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domingo, janeiro 02, 2022

Os desafios da Alemanha na presidência do G7

 




A gama de temas da presidência alemã do G7 é ditada pela situação da política mundial. A pandemia e negociações com Rússia e China não deverão faltar.

Por Sabine Kinkartz

O logotipo já foi apresentado antes do Natal pelo porta-voz do governo Steffen Hebestreit. Ele exibiu um cartaz azul no qual um G e um 7 brancos se encaixam de tal forma que se fundem graficamente para formar um G. "G7 Germany 2022" está escrito por baixo, nada mais. "Esta concentração no essencial representa o programa de trabalho focalizado a que nos propusemos para esta presidência", disse Hebestreit.

O Grupo dos 7 é formado por Estados Unidos, Canadá, Japão, França, Reino Unido, Itália e Alemanha. Quando foi fundado nos anos 1970, eram as sete nações industrializadas mais fortes do mundo e a economia era o tema dominante. Hoje, o "Grupo dos Sete" se preocupa principalmente com grandes questões políticas que só podem ser tratadas de forma multilateral, ou seja, em conjunto.

A Alemanha assume do Reino Unido

Muito do que foi discutido e negociado sob a presidência britânica do G7 em 2021 terá que continuar em janeiro, que segundo o rodízio de nações na presidência será ocupada pela Alemanha. Acima de tudo, o tema predominante será a luta contra a pandemia do coronavírus, que está longe de ser dominada após dois anos. Os ministros da Saúde do G7 se reuniram pela última vez no final de novembro.

Na cúpula dos chefes de Estado e de governo do G7 em Londres, em junho, foi acordado distribuir 2,3 bilhões de doses de vacinas aos países em desenvolvimento até o final de 2022. A Alemanha é o segundo maior doador na aliança de vacinação Covax.

A política climática deve ser um tema central da presidência alemã do G7. A ministra alemã do exterior, Annalena Baerbock, do Partido Verde, não deixou dúvidas sobre isso na última reunião dos chefes da diplomacia do G7 em Liverpool. A crise climática tem implicações na área de paz e segurança, não apenas para os europeus, mas especialmente para os países emergentes e em desenvolvimento afetados.

"Podemos estar sob a ilusão de que o Ocidente é uma ilha, mas mesmo nesta ilha a água continuará a subir inexoravelmente se não agirmos agora", disse Baerbock. "Por isso que faremos do tratamento conjunto da crise climática um dos pontos centrais de nossa presidência do G7 no próximo ano", anunciou.

Aproximação com a China

Sem a China, entretanto, o G7 não será capaz de desacelerar o aquecimento global. "A China é um parceiro para nós, para o G7", enfatiza a ministra Baerbock, e isso não envolve apenas a questão climática. "Em muitas questões globais, as coisas só podem ser resolvidas em conjunto". Lidar com o regime autoritário de Pequim, porém, é controverso dentro do G7. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já pediu uma abordagem mais dura na cúpula do G7 em Londres.

A China é certamente um concorrente e "em muitos aspectos também um rival do sistema", diz Baerbock, mas, segundo ela, "a cooperação é a principal prioridade na diplomacia e na cooperação internacional, mas com base nos direitos humanos e nos tratados internacionais". Este "dilema da política externa" tem que ser resolvido, diz ela.

Esta é também a opinião do chanceler federal alemão, Olaf Scholz. "Temos que alinhar nossa política em relação a Pequim com a China que existe em termos reais", disse ele em sua primeira declaração do governo em meados de dezembro. A "situação crítica dos direitos humanos" e as "violações das normas universais" teriam de ser chamadas "pelos nomes". "Isto não muda o fato de que um país do tamanho da China e da sua história tem um lugar central no concerto internacional das nações".

Durante a presidência alemã do G7, ficará claro que o novo governo alemão quer moldar sua política externa muito mais do que antes em "diálogo construtivo". No formato G7, porém, isto não pode ser feito sem os EUA, como o chanceler federal bem sabe. Na competição global, os Estados Unidos são o "parceiro mais importante", salientou Scholz em sua declaração de governo.

O que Scholz espera de Biden

Biden é um parceiro do qual Scholz espera muito. "Estou unido ao presidente dos Estados Unidos na convicção de que as democracias liberais do mundo devem provar novamente que podem fornecer as melhores e mais justas respostas aos desafios do século 21", disse Scholz. Isto também se aplica à relação dos países entre si. O governo alemão sempre defenderá a cooperação multilateral e suas instituições, prometeu.

O mesmo ele vê em relação à Rússia. O G7 tem ameaçado "consequências maciças" no caso de um ataque à Ucrânia, ou seja, acima de tudo com sanções econômicas. "Qualquer violação da integridade territorial terá um preço elevado, e aqui falaremos a uma só voz com nossos parceiros europeus e nossos aliados transatlânticos", salientou Scholz no Bundestag, repetindo uma declaração feita por sua antecessora Angela Merkel.

Scholz, no entanto, ainda quer pressionar por negociações. Considerando sua história, a Alemanha deve estar "preparada para tentar mais e mais frequentemente chegar a um entendimento". A presidência do G7 é uma "grande tarefa internacional que devemos enfrentar imediatamente", anunciou também o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner, que será o anfitrião de uma reunião ministerial dos países do G7. O Ministério do Exterior e os Ministérios da Economia e da Saúde, entre outros, estão planejando o mesmo.

