Moro não entendeu: ACM Neto e Caiado precisam de Lula e de Bolsonaro, e não dele
Leonardo Sakamoto
UOL Notícias
Uma crítica feita regularmente a Sergio Moro (ontem, Podemos, hoje, União Brasil, amanhã, sei lá) é que ele não compreende ou não aceita que política é esporte de equipe, em que decisões devem ser construídas e costuradas coletivamente, e não tomadas individualmente.
Talvez o ex-juiz aprenda mais sobre isso com a nova patacoada em que se meteu, nesta sexta-feira (1), ao provocar a ira de nomes fortes do União Brasil, seu novo partido, que ameaçam, agora, impugnar sua filiação.
ERA BEM-VINDO – Caciques do antigo Democratas (que se fundiu ao PSL para formar o União Brasil) tinham avisado a Moro que ele seria bem-vindo ao novo partido desde que fosse candidato a deputado ou senador. O ex-juiz, então, afirmou que abria mão, neste momento, da disputa à Presidência da República e assinou sua filiação nesta quinta-feira (31).
Um dia depois, contudo, talvez se sentindo empoderado por outra ala do partido (o antigo chefão do PSL e presidente da nova sigla, Luciano Bivar, adoraria fazer dobradinha presidencial com Moro), e com o ego ferido diante das piadas sobre mais uma promessa quebrada, afirmou que “não desistiu de nada”. E que não sairá para deputado.
Candidatos à Presidência precisam de palanques estaduais, mas também serem úteis aos candidatos a governo, caso contrário, viram peso morto. A pré-candidatura de Moro, que patina entre 6% e 9%, a depender do instituto de pesquisa, anima pouca gente fora da imprensa e do eixo Rio-São Paulo.
ACM NETO E CAIADO -O secretário-geral do União Brasil e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, é pré-candidato ao governo da Bahia e está bem colocado nas pesquisas. Sabe que sua caminhada será mais fácil se não bater de frente com Lula – que tem, em boa parte do Nordeste, uma fortaleza de votos.
“Eu não sou adversário de Lula. Lula é candidato à Presidência, eu sou candidato ao governo do estado. O eleitor não quer ver seu candidato a governador em rixa com o candidato a presidente”, disse ele em março, apesar de ser opositor histórico do PT.
Outro da ala demista do União Brasil que também pediu a desfiliação de Moro diante das últimas declarações é Ronaldo Caiado – governador de Goiás, um Estado em que Bolsonaro é politicamente forte. Sua reeleição é, portanto, mais fácil sendo aliado e não inimigo do atual presidente.
SERÁ UM ESTORNO – Como os dois, outros políticos do antigo DEM, candidatos a cargos majoritários ou proporcionais, sabem que Moro candidato ao Planalto será um estorvo e Moro não entendeu: ACM Neto e Caiado precisam de Lula e Bolsonaro, não dele
Aceitariam sua permanência se fosse puxador de votos por São Paulo ou talvez disputar a vaga ao Senado, com a transferência de Datena para o PSC. Não aceitam compartilhar o Fundo Eleitoral com o “sonho” presidencial do ex-juiz. Isso sem contar que a cruzada lavajatista de Moro, que acabou por criminalizar a política, não desce na garganta de muitos no partido, que sentiram-se perseguidos pela operação.
Moro poderia ter ficado em silêncio e esperado as coisas irem se desenrolando ao longo do tempo no partido? Poderia. Mas o ego saiu pela boca.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O artigo chama atenção para uma coisa importante: os políticos corruptos têm horror a Sergio Moro, uma circunstância que é bastante compreensível. Assim, Moro só poderá contar com o apoio de quem é contrário à corrupção. Aliás, isso é o óbvio. Ninguém jamais poderia esperar que os corruptos aplaudissem Moro. (C.N.)