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domingo, dezembro 01, 2024

Pressionar Lula a anistiar Bolsonaro é erro gravíssimo dos militares


Os 41 anos da Lei de Anistia - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Humberto (Folha de Pernambuco)

Carlos Newton

Quem não conhece a política brasileira realmente deve ter ficado muito surpreendido com a notícia divulgada neste domingo no Estadão pela colunista Eliane Cantanhêde, sobre a reunião do presidente Lula da Silva com o ministro da Defesa, José Múcio, e os três comandantes militares – general Tomás Paiva (Exército), almirante Marcos Olsen (Marinha) e brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica).

Eles pediram essa reunião fora de agenda, no Palácio da Alvorada, e Lula aceitou recebê-los neste sábado a contragosto, pois queria descansar e assistir à decisão da Copa Libertadores da América.

NOS BASTIDORES – Até aí, nada de novo no front ocidental. Em política, muita coisa se resolve mesmo é nos bastidores, em conversas diretas, fora da agenda e sem maiores formalismos. O problema é que toda a imprensa noticiou que os chefes militares foram apenas pedir ao presidente que adiasse as mudanças pretendidas para corte de gastos nas Forças Armadas.

Somente a colunista Eliane Cantanhêde publicou versão diferente, anunciando no Estadão que os chefes militares fizeram um pedido adicional que nada tem de republicano, ao propor que Lula e os partidos da base aliada ajudem a aprovar a anistia aos golpistas, sob justificativa de “zerar o jogo” e “desanuviar o ambiente político”.

Em sendo assim, “cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”, como dizia Luiz de Camões em “Os Lusíadas”, porque agora a coisa muda completamente de figura.

PRESSÃO INDEVIDA – Fica claríssimo que os militares estão fazendo uma pressão indevida ao presidente da República, ao se intrometerem em questões institucionais da maior relevância, digamos assim, e que não lhes competem.

Com os generais Eduardo Villas Bôas e Augusto Heleno à frente, em 2018 as Forças Armadas cometeram um erro incomensurável ao apoiar e inflamar a candidatura de Jair Bolsonaro, mesmo sabendo se tratar de “um mau militar”, conforme disse o general Ernesto Geisel ao jornalista e historiador Elio Gaspari.

O fato é que Bolsonaro tentou usar as Forças Armadas e acabou sendo usado por elas, que elevaram soldos e gratificações, criaram penduricalhos, foram excluídas da reforma previdenciária e ainda ganharam cerca de 6 mil cargos para oficiais e suboficiais da reserva. Nada mal…

SEM COMENTÁRIOS – Na semana passada, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, disse que somente após o fim de todas as operações é que se manifestará sobre a ação da Polícia Federal que prendeu militares por participação na suposta trama golpista. “Isso nós vamos falar quando recebermos os inquéritos. Aí teremos uma informação mais oficial”, afirmou o general.

Aliás, é melhor mesmo que o comandante fique calado. Se abrir a boca, terá de mentir, porque a imensa maioria dos oficiais é antilulista e estava animadíssima com o golpe, caso houvesse alguma suspeita sobre as urnas ou a apuração. Como a fraude não foi constatada, tiveram de desistir da conspiração.

A jornalista Eliane Cantanhêde prestou um serviço à nação, ao relatar a pressão dos militares. Como quase todos estavam entusiasmados com a possibilidade de golpe, para se livrarem de Lula, o número de milicos envolvidos na verdade é muito maior.

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P.S. 1
 – O problema é aparecer outro militar cagão, tipo Mauro Cid, que também caia no choro e pretenda fazer delação premiada, entregando quem ainda está fora da formação.

P.S. 2 – Daqui para a frente, o principal tema político será a anistia, que o próprio Bolsonaro já pediu semana passada, em seu primeiro pronunciamento após ser oficialmente indiciado junto com 25 dos militares. Logo voltaremos ao assunto, é claro. (C.N.)


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