Cúpula nos Alpes da Baviera

O ponto alto da presidência alemã do G7 será o encontro de cúpula dos chefes de Estado e de governo de 26 a 28 de junho no castelo Elmau, nos Alpes da Baviera. A pequena cidade no distrito de Garmisch-Partenkirchen já sediou uma cúpula em 2015.

'Encontro de cúpula será em castelo na Baviera'

"Esta é, naturalmente, a confirmação de que funcionou bem da última vez e deixou impressões duradouras nos chefes de Estado e de governo", disse o prefeito, Thomas Schwarzenberger.

"É claro que também sabemos que haverá muito trabalho para nós, para a polícia, para os serviços de resgate e para todos os envolvidos. Os próximos seis meses serão muito cansativos e exigirão muito". O castelo Elmau atende a todos os requisitos logísticos e de segurança para uma cúpula do G7, de acordo com o governo alemão.

Custos de 166 milhões de euros

O hotel de luxo cinco estrelas com grandes suítes para os chefes de Estado e de governo está localizado em um vale numa floresta, em terreno de difícil acesso. Em 2015, as estradas ao redor foram modernizadas para veículos policiais, e foram construídos um aeródromo e um heliporto separados.

A secretaria do Interior da Baviera estima que a cúpula custe cerca de 166 milhões de euros. Quase 90% disso foi orçado para segurança, incluindo cercas com quilômetros de comprimento e alta segurança e sistemas de comunicação por satélite. Em 2015, 20 mil policiais de toda a Alemanha foram destacados para transformar o local da conferência em uma fortaleza. Não deverá ser menos desta vez. 

Deutsche Welle

O terceiro ano de Bolsonaro na imprensa alemã

 




Nos últimos 12 meses, imprensa alemã destacou ações golpistas do presidente, escândalos revelados pela CPI da Pandemia, destruição da Amazônia e como avanço da vacinação ocorreu no Brasil apesar de Bolsonaro.

Por Jean-Philip Struck

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Trump continua sendo exemplo para Bolsonaro" (13/01) – sobre Bolsonaro usar invasão do Capitólio como ameaça

É improvável que em algum outro país do mundo as imagens da invasão do Capitólio por seguidores de Trump tenha provocado medos concretos como no Brasil. Para quem nem viu motivo para preocupação, o próprio presidente Bolsonaro deu uma ajuda: numa conversa com seguidores em Brasília, ele profetizou que o Brasil poderia enfrentar uma turbulência ainda maior do que a dos EUA nas eleições de 2022.

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Onde o oxigênio é artigo de luxo" (17/01) – sobre a crise nos hospitais de Manaus

As cenas que se desenrolam na metrópole amazônica de Manaus são dramáticas. Hospitais sobrecarregados, caixões sendo carregados – e o preço do oxigênio disparando. O presidente Jair Bolsonaro não reconhece a gravidade da situação, algo que faz desde o início da pandemia. Ele repetidamente debocha das medidas recomendadas.

Frankfurter Rundschau: "Vacinação é encenada aos pés do Cristo" (19/01) – sobre o início da vacinação

A campanha de vacinação no Brasil é acompanhada por imagens elaboradas. No Rio de Janeiro a vacina foi levada de helicóptero para a famosa estátua do Cristo. As primeiras vacinas contra o coronavírus foram administradas no estado mais populoso, São Paulo, no domingo. Para o presidente Bolsonaro, que constantemente minimiza o perigo do vírus, tanto o início da campanha de vacinação quanto a aprovação da vacina chinesa Coronavac representam uma sensível derrota política.

Der Spiegel: "Sabotagem de cima" (23/01) – sobre a postura antivacinas de Bolsonaro

Enquanto a segunda onda do coronavírus varre o país com furor, Jair Bolsonaro fomenta dúvidas quanto às vacinações. Como salvar o Brasil de seu presidente? Ao longo de meses, Bolsonaro fizera de tudo para minar a confiança na "vacina chinesa de João Doria". Como combater uma pandemia, se o homem que deveria liderar essa luta é um adepto de teorias conspiratórias e não tem a menor intenção de lutar?

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "O presidente que não quer ser responsável" (05/02) – sobre a indiferença de Bolsonaro na crise de Manaus

Jair Bolsonaro dá repetidamente a impressão de ser bastante indiferente à pandemia e suas consequências. O governo não é responsável pelo transporte de oxigênio para Manaus, afirmou ele. A cidade na Amazônia luta contra uma situação caótica desde meados de janeiro. O fracasso das autoridades é evidente.

Süddeutsche Zeitung: "Bolsonaro faz a Bolsa entrar em queda livre" (22/02) – sobre o intervencionismo de Bolsonaro na Petrobras

A demissão do chefe da empresa petrolífera Petrobras deixou os investidores brasileiros nervosos. As ações da estatal mergulharam em queda de mais de 20%. Os investidores se perguntavam se Bolsonaro não iria se restringir a influenciar apenas as empresas estatais e aumentar os gastos do governo sem encarar as reformas necessárias. Eles duvidam agora da vontade do governo de defender uma economia de livre mercado.

