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sexta-feira, agosto 11, 2023

As mãos sujas de petróleo

 

As mãos sujas de petróleo

Entre as mãos manchadas de petróleo do presidente Getúlio Vargas, que se tornou símbolo da campanha “O petróleo é nosso”, em 1952, e as mãos de Lula igualmente sujas de óleo comemorando a descoberta do pré-sal, em abril de 2006, o mundo mudou a ponto de entender como ameaça aquilo que era promessa de riqueza. 

A emergência climática se impôs como desafio decisivo para a humanidade e a queima dos combustíveis fósseis como fonte de energia, o principal fator do aumento da temperatura média global - que fez de julho de 2023 o mês mais quente da história. 

“Sabemos produzir energia limpa, por que insistir em combustível fóssil?”, disse a ministra de Clima e Meio Ambiente, Marina Silva, em reportagem da Pública sobre os Diálogos Amazônicos - o debate com 24 mil pessoas que precedeu a Cúpula da Amazônia, realizada nesta semana em Belém. 

As jornalistas Giovana Girardi e Anna Beatriz Anjos, que estiveram no encontro com forte presença indígena e de comunidades tradicionais da Amazônia, destacaram o fim da exploração de petróleo na Amazônia como centro das exigências da sociedade civil.

Também anteciparam que, ao contrário das aspirações do encontro, a Cúpula que reuniu oito países da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia) não assumiria o compromisso de acabar com a exploração de petróleo na Amazônia em seu documento final. Nem mesmo o desmatamento zero, meta já assumida pelo Brasil, foi consenso entre os países da Amazônia, apesar do risco iminente de ponto de não retorno que corre a floresta (sobre isso, leiam a coluna de hoje de Giovana Girardi).

O silêncio do presidente Lula sobre o tema só não foi mais eloquente do que o discurso do presidente Gustavo Petro que constrangeu os presentes com a coerência absoluta de sua argumentação em defesa da eliminação da exploração de petróleo na Amazônia. Já na tarde de segunda-feira (dia 7), ao chegar ao encontro, quando foi inquirido por um repórter sobre o petróleo na foz do Amazonas - que teve seu licenciamento negado pelo Ibama em maio passado - Lula cortou a conversa: “Você acha que eu vim aqui para discutir isso agora?”, reagiu, segundo reportagem do Estadão.

No episódio de maio, os jornais apressaram-se a noticiar uma cisão no governo, que culminaria com a saída de Marina Silva, que pouco depois sofreu a perda de atribuições do ministério durante a aprovação da MP da Esplanada no Congresso, alimentando os boatos. Não aconteceu nada. O movimento se repetiu agora, de forma mais localizada, mas Marina continua dando declarações serenas, falando de respeito à ciência e à avaliação ambiental, e Lula a evitar o assunto. Ao que tudo indica, o Ibama mantém sua posição. 

Com razão. Como mostramos em uma série de reportagens de campo sobre o chamado novo Pré-Sal, que vai da costa do Amapá ao Rio Grande do Norte, a exploração de petróleo na região - além de extemporânea, diante da necessidade de reduzir drasticamente a queima de combustíveis fósseis - ameaça o equilíbrio de um ecossistema delicado, de gigantescos corais, berçários de diversas espécies - e a maior extensão de manguezais do mundo. 

Riquezas que hoje valem bem mais do que as mãos sujas do “petróleo é nosso”. Que o presidente Lula mantenha a sinceridade no debate e ouça Marina Silva, a ciência, os povos da Amazônia. Nem tudo é possível conciliar, presidente. A Amazônia preservada pode ser nosso maior legado para o mundo. É hora de lavar as mãos nas águas do rio. 



Marina Amaral
Diretora executiva da Agência Pública

marina@apublica.or

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