Pedro do Coutto
O governo de Jair Bolsonaro encontra-se desestabilizado e balançando junto à opinião pública em decorrência das próprias atitudes do presidente da República e dos erros em série do ministro Paulo Guedes e do ex-ministro Eduardo Pazuello.
O novo titular da Saúde Marcelo Queiroga, entrevistado pelas emissoras de TV na tarde de quinta-feira, pediu paciência à população porque as providências estão sendo tomadas. Mas, na minha opinião, o que menos interessa nesse momento crítico é pedir paciência porque o quadro do país é de extrema urgência, registrando-se duas mil e setecentas mortes por dia e também cerca de 90 mil contaminações em 24 horas.
DECLARAÇÃO – O presidente Jair Bolsonaro, revela o repórter Ricardo Della Coletta, Folha de São de sexta-feira, voltou a fazer uma afirmação agressiva sobre a pandemia e as suas consequências a um grupo de apoiadores no porta do Palácio do Alvorada. Em vídeo editado por bolsonaristas, o presidente da República afirmou que parece que só se morre no país pela Covid-19. Os hospitais estão com 90% das UTIs ocupadas.
“Quantos são de Covid e quantos são de outras enfermidades ?”, indagou. Parece que o presidente não está conseguindo focalizar a essência do gravíssimo problema e tenta por suas próprias palavras diluir os casos de contaminação dizendo que é preciso levar em conta consequências de outras doenças que acometem pessoas em todo o país.
Fica claro que Bolsonaro não consegue concentrar-se na questão da pandemia em si, como revelam as suas posições anteriores sobre a vacinação, uso de máscaras e distanciamento social. Por exemplo: o governo está recorrendo ao Supremo Tribunal Federal contra medidas de governadores que decretaram o isolamento social.
SEM RUMO – O Supremo terá que decidir essa questão, mas não creio que possa decidir a favor do presidente da República que se encontra praticamente sem rumo. Pois se rumo tivesse, não teria pensado em tal recurso à Justiça.
Uma pesquisa do Datafolha, reportagem de Angela Pinho, edição de ontem da Folha de São Paulo, revelou que 79% dos brasileiros e brasileiras consideram que a pandemia está fora de controle. Este fato é mais alarmante ainda e acende um sinal de perigo para o governo federal, especialmente para o Ministério da Saúde.
Marcelo Queiroga precisa agir rapidamente porque a população está praticamente em pânico. Uma das verificações da pesquisa é de que 55% tem muito medo de contrair a Covid-19 e 27% tem um pouco de medo. Só 12 % não tem medo algum. Portanto o medo está atingindo 82% dos brasileiros e brasileiras.
PENSAMENTO DE QUEIROGA – Entretanto, o Palácio do Planalto dá impressão que se encontra entre os 12%. Uma boa pergunta sobre o medo deve ser feita ao ministro Marcelo Queiroga para que se tenha noção do seu pensamento diante do desafio que tem pela frente. Setenta e um por cento são favoráveis à diminuição dos horários do comércio e dos serviços em geral, e 59% são favoráveis ao fechamento das igrejas e templos religiosos.
Nos hospitais do país, conforme a reportagem de Dimitrius Dantas, Paula Ferreira, Renata Mariz, Ana Lucia Azevedo e Bruno Rosa, O Globo, é avisado ao ministro da Saúde que os insumos e remédios para atender casos de internação estão com seus estoques baixos e os medicamentos de modo geral se esgotarão no prazo de 20 dias se não forem tomadas as medidas necessárias. O oxigênio volta a integrar a lista urgente e crítica da situação em que se encontra.
Mas eu disse no início da matéria que a desestabilização do governo decorre também dos erros do ministro Paulo Guedes. São visiveis. Agora vejam os leitores o que ocorreu com o Banco do Brasil. O presidente André Brandão foi substituído pelo então diretor da BB Administradora de Consórcios, Fausto de Andrade Ribeiro
CATÁSTROFE – De acordo com Paulo Guedes, o ex-presidente queria fechar agências e promover a demissão dos servidores. Seria um erro catastrófico. O meu amigo Afonso Castilho, ex-diretor da Caixa Econômica Federal, me disse que o Banco do Brasil não pode fechar agências porque recebe recursos financeiros do Tesouro a custo zero e está presente em todas as grandes cidades e em todas as regiões do país.
São cerca de duas mil agências que fornecem créditos para agropecuaria, para a lavoura, para o transporte, para as cooperativas, para a produção industrial e exerce também uma função social importante, que é a de fazer circular o crédito em áreas de difícil circulação ou onde sequer existe. Como assim fechar agências?
OUTROS VALORES – O Banco do Brasil não é para se tornar um banco competitivo . É diferente de outros, a exemplo do Itaú, do Santander, do Bradesco. Não se pode administrar um banco da dimensão do Banco do Brasil pensando em apenas lucro financeiro. Concordo com meu amigo Afonso Castilho e acrescento: nem tudo na vida se refere à operações financeiras e redução de custo e lucro. Há outros valores, supremamente essenciais, a exemplo da própria vida humana.
Na reuniao ministerial de 22 de abril de 2020, reunião que revelou o nivel do governo , ao fazer um comentario junto ao presidente Bolsonaro sobre o BB, Paulo Guedes disse: “vende logo essa porra”.