Süddeutsche Zeitung: "Canhões carregados" (27/02) – sobre a flexibilização da posse de armas

Jair Bolsonaro está relaxando as leis de armas de seu país. O país latino-americano é um dos mais violentos do mundo. O que soa como uma contradição é para Bolsonaro apenas a continuação rigorosa do que ele vê como uma campanha lógica para armar a sociedade civil brasileira. Depois de abolir os impostos sobre importação, ele tomou outra medida: aumentou, por decreto, o número de armas que os cidadãos podem comprar.

Süddeutsche Zeitung: "De volta para o futuro" (10/03) – sobre a volta de Lula ao jogo eleitoral

No Brasil, a campanha presidencial pode ter começado na segunda-feira. Desde o início desta semana já parece claro para muitos quem são os maiores candidatos: Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Isso é possível graças à decisão de um juiz da Suprema Corte: na segunda-feira ele declarou inválidos todos os julgamentos por corrupção contra Lula.

Der Tagesspiegel: "Bolsonaro sabota luta contra o coronavírus" (10/03) – sobre o negacionismo de Bolsonaro

Na atual situação, imagina-se que o presidente do Brasil esteja fazendo tudo ao seu alcance para combater o vírus. Mas, na verdade, é o oposto. Desde o início da pandemia, Bolsonaro sabota os esforços dos governadores e prefeitos para conter o vírus. Semanalmente, Bolsonaro viaja pelo país e se aglomera com pessoas sem máscara. Parece que ele gosta de provocar. Além disso, ele está atrasando a campanha de vacinação.

Die Welt: "O potencial é inacreditável" (07/04) – sobre o papel de Bolsonaro nas crises sanitária e política

O Brasil está sendo abalado por dois graves terremotos ao mesmo tempo: uma enorme crise política no governo e um estado de emergência relacionado ao coronavírus. No centro de ambos está um presidente que não parece ser capaz de lidar com a situação há muito tempo.

Die Tageszeitung: "Os pulmões do mundo estão em chamas" (01/04) – sobre o desmatamento no Brasil

No Brasil, o desmatamento na Amazônia aumentou drasticamente sob o presidente populista de direita Jair Bolsonaro. Bolsonaro reduziu os fundos para programas de proteção ambiental e promoveu a abertura de áreas protegidas para a agricultura e mineração.

Der Tagesspiegel: "Quem responsabilizará o imprudente presidente do Brasil?" (12/04) – sobre Bolsonaro incentivar desmatamento e propagação do vírus

Bolsonaro inflama os "pulmões do mundo" e provoca o surgimento de supervariantes do coronavírus. O mundo deveria reagir. O vírus não conhece fronteiras e não tem nacionalidade ou passaporte. O que é negligenciado no Brasil tem repercussões globais, como já ocorreu com a imprudência de Bolsonaro em relação a incêndios na Floresta Amazônica. Sua destruição prejudica o clima do mundo, assim como a gestão ameaçadora do coronavírus pelo Brasil prejudica a saúde mundial.

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "A fúria dos brasileiros" (29/04) – sobre a abertura da CPI da Pandemia

Uma CPI pode se tornar um problema para Bolsonaro. A comissão investigará a forma como seu governo lidou com a pandemia, que até agora ceifou a vida de quase 400 mil pessoas no Brasil e mantém o país numa situação de estrangulamento. O inquérito analisará questões como: por que o governo promoveu tratamentos com medicamentos ineficazes, por que três ministros da Saúde foram destituídos durante a pandemia e como o sistema de saúde no Amazonas entrou em colapso.

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Protestos contra Bolsonaro" (31/05) – sobre as manifestações contra o governo

No Brasil, dezenas de milhares se manifestaram contra a política de combate ao coronavírus do presidente Bolsonaro. Em várias cidades, as pessoas saíram às ruas para protestar contra a forma como o presidente lida com a pandemia, bem como pedir uma campanha de vacinação mais eficiente e mais ajuda para os pobres. Foi a primeira grande manifestação de rua contra Bolsonaro durante a pandemia.

RedaktionsNetzwerk Deutschland: "Brasil está farto de Bolsonaro" (20/06) – sobre o papel de Bolsonaro na pandemia

Em poucos dias, o Brasil quebrará a barreira de 500 mil mortes por covid-19. No centro das críticas está o presidente populista de direita Jair Bolsonaro. A oposição o acusa de "genocídio" porque ele atrasou o fornecimento de vacinas e minimizou a doença desde o início. Mais recentemente, Bolsonaro foi criticado por levar a Copa América ao país.

Die Tageszeitung: "Um destruidor do meio ambiente a menos no cargo" (25/06) – sobre a saída de Ricardo Salles do governo

Ele agora é parte da história, disse o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. As calorosas palavras se referiam ao ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que pouco antes apresentara sua renúncia. Salles alegou motivos familiares para sua saída. Mas provável é ele ter se curvado à pressão crescente. O político de 46 anos é acusado de envolvimento numa rede de comércio ilegal de madeira.

Spiegel Online: "A máfia do governo" (03/07) – sobre as acusações de corrupção na compra de vacinas

Quando Jair Bolsonaro, que havia passado quase três décadas como um deputado discreto no Congresso, concorreu à presidência em 2018, ele se apresentou como um outsider que queria romper com os costumes da "velha política". Bolsonaro dizia querer limpar a corrupção de Brasília. Hoje, três anos depois, pouco restou dessa intenção. No Brasil, uma CPI está investigando alegações de corrupção na aquisição de vacinas. Várias testemunhas implicaram fortemente o presidente.

