Lira e Pacheco já vinham manifestando descontentamento com o chanceler brasileiro.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, enfrentou um ambiente hostil durante sua participação em sessão do Senado na tarde desta quarta-feira (24), com muitos senadores questionando a sua capacidade e pedindo a sua demissão para "salvar vidas".
Ernesto havia sido convidado para participar de sessão temática do Senado para explicar os esforços da pasta que comanda para obter vacinas contra o novo coronavírus.
O chanceler já havia sido alvo de duras cobranças do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), durante reunião nesta manhã no Palácio do Alvorada. Lira deixou claro que seria preciso melhorar a relação com países produtores de vacinas e de insumos.
A reunião da manhã, chamada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contou com a participação de ministros, dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o presidente do STF, Luiz Fux, governadores e chefes de outras instituições.
Lira e Pacheco já vinham manifestando descontentamento com o chanceler brasileiro, aumentando a pressão pela sua demissão. Mais tarde, em sessão na Câmara, Lira voltou a criticar publicamente e abertamente o chanceler.
Nesta tarde, no Senado, a cobrança partiu inicialmente do próprio Pacheco, que afirmou que o fornecimento de vacinas está "aquém do esperado".
Depois houve uma sequência de falas de diversos senadores, questionando a capacidade de Ernesto Araújo e pedindo a sua demissão.
"Pede para sair e durma com a consciência tranquila que o senhor vai ajudar a salvar vidas", afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Companheiro de bancada da senadora, o tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o Brasil se tornou um pária internacional e que a má gestão no Ministério das Relações Exteriores está provocando resultados fatais para o Brasil.
"O senhor não tem mais condições de ficar no Ministério das Relações Exteriores. E não é para criar uma crise [a sua saída], é para solucionar", afirmou o tucano. O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) também afirmou que pediria demissão se estivesse no lugar do ministro. Também pediram a saída do ministro a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e parlamentares da oposição.
A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), questionou a capacidade de fazer interlocuções do ministro, após diversos ataques aos chineses. Lembrou, por exemplo, as manifestações contrárias à participação chinesa na tecnologia 5G.
"Eu não estou contando novidade, não estou aqui para ofendê-lo. Isto foi público e notório: o seu preconceito com relação ao 5G, o preconceito da família com relação ao vírus. Qual é o país do mundo que quer passar vírus para alguém? Isso não existe. Quer dizer, uma coisa tão aberta. O presidente dizer que vende para a China, mas não vai vender o Brasil para a China? Palavras desnecessárias", afirmou a senadora.
"Então, a minha pergunta é a seguinte: o senhor se sente realmente à vontade, como chanceler do Brasil, para fazer essas ligações, essa interlocução, essas reuniões remotas com esses países, com a China e com os Estados Unidos, diante deste quadro diplomático desastroso, ministro?", completou.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) questionou a formação e a capacidade do ministro.
"Eu confesso que me senti aqui um tanto quanto desrespeitado no Senado Federal. Eu nunca presenciei uma apresentação tão confusa, não sabendo construir uma frase com sujeito, verbo e objeto. Não respondeu as perguntas. Eu citei aqui vários exemplos de atitudes do senhor contra o Brasil: ofendeu o governo chinês, deixou o governo Trump interferir no processo de aquisição de vacinas junto à Rússia, visitou Israel com gastos exorbitantes aos cofres públicos para tratar de um medicamento sem nenhuma comprovação científica", afirmou o senador.
"O senhor realmente cursou o Instituto Rio Branco? Sua fala não me parece diplomática, porque, ao invés de o senhor pedir desculpas para o embaixador da China, o senhor defende quem o ofendeu. Não percebe que isso pode dificultar ainda mais a aquisição de vacinas?", completou.
Ao se defender, o chanceler se emocionou e chegou a ficar com a voz embargada. Ernesto Araújo afirmou que fez de tudo para ajudar o Brasil durante a pandemia, assim como ele alega que o presidente Bolsonaro fez.
"Tenho feito tudo pelo meu país naquilo em que acredito, um projeto de transformação profunda do Brasil que a maioria dos brasileiros, tenho certeza, deseja. Eu sempre estou disposto, já estou dando toda a minha vida por isso, porque é nisso em que acredito. O senhor pode acreditar ou não, mas essa é a minha convicção", afirmou o chanceler.
"Contarei aos meus netos que fiz parte de um projeto de transformação do Brasil. Espero poder contar que terá sido um projeto bem-sucedido, um projeto que livrou o Brasil da corrupção, do atraso, da indignidade e da falta de condições para os brasileiros. Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro -isso eu garanto para o senhor- e não admito que ninguém o questione, como eu não questiono os seus motivos ou os de ninguém, está bem?", completou.
Ernesto também negou que tivesse dificuldades de relacionamento com a China. O chanceler afirmou ainda que nunca teve conhecimento da tentativa de interferência dos Estados Unidos para que o Brasil não importasse a vacina russa Sputnik V.
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