Casos saltaram 32% de 2020 para 2021, tendo aumentado mais de 60 vezes somente no estado de São Paulo. Segundo o Ministério da Saúde, 14 pessoas morreram da doença, e outros 26 óbitos suspeitos são investigados.
Por Laís Modelli
Uma doença já conhecida dos brasileiros, a chikungunya, tem disparado no país. Até a segunda semana de dezembro, foram detectados 95.059 casos prováveis, um aumento de 32,1% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde.
A região Nordeste tem a maior incidência da doença, com 114 casos a cada 100 mil habitantes, seguida das regiões Sudeste, com 29,2 casos a cada 100 mil habitantes, e Centro-Oeste, com 7,4 casos por 100 mil habitantes.
Apesar de ser menos letal que a dengue, a chikungunya também pode levar à morte. Até novembro de 2021, o país registrou 14 óbitos pela doença. Outros 26 estão sendo investigados, informou o Ministério da Saúde.
Seis dos óbitos, quase metade dos confirmados até o momento no país, ocorreram no estado de São Paulo, que vive um surto desde meados de abril de 2021.
Além disso, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, os casos de chikungunya no estado aumentaram mais de 60 vezes na comparação com o ano passado: enquanto em 2020 foram registrados 281 casos durante todo o ano, 2021 teve 18,378 mil casos confirmados até meados de dezembro.
Em números absolutos, os estados com o maior registro de casos de chikungunya em 2021 até 12 de dezembro são:
Pernambuco: 31.632 casos
São Paulo: 18.378
Bahia: 13.899 casos
Paraíba: 10.084 casos
Minas Gerais: 5.642 casos
"Diante desse cenário, ressalta-se a necessidade de implementar ações para redução de casos e investigação detalhada dos óbitos, para subsidiar o monitoramento e assistência dos casos graves e evitar novos óbitos", informou em nota o Ministério da Saúde.
A pasta afirmou que o combate e monitoramento das arboviroses (doenças causada por arbovírus, que incluem os vírus da chikungunya, dengue, zika e febre amarela) é de responsabilidade federal, estadual e municipal, e pediu que as cidades voltem a realizar as visitas domiciliares dos agentes de combate aos criadouros, suspensas por causa da pandemia de covid-19.
Além disso, com a chegada do verão e das chuvas típicas da estação, o Ministério da Saúde alerta que a situação poderá piorar caso a população não adote medidas individuais, como a eliminação de criadouros no quintal de casa (objetos com água parada) e o uso de repelentes.
A Fiocruz alertou em setembro que os casos de chikungunya podem estar subnotificados por causa da pandemia de covid-19, que mobilizou recursos e profissionais da saúde de todas as áreas para o combate o coronavírus.
Características da doença
Causada por um vírus, a chikungunya é transmitida pela picada de fêmeas dos mosquitos Aedes albopictus e Aedes aegypti - o mesmo transmissor da dengue - infectadas pelo vírus CHIKV.
Segundo o manual de manejo clínico da chikungunya do Ministério da Saúde, grávidas infectadas com o vírus CHIKV também podem transmiti-lo durante o parto, o que pode provocar infecção grave no recém-nascido.
Em swahili, uma das línguas oficiais da Tanzânia e falada também em Moçambique e outros países africanos, a palavra chikungunya significa "aqueles que se dobram", se referindo à principal característica da doença: dor muito intensa nas articulações.
Tanto a chikungunya como a dengue têm sintomas clinicamente parecidos: febre de início agudo, dores articulares e musculares, dor de cabeça, náusea, fadiga e manchas na pele.
"A chikungunya afeta as articulações e a pele, causando dores muito intensas nos músculos e nas articulações e pequenas manchas vermelhas pelo corpo", descreve o infectologista Renato Grinbaum, da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"Pessoas mais velhas e pessoas com predisposição a doenças genéticas articulares podem desenvolver doenças crônicas após a chikungunya", diz Grinbaum.
Entre as pessoas consideradas grupos de risco para a chikungunya, o Ministério da Saúde lista crianças pequenas, pessoas com mais de 65 anos, gestantes e pessoas com comorbidades, como diabetes.
Entre as doenças reumatológicas crônicas desencadeadas após a infecção por chikungunya, está a artrite reumatoide. Também já foi descrito o aparecimento de depressão, doença de Parkinson e síndrome de Guillain-Barré.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doença pode se apresentar de três formas diferentes e com a seguinte duração:
Aguda: febre alta e persistente, com duração de 3 a 4 dias. Dores articulares, musculares e manchas vermelhas pelo corpo podem durar até 14 dias;
Subaguda: os sintomas duram até três meses e são acompanhados de outros, como vômitos, sangramento e úlceras orais;
Crônica: os sintomas persistem para além dos três meses.
O vírus causador da doença foi registrado pela primeira vez no Brasil em 2014, no Nordeste. Atualmente, o agente infeccioso e o seu vetor, a fêmea do mosquito Aedes, circula por todo o país.
"Todas as regiões estão suscetíveis a um surto de chikungunya, uma vez que o mosquito Aedes circula por todo o país", explica Grinbaum.
Como diferenciar dos sintomas da covid
Nos casos leves, o infectologista alerta que os sintomas da chikungunya podem ser parecidos com os de dengue, influenza e covid-19.
"Todas essas doenças são parecidas nos casos mais leves: o infectado terá febre, dor muscular, fadiga etc.", explica Grinbaum.
Já nos casos graves de influenza e covid-19, diferentemente da chikungunya e da dengue, o paciente tem o pulmão afetado.
"Tanto a influenza como a covid são causadas por vírus que atacam o sistema respiratório e têm uma predileção pelos pulmões. Esses pacientes apresentam sintomas como tosse seca, falta de ar e saturação baixa", explica o infectologista.
Nos casos em que os sintomas são fortes, o profissional orienta que o paciente procure um hospital.
"Diferentemente da covid, dificilmente se tem uma lotação de UTI durante um surto de chikungunya, mas, caso as dores musculares e articulares persistam após a infecção, o paciente precisará de um acompanhamento com um infectologista e reumatologista", diz Grinbaum.
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