Spiegel Online: "Apoio ao presidente no chão" (13/07) – sobre a reprovação de Bolsonaro

As coisas não estão indo bem para Jair Bolsonaro. Há semanas milhares de pessoas têm se manifestado em todo o Brasil contra a desastrosa gestão da pandemia de seu governo, e mais recentemente o presidente se tornou alvo de investigadores de corrupção. Bolsonaro está sob pressão há algum tempo. Sua avaliação nas pesquisas continua a desmoronar, e a insatisfação com o chefe de Estado subiu acima de 50% pela primeira vez.

Die Zeit: "Desmatamento na Amazônia cresce mais de 50%" (20/07) – sobre a destruição da Amazônia

"Nos últimos 11 meses, a Amazônia brasileira perdeu 8.381 quilômetros quadrados de floresta. Isso é 51% a mais do que no mesmo período do ano passado. No governo Bolsonaro, as regras para a emissão de multas foram alteradas de tal forma que se tornou praticamente impossível multar alguém. Bolsonaro havia prometido isso na campanha eleitoral de 2018. Seus eleitores incluem agricultores que sempre reclamaram de regulamentações ambientais.

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Brasileiros confiam em vacinas. Sequer Bolsonaro pode mudar isso" (15/08) – sobre o comportamento antivacinas de Bolsonaro

Segundo uma pesquisa do Datafolha, 94% dos brasileiros pretendem se vacinar. Muitos países da Europa só poderiam sonhar com uma disposição para se vacinar tão alta. Mas o governo Bolsonaro não aproveitou isso. Primeiro, Bolsonaro fez pouco caso do vírus e, depois, das recomendações dos especialistas para conter a pandemia. E, quando as primeiras vacinas estavam prestes a serem aprovadas, Bolsonaro revelou-se uma pessoa contra vacinas.

Handelsblatt: "A perigosa derrocada dos países emergentes" (20/08) – sobre o desinteresse de Bolsonaro em governar

Pandemia fora de controle, economia estagnada, moeda em queda. E Jair Bolsonaro está fazendo nestes dias o que ele sempre fez, desde que se tornou presidente do Brasil: visita quartéis ou batalhões de polícia para distribuir medalhas. (...= E no fim de semana passado, reuniu 24 mil de seus apoiadores ao seu redor para iniciar um passeio de motocicleta no meio de um estado do sul com taxas recordes de infecção por coronavírus – sem máscara, é claro. E o que ainda acontecia no Brasil nesses dias: os bancos de investimento reduziram suas projeções de crescimento para o próximo ano para menos de 2%, um número fatal para um mercado emergente.

Süddeutsche Zeitung: "Uma lei como um machado" (25/08) – sobre a oposição de Bolsonaro à demarcação de terras indígenas

Bolsonaro planeja não dar mais nenhuma área protegida aos povos indígenas. Com isso, ele não ameaça apenas a eles, mas ao planeta. Um projeto de lei pode resultar na rejeição de dezenas de pedidos de demarcação de terra indígena. Tudo isso é uma notícia alarmante, não apenas para as comunidades tradicionais, mas para o mundo todo.

Handelsblatt: "O pesadelo brasileiro" (07/09) – sobre as ofensivas de Bolsonaro contra o sistema democrático

O presidente brasileiro não apenas encoraja seus apoiadores a protestar contra a Justiça. Ele também os conclama à violência. Ele se transformou no maior risco econômico para a principal economia da América Latina. Jair Bolsonaro nunca escondeu que gosta de passar dos limites - mesmo os da decência. Mas nos últimos tempos o presidente brasileiro ultrapassa a linha vermelha de tal maneira que mesmo parte de seus apoiadores vêm demonstrando preocupação.

Tagesschau: "Retórica de sobra" (08/09) – sobre as manifestações golpistas de 7 de Setembro

Dezenas de milhares atenderam à convocação do presidente Bolsonaro no dia da independência do Brasil. Eles esbravejaram contra todos os que investigam o presidente, mas o temido ataque ao Congresso não aconteceu.

Der Spiegel: "Refém do presidente" (11/09) – sobre a forma de Bolsonaro governar

Bolsonaro está enfraquecido, mas pode continuar causando grandes danos à democracia brasileira. Governar seriamente é algo que Bolsonaro quase não fez nos últimos anos – a menos que se considere suas representações no YouTube como uma arte de governar. E a partir de agora ele se dedicará apenas à campanha eleitoral. O Brasil tornou-se refém de um presidente que não tem nenhum plano além de acumular inimigos.

NTV.de: "O duelo Bolsonaro contra Lula pode ficar tenso" (02/10) – sobre o avanço de Lula nas pesquisas

Bolsonaro tem atualmente cinco adversários oficiais à presidência. Provavelmente, só Luiz Inácio Lula da Silva, que ocupou a presidência de 2003 a 2010 e se empenhou especialmente no combate à fome e à pobreza, pode ser realmente perigoso para ele. Uma média de 40% da população se diz a favor dele nas pesquisas. Na verdade, Bolsonaro provavelmente nunca teria chegado ao poder se Lula, que também era favorito, junto com ele, não tivesse sido excluído das eleições de 2018.

