Mario Sabino
Metrópoles
Ora, ora, o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski disse que “foi convocado para uma missão, um projeto de país”. Eu gostaria de saber qual é o projeto de país ao qual ele aderiu. Até onde me foi dado ver, Lula e o PT não têm projeto de país. Aliás, nenhum político brasileiro tem.
Qual é o projeto para que o Brasil alcance o grau de desenvolvimento da Espanha, por exemplo, e em quanto tempo? Qual é a proposta para articular educação e economia? Quando deixaremos de utilizar combustíveis fósseis? Ninguém pensa em nada.
PROJETO DE PODER – O que Lula e o PT têm é projeto de poder. Há de se reconhecer que, nesse ponto, eles se diferenciam dos seus pares, interessados apenas em faturar. O objetivo é ficar para sempre no Palácio do Planalto, não importam os métodos usados para atingi-lo. O projeto sobreviveu ao mensalão, não resistiu a Dilma Rousseff e ao petrolão, mas foi ressuscitado graças a Jair Bolsonaro e todos os pretextos que ele deu para que Lula fosse saído da cadeia.
Li que Ricardo Lewandowski era conhecido no STF como o ministro que tinha “a caneta de Midas”. Transformava em ouro todas as minutas de decisões e resoluções com o seu “toque pessoal”.
De fato, a sua caneta de Midas transformou muita coisa em ouro quando ele decidiu derrubar a parte da Lei das Estatais que vetava indicações políticas para cargos em empresas públicas.
ESTOICISMO – Ricardo Lewandowski, informam os jornais, é um estudioso do estoicismo. Muito bem, parabéns. Só sendo um estoico para aguentar as metáforas futebolísticas do chefe.
Se bem me lembro, a ética estoica se opõe ao hedonismo e leva ao extremo a necessidade de praticarmos ações justas e de nos abstermos das ações injustas.
Para não cometer ações injustas, o estoico tem o dever de evitar as paixões, nem que para isso tenha de viver na solidão ou de tirar a própria vida, se não houver outro jeito. O estoico não julga de acordo com opiniões pessoais, mas segundo a razão divina que organiza o cosmos.
PROVAS ILÍCITAS – Somente agora entendi por que Ricardo Lewandowski defendeu o uso de provas ilícitas, produto de crime, para anular os processos de Lula.
E por que ele rasgou a Constituição ao manter os direitos políticos de Dilma Rousseff depois de ela sofrer impeachment na “democracia liberal burguesa” (ele usou a expressão desprovida de ideologia em um evento do MST).
Lewandowski é um estoico imbuído de uma missão divina. Mas sem projeto de país, vamos deixar claro.