palmas e o suspiro de alívio dos que estão ali há horas tentando ajudar. "É só o começo, o número dos refugiados deve continuar a aumentar", assegura Tatijana, tendo concluído o primeiro dia da sua missão como voluntária.

A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula em mais de 1,5 milhão o atual total de refugiados ucranianos na Polônia, Hungria, Moldávia, Romênia e outros países. Só na Alemanha, eles já ultrapassariam os 30 mil, segundo os cálculos oficiais.

Em 3 de março, a União Europeia aprovou a concessão de Proteção Temporária para os refugiados, que poderão permanecer nos países do bloco por até três anos sem ter que solicitar formalmente asilo. Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) trata-se da crise migratória de crescimento mais rápido na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial.

Deutsche Welle

Guerra na Ucrânia: a fuga desesperada de famílias em meio a bombardeio russo




Imagens de Irpin, a 20 km de Kiev, mostraram civis, entre eles famílias inteiras tentando desesperadamente escapar em meio a um bombardeio em curso no domingo.

Os moradores da cidade, que tinha 60 mil habitantes antes do começo da guerra, estão fugindo em massa desde que os ataques russos começaram.

A artilharia e os ataques aéreos causaram graves danos à cidade.

Os bombardeios russos atingiram áreas residenciais. Nas fotos, é possível ver casas em chamas.

As pessoas abandonaram suas casas apenas com a roupa do corpo e alguns itens que conseguiram carregar em bolsas, mochilas e sacolas.

Irpin se viu na linha de frente entre as forças russas e ucranianas na última semana.

A cidade está sendo atacada por terra e ar, porque está no caminho das tropas russas que tentam avançar rumo à capital Kiev.

Três civis teriam sido mortos ao serem atingidos por um morteiro enquanto tentavam fugir da cidade.

O registro feito por um fotógrafo para o jornal americano The New York Times mostra três membros de uma família de quatro pessoas - uma mãe e dois filhos - mortos na calçada, enquanto soldados ucranianos tentam salvar a vida do pai ferido.

Não publicamos a imagem aqui, porque ela é chocante.

Pessoas foram vistas se abaixando no chão para se proteger enquanto a cidade, nos arredores de Kiev, era atacada novamente.

A rota é difícil, com muitos tendo que viajar a pé por estradas bombardeadas e pontes danificadas.

A fuga de Irpin é especialmente arriscada porque a ponte na estrada perto da cidade foi destruída para impedir o avanço dos tanques russos, e as pessoas precisam o rio por baixo da ponte - que corre o risco de despencar a qualquer momento.

As forças russas estão disparando morteiros contra uma ponte já desmoronada que está sendo usada para evacuar civis, incluindo crianças.

A Ucrânia acusou as forças russas de atacar deliberadamente as rotas de evacuação de Irpin, depois que uma ferrovia foi atingida e danificada no sábado.

BBC Brasil

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