Rheinishe Post: Contra a parede (06/10) – sobre o golpismo do governo Bolsonaro

Crise do coronavírus, desemprego, isolamento: o presidente Bolsonaro está sob forte pressão num Brasil abalado pela crise. Agora, ele está mobilizando seus apoiadores, incitando contra as instituições e até flertando com um golpe.

Süddeutsche Zeitung: "1.200 páginas explosivas para Bolsonaro" (20/10) – sobre o relatório da CPI da Pandemia

Uma comissão parlamentar sobre a pandemia faz graves acusações contra o presidente brasileiro, chegou-se a se falar até em homicídio e genocídio, e agora, pelo menos, em crime contra a humanidade. A consequência mais séria do relatório é, portanto, o prejuízo à imagem: a popularidade de Bolsonaro vem caindo há meses, a economia está despencando, e a pobreza e o desemprego estão aumentando.

Süddeutsche Zeitung: "Outsider na terra dos antepassados" (1º/11) – sobre o isolamento internacional de Bolsonaro

Quase não se percebeu que Jair Bolsonaro também participou da cúpula do G20 em Roma. Se não fosse por uma curta sequência de vídeo gravada com telefone celular. Ele mostra um grupo ao redor do presidente brasileiro na Piazza Navona. De repente, há uma briga entre seus guarda-costas e jornalistas brasileiros. Foi o fim inglório de uma estadia notavelmente inglória. De todos os convidados ilustres da cúpula, Bolsonaro foi o único que não manteve conversas bilaterais com os colegas.

Süddeutsche Zeitung: "De criança problema a milagre da vacinação" (14/11) – sobre o avanço da vacinação

Durante meses, somente notícias sombrias sobre o coronavírus vinham do Brasil. Agora, há poucas mortes, e as restrições podem ser retiradas – e isso apesar da má gestão do presidente Bolsonaro. Estima-se que 46 milhões de pessoas vivem no estado de São Paulo, e mais de 90% de todos os habitantes com mais de 18 anos estão agora totalmente vacinados. Tudo isso é espantoso, ainda mais quando se considera que o governo federal costuma diminuir os perigos do vírus. E mais: até mesmo advertiu contra os supostos riscos das vacinas.

Focus: "Eleição no Brasil: permanência de Bolsonaro terá consequências fatais" (27/12) – sobre como uma mudança de governo pode impactar na Amazônia

A eleição presidencial de 2022 oferece ao Brasil a chance de mudar o rumo da política climática. O país abriga 60% da área da Floresta Amazônica, que historicamente foi um importante reservatório de CO2 no planeta. Sob a liderança do presidente populista Bolsonaro, as atuais regulamentações ambientais foram administradas de forma mais frouxa do que nunca. Os ativistas reclamam que a indiferença estatal encorajou madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e grileiros. Outro presidente reprimiria tais crimes. Um sucessor "mais verde” poderia convencer a Alemanha e a Noruega a liberarem o fundo da Amazônia, que os doadores congelaram em 2019. Um novo presidente também poderia falar com o presidente dos EUA, Joe Biden, que propôs um fundo de 20 bilhões de dólares para a Floresta Amazônica assim que o Brasil fizer progressos.

Deutsche Welle

Bolsonaro distorce dados em pronunciamento




Presidente manipulou informações para defender seu governo, se posicionou contra o passaporte vacinal, defendeu que crianças sejam imunizadas somente com prescrição médica e criticou governadores.

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta sexta-feira (31/12), o presidente Jair Bolsonaro distorceu dados para defender seu governo, voltou a se posicionar contra o passaporte vacinal, defendeu que crianças entre 5 e 11 anos devem se imunizar contra a covid-19 somente com prescrição médica e alfinetou governadores que optaram por decretar lockdown durante a pandemia.

"Não apoiamos o passaporte vacinal, nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar", disse. "Defendemos que as vacinas para as crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada", completou.

Muitos países já exigem a comprovação de vacinação para várias atividades públicas, inclusive a Alemanha, onde o acesso a lojas só é permitido com a comprovação de vacinação ou recuperação da doença, por exemplo.

Quanto à vacinação infantil contra o coronavírus, dezenas de países já começaram as campanhas, entre eles Estados Unidos, Israel e a União Europeia.

Durante a exibição do pronunciamento, foram registrados panelaços e gritos de "Fora Bolsonaro" em grandes cidades, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Balanço do governo e compra de vacinas

Na fala, Bolsonaro fez um balanço de seu governo, destacou a flexibilização do porte de armas e mencionou a distribuição de 380 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 neste ano "todas adquiridas pelo nosso governo", alfinetando governadores como o de São Paulo, João Doria, que, frente a letargia do governo na compra de imunizantes, decidiu investir na Coronavac. Posteriormente o governo federal iniciou a campanha nacional de vacinação com o imunizante chinês.

Na fala, Bolsonaro tentou justificar o atraso no começo da vacinação no Brasil alegando que não havia imunizante disponível para comercialização em 2020.

