Por Pedro Doria (foto)
O Brasil nunca elegeu um extremista para a Presidência — até que aconteceu, em 2018. A não ser que algo de muito improvável ocorra, pela primeira vez desde o início da reeleição, o ocupante do terceiro andar do Planalto não ganhará um segundo mandato. Não importa o vencedor, por si só já é uma boa notícia. Não há muito o que desejar para 2022. Teremos a mais agressiva eleição presidencial da Nova República. Derrotado, com ainda dois meses de mandato, não podemos esperar civilidade de Jair Bolsonaro. Mas podemos sonhar com 2023. Meu desejo para o Brasil é que a esquerda encare enfim uma de suas maiores contradições. É gostar de empresário grande, mas ter horror a empreendedores.
Para sair do buraco em que nos metemos faz uma década, precisaremos muito de novas ideias.
O Brasil está em 80° lugar no ranking de competitividade global de talentos. Não é que não tenhamos cérebros qualificados. É que eles estão fugindo para o exterior. Um governo de esquerda não teria dificuldade de investir em universidades e, portanto, reter nossas melhores cabeças. Só que conhecimento vira riqueza quando negócios são criados a partir dele. E empreender é nosso fraco. Somos o 124º país do mundo em facilidade para fazer negócios, de acordo com a OCDE.
Políticas econômicas defendidas pela esquerda despejam dinheiro para turbinar empresas gigantes. Se é para grandes empresários, aqueles mais afeitos aos corredores palacianos que aos debates sobre inovação, aí os preconceitos desaparecem. A contradição parte de uma incompreensão. A esquerda acha que um bom negócio nasce da força bruta do dinheiro despejado, não do capital humano, das ideias e capacidades de quem o ergue.
Quem sofre mesmo com as dificuldades de erguer um negócio no Brasil é quem está na periferia. É quem tem um diploma, uma ideia estupenda nascida da ciência, mas não os contatos. Quem sofre é quem está muito distante de Brasília e excessivamente preocupado em construir.
O problema é o seguinte: noutros tempos, quando as regras que valiam eram as da Era Industrial, a política de jogar dinheiro público em quantidade para construir do zero um setor até funcionava. Às vezes. Mas o principal caminho para o Brasil encontrar seu lugar no século será pela economia verde. Esse é um setor novo, e nele as regras ainda não estão dadas. Que tecnologias serão revolucionárias? Não sabemos. Em que áreas encontraremos nossas maiores vocações? Temos pistas, mas nenhuma precisão. O método para o século XXI, este em que o futuro é incerto, é o do Vale do Silício.
Produz-se conhecimento e se cria um ambiente onde abrir e fechar empresa é muito, muito fácil. Onde pequenos financiamentos para testar modelos são estimulados com a consciência de que, para cada cem apostas, 90 darão errado, oito serão empresas bacanas, e duas se tornarão extraordinárias.
No Vale, parte-se de gente com ph.D. ou de quem trocou o título pelo negócio. Mas, nas periferias brasileiras, também fervilham ideias que podem movimentar outros setores, como a economia criativa.
O Estado deve estar presente em políticas sociais. Por aqui, é fundamental que esteja. Mas, caso se livre de preconceitos e compreenda que não precisa controlar cada passo da sociedade, a esquerda descobrirá que nossa criatividade não se limita aos esportes e às artes. Basta deixar o brasileiro tentar, errar — acertar. Todos nos beneficiaremos do PIB criado.
O Estado de São Paulo