Malu Gaspar
O Globo
Assim que surgiram as primeiras informações a respeito da operação da PF que teve como alvos a deputada federal Carla Zambelli e o Walter Delgatti Neto, o hacker da Vaza Jato, os advogados de Jair Bolsonaro enviaram uma ordem unida ao ex-presidente e a Valdemar Costa Neto, presidente do partido: submergir. Na avaliação dos times jurídicos que assessoram o presidente, a operação de quarta-feira é potencialmente mais perigosa do que as anteriores envolvendo Bolsonaro, por dois fatores.
O primeiro é que ninguém sabe exatamente o que Zambelli escreveu em mensagens ou disse a Delgatti Neto a respeito de Bolsonaro, do governo e da campanha eleitoral – e ainda, o que ela pode ter feito que poderia levar à sua cassação. O segundo fator de risco é o próprio hacker, que está negociando com a PF uma delação premiada que teria como principal atrativo aos investigadores a possibilidade de comprometer em definitivo o ex-presidente com a trama golpista na eleição de 2022.
TAMANHO DO ESTRAGO – Enquanto não se puder avaliar o tamanho do estrago que a operação deve causar, a orientação é para que nem Valdemar nem Bolsonaro dêem nenhuma declaração e nem participem de eventos públicos. Além disso, a defesa do ex-presidente já decidiu que não vai deixá-lo depor antes que venha a público a versão definitiva de Delgatti Neto a respeito do episódio.
Bolsonaro, aliás, só vai se reunir com seus advogados na semana que vem. Nos bastidores, ele vem dizendo a aliados que não pediu nada ao hacker além de informações e que não fala com Zambelli há meses.
Já a deputada enviou recados nos últimos dias à cúpula do PL de que “não fez nada de errado” e que não teme que surja nenhuma nova prova contra ela ou contra Bolsonaro.
JÁ ERA ESPERADO – A equipe da coluna apurou que Zambelli já dava como certo há meses uma operação da Polícia Federal contra ela, desde que veio à tona o seu papel na articulação de um encontro do hacker com Bolsonaro no Palácio da Alvorada para armar um plano contra Alexandre de Moraes.
Com o fim do governo Bolsonaro e o fracasso dos atos golpistas de 8 de janeiro, aliados do ex-presidente passaram a se sentir mais vulneráveis a investigações de Moraes, o que ajuda a explicar por que os agentes da PF encontraram o gabinete de Zambelli “limpo”, sem computador de uso da parlamentar, conforme informou o blog da jornalista Andréia Sadi, no G1.
“O Daniel Silveira foi preso só por xingar e ofender o Moraes. A prisão dela é só uma questão de tempo”, afirma um interlocutor de Bolsonaro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Vejam bem o que é a certeza da impunidade. O hacker Delgatti, ao invés de ser considerado um criminoso, era cultuado pela classe política por ter destruído a Lava Jato. A tal ponto que Carla Zambelli não teve dúvida de levá-lo ao encontro do então presidente Bolsonaro, que aceitou recebê-lo com todas as honras.
Com isso, Zambelli municiou Moraes para acabar de destruir Bolsonaro. Agora, o hacker fará delação premiada e apenas confirmará o que já se sabe – que Bolsonaro e Zambelli pediram que invadisse as urnas eletrônicas. Fim de jogo. A deputada entregou tudo o que Moraes precisava. (C.N.)