No entanto, o presidente ignorou no pronunciamento que já havia a oferta de vacinas no ano passado, inclusive com tentativas de negociação diretas com o Brasil, como revelou a CPI da Pandemia. Em 2020, o governo recusou ao menos cinco ofertas da Pfizer para a compra de vacinas, o que poderia ter agilizado o começo da imunização no Brasil e ter salvo milhares de vidas.

Três anos sem corrupção

Bolsonaro disse que completou três anos de governo "sem corrupção". No entanto, há várias investigações abertas contra membros de seu governo. 

Quando questionado por repórteres sobre casos de corrupção, o presidente costuma ser agressivo, irônico, não responder as perguntas ou abandonar entrevistas.

Entre os investigados estão o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa.

Além disso, a CPI da Pandemia revelou suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e suposto pedido de propina em uma negociação  para adquirir vacinas da AstraZeneca.

Auxílio para o enfrentamento da pandemia

O presidente destacou que o governo federal liberou "recursos bilionários para que estados e municípios se preparassem para enfrentar a pandemia" e, mais uma vez, criticou governadores e prefeitos por políticas de fechamento de comércio e restrição da circulação. 

"Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toque de recolher, a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e o BEm [Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda]", disse o presidente.

Auxílio emergencial

Bolsonaro destacou que o governo liberou bilhões de reais para que estados e municípios enfrentassem a pandemia e a criação de programas para a preservação de 11 milhões de empregos e o pagamento do auxílio emergencial a 68 milhões de pessoas.

No entanto, não mencionou que os programas foram aprovados pelo Congresso e nem que o valor do auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelos parlamentares foi muito maior do que o proposto pelo executivo, que era de apenas R$ 200.

Economia e infraestrutura

Bolsonaro afirmou que o ano de 2021 terminou com um saldo positivo de 3 milhões de novos empregos e 5 milhões de empresas abertas. "Interrompendo uma série de meia década com saldos negativos", comentou, ignorando, porém, que levantamento do IBGE divulgado nesta semana mostra que quase 13 milhões de brasileiros seguem desempregados.

O presidente destacou os avanços na infraestrutura e o término de obras, como a transposição do Rio São Francisco. Não citou, porém, que 90% das obras do São Franciso já haviam sido concluídas e até inauguradas em governos anteriores. 

"Levamos tranquilidade ao campo, flexibilizamos a posse e o porte de arma de fogo para o cidadão e passamos a investir no Brasil e não mais no exterior com obras milionárias financiadas pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]", completou, em uma clara alusão a investimentos feitos pelos governos petistas em outros países.

Enchentes na Bahia e em Minas

Criticado durante toda a semana por não interromper suas férias em Santa Catarina para gerenciar a calamidade provocada pelas chuvas na Bahia e no norte de Minas Gerais, o presidente afirmou que, desde o início das enchentes, determinou que o ministro da Cidadania, João Roma, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, prestassem apoio total aos moradores dos municípios atingidos.

Cenas de Bolsonaro andando de jet ski viralizaram essa semana, enquanto dezenas de cidades estavam debaixo da água, deixando dezenas de milhares de desabrigados, centenas de feridos e mais de 20 mortos.

Metas para 2022

Para 2022, o presidente disse que, na área de infraestrutura, já há mais de R$ 800 bilhões contratados pela iniciativa privada que devem garantir a geração de milhões de empregos. "Isso é uma prova de que conquistamos a confiança dos investidores, brasileiros e estrangeiros, o que possibilitará, também, a redução da inflação, consequência da equivocada política do ‘Fica em casa. A economia a gente vê depois", mais uma vez alfinetando os governadores que optaram pelo lockdown no ano passado.

Deutsche Welle

Que previsões se concretizaram após 20 anos de euro?




Desde 1º de janeiro de 2002, o euro é moeda corrente em vários países da União Europeia. Na época, muitas expectativas e também muitos temores foram associados à nova moeda. Checamos o que disso se tornou realidade.

Por Uta Steinwehr e Andreas Becker

Quando as rolhas de champanha voaram na virada do ano 2002, 12 países da União Europeia (UE) estavam prestes a perderem suas moedas nacionais. Os primeiros a adotarem o euro como moeda comum foram Alemanha, Bélgica, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Áustria, Portugal e Espanha. Hoje, são 19 nações, pois mais tarde seguiram-se Estônia, Letônia, Lituânia, Malta, Eslováquia, Eslovênia e Chipre.

O euro não era completamente novo naquela época, pois já estava sendo usado há três anos como chamado dinheiro contábil, por exemplo, para transferências bancárias ou no comércio internacional.

A moeda comum foi um grande passo para a UE, pois aproximou os seus membros. E foi também um grande saco de surpresas, porque ninguém podia prever com certeza o que aconteceria com a moeda única.

A DW analisou cinco previsões feitas por economistas, políticos e observadores no momento da mudança de moeda e, 20 anos depois, verificou se elas se tornaram realidade.

1 - O euro se tornará uma nova moeda de reserva

Verificação pela DW: correto

Uma moeda de reserva é uma moeda que é utilizada em grandes quantidades, por muitos governos e instituições. Em 1997, Fred Bergsten, então diretor do Instituto Peterson de Economia Internacional (PIIE), argumentou que o euro se tornaria "pelo menos a segunda moeda mais importante do mundo" e poria fim ao domínio exclusivo do dólar americano.

