Publicado em 2 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro, cumprindo a legislação do país, reajustou o salário mínimo em praticamente 10%, repondo assim o índice inflacionário do IBGE registrado em 2021. Como os demais salários dos funcionários públicos e dos trabalhadores não acompanham a inflação oficial, logicamente a concentração de renda se amplia, sobretudo porque os preços, principalmente os da alimentação, no ano passado subiram mais do que o avanço oficial inflacionário.
Esse é um dos lados da questão. O outro é que o salário mínimo avançando mais do que os demais vencimentos faz com que uma faixa cada vez maior de trabalhadores e servidores públicos desçam de patamar passando a ganhar também o piso oficial de agora de R$ 1212 por mês. A renda dessa forma vai se concentrando cada vez mais.
MARATONA – Inclusive vale acentuar que o reajuste dos salários sucede sempre à inflação registrada ao longo de 12 meses, variando conforme acordo sindicais. Mas ocorre que no mês seguinte, imediatamente após um aumento nominal, os preços voltam a ganhar dos salários e essa corrida é uma maratona de 12 meses.
Todos os anos o fenômeno se repete e a renda vai se concentrando. Aliás, afirma-se que os conservadores desejam manter essa equação entre preços e salários desvantajosa para o trabalho humano. Mas a classificação dos conservadores contém um equívoco; eles não desejam apenas conservar, empenham-se para expandir sempre a concentração de renda.
IDEÓLOGOS – Devem ter como ideólogos o ministro Paulo Guedes e o governo Jair Bolsonaro. No momento, no Brasil, um terço dos que trabalham ganham um salário mínimo. Há uma parcela que ganha menos, as 14 milhões de famílias inscritas no Auxilio Brasil.
Acontece que o Auxilio Brasil tem que ser dividido pelo número de pessoas de cada família, e com isso significa uma diminuição de seu alcance emergencial. Além disso, o auxílio de emergência não resolve o problema social. Este só se resolve através do emprego e do salário justo, princípios inclusive cristãos.
O presidente Bolsonaro só há muito custo e liberou recursos para socorrer os milhares de desabrigados na Bahia. Esqueceu que a Bahia é o quarto maior colégio eleitoral do país, somente atrás de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Tem 10 milhões de eleitores.
PANELAÇO – No momento em que ia ao ar em cadeia de televisão, incluindo a Rede Globo, no Rio, na cidade de São Paulo e em várias capitais brasileiras, as panelas bateram nos edifícios residenciais, o que revelou, diga-se de passagem, a grande audiência da televisão. Bolsonaro finalmente anunciou a vacinação de crianças, mas condicionou à iniciativa por parte dos pais, o que é natural, e apresentação de receita médica.
Logo após, a TV Globo e a GloboNews divulgaram uma entrevista com o ministro Marcelo Queiroga. Ele também anunciou a vacinação infantil, mas não incluiu a condicionante de apresentação de receita médica. Exigência de receita médica para vacinar é um absurdo completo, algo que nunca aconteceu em país algum do mundo.
AÇÃO DA ANVISA – A Anvisa entra em ação e impede a atracação de navios com passageiros atingidos pela Covid-19. Enquanto a reportagem de batida de panelas foi de Patrik Camponês e Daniel Gulino, O Globo de ontem, a matéria sobre a decisão da Anvisa mandando desembarcar os passageiros contaminados pela Covid, Folha de S. Paulo de ontem, foi de Raquel Lopes.
O navio cruzeiro MSC Splendida apresentou 68 pessoas contaminadas, 56 tripulantes e 12 turistas. O número mostra que um dos fatores mais fortes da contaminação é a proximidade porque esta explica os casos verificados.
A atracação no Porto de Santos foi proibida e os contaminados foram hospedados em hotéis da capital baiana. A maioria dos contaminados só apresentava sintomas leves, incluindo os assintomáticos. O episódio assinala a importância da Anvisa e também do uso de máscaras de distanciamento mínimo entre as pessoas.
INVESTIMENTOS – Reportagem de Stephanie Tondo e Janaina Lage, O Globo de sábado, com base em dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) revela que em 2021 os investimentos de brasileiros em áreas financeiras internacionais, principalmente é claro nos Estados Unidos, cresceu 28% em relação às aplicações realizadas em 2020.
Atingiram em moeda brasileira R$ 827,19 bilhões, consequência natural da queda da Bovespa de 12% no ano que terminou. Um dos motivos, a meu ver, está no fato de a taxa Selic que rege as aplicações em renda fixa, como é o caso dos títulos que lastreiam a dívida interna de R$ 6 trilhões ter ficado em 9,25%, perdendo para a inflação do IBGE de 10,7%. Outro fator foi a subida do dólar registrada no ano passado. Além disso, destaca-se o fato de a Bolsa de Nova York ter proporcionado em 2021 um avanço de 30%.
PARAÍSOS FISCAIS – Finalmente, um outro fator: se o ministro Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campo Neto, investem até em paraísos fiscais para assegurar uma rentabilidade efetiva a seus investimentos, os brasileiros e brasileiras que têm condições seguem o exemplo.
Porém, na quase totalidade, aplicam nos mercados financeiros americanos pagando tributos e não se beneficiando de isenção de impostos como é o caso do paraíso existente nas Ilhas Virgens britânicas. Os que investem no Brasil pagam tributos legais a começar pelo Imposto de Renda. A incidência do IR sobre os salários acima de R$ 4 mil é de 27,5% na fonte. Não é preciso dizer mais nada. Mas hoje é dia 2 de janeiro. Vamos dar a volta por cima, ter esperança até porque sem ela não se vive.