Malu Gaspar
O Globo
Já entrou para a história das CPIs brasileiras o momento em que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) extrai do deputado Luis Miranda a confissão que abalou o governo Bolsonaro e mudou o rumo da CPI da Covid. A cena fez Simone desfrutar de uma notoriedade que nem o fato de ter sido a única mulher a disputar a presidência do Senado lhe conferiu.
Porém, para ela, mais revelador do que saber que Bolsonaro disse ser Ricardo Barros o homem por trás das negociações de vacinas no Ministério da Saúde foi o fato de o presidente da República não se descolar do líder do governo e do Centrão.
REFÉM DO CENTRÃO – “O problema é que Bolsonaro não pode se livrar de seu líder. O presidente não controla o Congresso. Hoje é o Centrão que está controlando o governo, está ditando a pauta”, avalia Tebet.
Na conversa com a jornalista Malu Gaspar, Simone avaliou que nem mesmo o tumultuado depoimento do atravessador de vacinas Luiz Paulo Dominguetti vai mudar a situação do governo.
“O depoimento não foi dos melhores, mas ele corrobora que há um esquema forte envolvendo os mesmos personagens e a mesma conduta delituosa. Ou seja: tentativa de levar vantagem em cima de vacinas que estão faltando no braço da população.”
HORA DE ARRUMAR – Isso não impede que a líder da bancada feminina faça um alerta. Se quiser chegar a algum lugar, a própria CPI terá de se reorganizar: “Vai depender muito da capacidade da CPI, de baixar um pouco a fogueira das vaidades, de baixar um pouco essa fervura de só querer estar em rede nacional. De saber fazer as perguntas certas na hora certa. A comissão precisa ter disciplina, precisa ter ritmo e precisa ter foco.”
Considerada “incontrolável” até pelos colegas do MDB, a senadora falou sobre os bastidores da disputa pela participação feminina na CPI. E revelou ter recebido propostas “pouco ortodoxas” para desistir da disputa à presidência do Senado, no início do ano.