Não importa quais estatísticas ou indicadores você olhe, depois do dólar americano e do euro, não há nada por muito tempo.

Em termos de moeda de reserva, o dólar é o indiscutível número um: de acordo com estatísticas do Fundo Monetário Internacional, cerca de 59,2% de todas as reservas oficiais de moeda no segundo trimestre de 2021 foram de dólares americanos. O euro segue em segundo lugar, com 20,5%.

Já em termos de transações internacionais, as duas moedas estão no mesmo patamar, de acordo com os números da organização SWIFT, através de cujo computador são processadas quase todas as transferências globais. De acordo com estes números, em outubro de 2021, foram transferidos praticamente tantos dólares americanos (39,1%) quanto euros (38,1%). Um ano antes, o euro estava até mesmo um pouco à frente do dólar.

O dólar americano continua liderando como moeda de reserva global, mas o euro se estabeleceu como a segunda moeda mais importante.

2 - Mais cedo ou mais tarde, o Reino Unido adotará o euro

Verificação pela DW: errado

Bem, este provou ser provavelmente o maior erro de prognóstico. É verdade que o ceticismo em relação ao euro já era alto no Reino Unido nos 1990, mas também havia fortes apoiadores. Para o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, era do interesse de seu próprio país aderir à Zona do Euro. Muitos representantes do mundo dos negócios também acreditavam que o euro se tornaria uma moeda paralela que um dia poderia substituir a libra esterlina.

Originalmente, os próprios britânicos receberiam o direito de escolha, mas isso nunca aconteceu. Em vez disso, a história tomou um rumo muito diferente e o fatídico referendo sobre o Brexit em 2016 abriu caminho para o Reino Unido até mesmo deixar a UE.

3 - O euro não será tão forte quanto o marco alemão

Verificação pela DW: errado

Os alemães estavam orgulhosos de seu marco alemão, considerado uma moeda forte,  particularmente estável em valor durante um longo período de tempo. De acordo com uma pesquisa, antes da introdução do euro como dinheiro contábil, apenas um quarto dos alemães acreditava que o euro seria tão estável quanto o marco alemão.

Entretanto, o euro provou ser mais resistente do que o D-Mark. Desde 2002, a moeda comum tem perdido uma média de 1,6% de seu valor a cada ano. Para o marco alemão, a inflação no período igualmente longo desde 1982 tem sido de 2,4% ao ano. Assim, após 20 anos, o euro tem mais poder de compra do que a antiga moeda da Alemanha. .

É claro que tais comparações devem ser feitas com cautela, pois os períodos diferem historicamente. A inflação foi particularmente alta nos anos após a reunificação em 1990. Em contraste, a crise financeira e da dívida desde 2007 levou a taxas de inflação excepcionalmente baixas na Zona do Euro por um longo tempo − mas isso está apenas começando a mudar por causa da pandemia de coronavírus.

4 - Abandonar as moedas nacionais se tornaria um problema econômico para os países do sul da UE

Verificação pela DW: correto

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os países do sul da Europa têm se desenvolvido economicamente de forma menos dinâmica do que os do norte. Suas moedas também eram menos estáveis do que o marco alemão.

O poder econômico dos países que introduziram o euro como moeda corrente em 2002 cresceu quase 50% desde então. Isso é apenas cerca da metade do crescimento dos EUA. Na maioria dos países do sul europeu, entretanto, o crescimento tem sido muito mais fraco do que no norte. Isto pode ser constatado mesmo se excluindo Luxemburgo e Irlanda, onde o crescimento foi particularmente forte devido a empresas do setor financeiro e de tecnologia da informação.

Portugal e Itáliaestão particularmente atrasados. E a Grécia não teve quase nenhum crescimento em 20 anos.

A razão está na crise da dívida do euro há cerca de dez anos, como resultado da qual a economia em muitos países realmente encolheu. Foi um problema para países como a Grécia e a Itália não terem moeda própria, com a qual poderiam ter amortecido a crise com uma desvalorização, da mesma forma como fizeram várias vezes antes do euro.

Naquela época, se a dracma ou a lira perdessem valor em relação ao marco alemão, os produtos gregos e italianos se tornavam mais baratos no exterior e, portanto, mais atraentes. O mesmo se aplicava às férias, que lá se tornaram mais baratas para os turistas do exterior.

Com o euro, a possibilidade de desvalorização desapareceu e a crise atingiu as economias mais fracas duramente. Isto é demonstrado pelos ainda elevados números do desemprego.

5 - A Alemanha e outros países do norte da Europa têm que pagar as dívidas dos países economicamente mais fracos.

Verificação pela DW: correto, até certo ponto

Mesmo antes da introdução do euro, a maioria dos economistas já acreditava que a união monetária só poderia funcionar se seus membros administrassem suas economias de forma similar. Para garantir isso, existem critérios de convergência, também chamados Critérios de Maastricht. Eles estabelecem tetos, por exemplo, para o déficit orçamentário (3% do Produto Interno Bruto) e para o nível da dívida pública (60%). Um país deve cumpri-las antes de poder aderir à Zona do Euro.

Vinte anos depois, fica claro que quase todos os países violam as regras quando se trata de dívida e déficit. Mas para ser justo é preciso dizer que os custos do combate à pandemia são um fardo adicional no balanço patrimonial.

