Publicado em 25 de janeiro de 2024 por Tribuna da Internet
Luiz Henrique Gomes
Estadão
Segundo analistas, o massacre dos civis israelenses pelo grupo terrorista Hamas fez Israel repensar toda política de segurança implementada por anos com relação à Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Essa estratégia consistiu em abandonar esforços para a convivência pacífica com palestinos, construir muros e aumentar a tecnologia de defesa para repelir os ataques de outro lado. No dia 7, a política se mostrou falha de um modo traumático para Israel, no pior episódio contra judeus desde o Holocausto.
À frente de Israel por mais tempo do que qualquer outro primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu é visto internamente como o responsável pela política que vigorava e, portanto, o principal culpado por suas falhas. Menos de um mês após o ataque do Hamas, no auge da união de israelenses para agir contra o grupo terrorista, uma pesquisa conduzida pela Universidade israelense de Bar-Ilan indicou que apenas 4% dos civis tinham confiança no premiê para gerir o país na guerra.
DESCONFIANÇA – Mais de 100 dias depois, a desconfiança e rejeição total contra o premiê continuam. Famílias atingidas pelo 7 de outubro e sobreviventes cobram Bibi pela libertação de reféns e reconstrução e segurança de suas casas e não encontram soluções. Ao contrário, o governo tem prestado pouca assistência social a estes, apresentou um projeto orçamentário este ano que a diminui ainda mais.
E falha na garantia de segurança ao não conseguir dissuadir uma guerra mais ampla, que inclui conflitos com o Hezbollah na fronteira com o Líbano. Episódios como a morte de três reféns pelo Exército israelense agravam a crise interna.
Também não foi apresentado nenhum plano para o pós-guerra, ou seja, para o futuro de Israel e a sua relação com os povos árabes vizinhos, incluindo os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza,
LÍDER EM OCASO – “A carreira política de Netanyahu está terminada”, disse Henri Barkey, professor da Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, e pesquisador do Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês).
Para a pesquisadora Monique Sochaczewski, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), a única razão pela qual Netanyahu permanece no poder é o estado de guerra pós-7 de outubro, que uniu Israel para a luta contra o Hamas e torna o risco de uma troca de comando muito alto.
“Para ele, a manutenção da guerra o sustenta no poder. Não se discute o fim do governo. E tem algumas questões: há 130 reféns e há foguetes e mísseis lançados contra território israelense. Na narrativa dele, a guerra precisa se manter”, declarou.
APEGO AO PODER – O premiê promete exterminar o Hamas, mas não está claro em que momento isso será considerado. “Existe o risco da guerra ser estendida para ele permanecer onde está. Já está claro que Bibi tem apego ao poder”, afirmou a analista.
Netanyahu conseguiu reunir políticos centristas para atuar no governo de união nacional montado para a guerra, a exemplo do general e ex-ministro da defesa Benny Gantz, mas passou a ser pressionado a renunciar ao cargo mesmo em meio aos combates.
Políticos como o ex-primeiro-ministro Yair Lapid pediram publicamente a renúncia e se articularam com o partido de Bibi, o Likud, para ele ser substituído. Jornais nacionais relevantes, como o Hareetz, escrevem editoriais pedindo a sua saída. Milhares de civis israelenses foram às ruas nos últimos meses pelo mesmo motivo.
GOVERNO EXTREMISTA – Segundo Monique Sochaczewski, isso explica por que Israel não apresentou nenhum plano para o pós-guerra. “Netanyahu não está mais governando para os israelenses. Ele parece governar para os extremistas que formam o governo, ortodoxos e colonos, que ele se aliou para estar no poder”, afirmou.
A atuação de Israel na Faixa de Gaza contribuiu para o crescimento da pressão internacional contra Netanyahu. Desde o início da guerra, Israel foi acusado de punir e matar civis com ataques a estruturas como hospitais e escolas, bloqueio de ajuda humanitária e declarações de governo que culparam todos os palestinos pelo terrorismo.
Essas ações em Gaza foram usadas como argumento na acusação da África do Sul, na Corte Internacional de Justiça, de que Israel comete genocídio. Segundo analistas, elas minaram a reputação internacional de Israel, inclusive com o seu aliado mais próximo, os Estados Unidos, que pressionam o país a mudar a abordagem em Gaza para uma estratégia menos letal, e retrocederam a relação de Israel com os vizinhos árabes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O problema é justamente este – Netanyahu não tem um plano de paz para o pós-guerra porque ele não deseja a paz. Pelo contrário, conta com estado permanente de guerra, para se manter indefinidamente no poder. Como todo líder de cunho ditatorial, age como se fosse viver para sempre. A política tem dessas coisas. (C.N.)