O medo da Alemanha e de outros países mais ricos sempre foi um dia ter que pagar pelos países economicamente mais fracos. Mas isso foi evitado mesmo durante a crise do euro. Os países em crise receberam garantias e empréstimos no valor de centenas de bilhões, alguns com vencimentos muito longos. Somente se estes explodissem é que os países doadores ficariam com o fardo. Até agora, no entanto, eles não sofreram nenhum dano, muito pelo contrário: só a Alemanha arrecadou quase três bilhões de euros em juros para o dinheiro emprestado à Grécia até 2018.

A pandemia provocou a reviravolta. Para financiar o fundo de reconstrução da UE, os países estão agora assumindo pela primeira vez uma dívida pela qual são corresponsáveis. Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais, dizem os apoiadores. Os críticos, por outro lado, lamentam o fim da responsabilidade de cada Estado e o início de uma união de dívidas.

Os críticos, por outro lado, lamentam o fim da responsabilidade de cada Estado e o início de uma "União de Dívidas".

Deutsche Welle

Putin e Biden alertam para "ruptura diplomática"




Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir em videoconferência nesta quinta-feira (30/12).

Líder russo diz que sanções do Ocidente em retaliação a suposta intervenção na Ucrânia poderão resultar em rompimento. Americano promete “resposta decisiva” no caso de uma ação militar de Moscou em solo ucraniano.

Putin alertou seu colega americano que possíveis sanções como punição pela interferência russa no território ucraniano poderão levar a uma ruptura dos laços diplomáticos entre Moscou e Washington.

Nos últimos meses, a Rússia deixou o Ocidente em alerta ao acumular dezenas de milhares de soldados próximo à sua fronteira com a Ucrânia. Moscou nega que tenha intenções de invadir o país vizinho e reafirmou o direito de posicionar suas tropas dentro de seu território.

Os Estados Unidos ameaçaram impor sanções devastadoras no caso de uma agressão militar russa à Ucrânia, algo que, segundo o assessor do Kremlin Yuri Ushakov foi repetido por Biden na conversa desta quinta-feira.

"Nosso presidente respondeu imediatamente que, se o Ocidente decidir, nas atuais ou em quaisquer outras circunstâncias, impor tais sanções sem precedentes, isso poderá levar a uma ruptura completa dos laços entre nossos países e causar graves danos às relações entre a Rússia e o Ocidente”, disse o assessor.

Segundo Ushakov, Putin disse que este seria "um equívoco que nossos descendentes iriam ver como um enorme erro”. Em meio a preocupações com ações ocidentais para fortalecer militarmente a defesa da Ucrânia, Moscou exige garantias de segurança quanto a uma possível expansão do poderio militar da Otan no Leste Europeu.

Biden promete "resposta decisiva”

Apesar da resposta de Putin em tom de ameaça, Ushakov disse que o líder russo ficou satisfeito com a conversa. Ele disse que Biden aparentou concordar com a necessidade de fornecer tais garantias a Moscou, e demonstrou seriedade em relação a futuras negociações no caso de as diferenças prevalecerem.

O assessor do Kremlin disse que a conversa criou uma atmosfera positiva antes das conversações entre a Rússia e os EUA marcadas para 9 e 10 de janeiro em Genebra e para o dia 12 em Bruxelas. Outra reunião, sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), ocorrerá em Viena, no dia 13 do mesmo mês.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que Biden reiterou que avanços substanciais nesses diálogos poderão ocorrer somente em um ambiente de redução das tensões, e não o contrário.

O líder americano "deixou claro que os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de maneira decisiva no caso de uma futura invasão da Ucrânia pela Rússia”, disse a porta-voz.

Assessores dos dois líderes descreveram como sério o tom da conversa, mas disseram que nenhum dos lados demonstrou progressos significativos rumo a uma solução.

As possíveis sanções incluiriam medidas que iriam desconectar efetivamente a Rússia do sistema econômico e financeiro global, além resultarem no reforço do poderio militar da Otan.

Crise na fronteira

Em 2014, a Rússia se aproveitou da instabilidade política na Ucrânia e anexou a Península da Crimeia, que era parte integral do território ucraniano. No mesmo ano, Moscou passou a apoiar grupos separatistas no Leste da Ucrânia, que ainda controlam grande parte da região.

Nos últimos meses, a Rússia vem realizando exercícios militares na fronteira com a Ucrânia, incluindo treinamentos de defesa contra ataques aéreos.

Segundo estimativas, entre 60 mil e 90 mil soldados russos estão estacionados há semanas na fronteira. Isso gerou temores de que a Moscou planeje um ataque ao país vizinho, algo que o Kremlin tem negado repetidamente.

A Rússia vem pressionando a Otan e o Ocidente com uma série de exigências, propondo um veto russo à admissão de futuros membros da Otan, em vista de uma possível entrada da Ucrânia na aliança militar.

Os Estados Unidos, entre outros, rejeitaram a proposta do Kremlin. Além disso, a Rússia pediu à Otan que retire seus batalhões multinacionais da Polônia e dos estados bálticos Estônia, Letônia e Lituânia.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Rússia tomaria as medidas "retaliatórias apropriadas" em resposta ao que chamou de "postura agressiva" do Ocidente.

Deutsche Welle

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