Publicado em 5 de março de 2021 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
É preciso reconhecer que o ministro Gilmar Mendes é um dos mais competentes que já integraram o Supremo Tribunal Federal. Não há nenhuma dúvida acerca de sua capacidade. O problema é a falta de caráter, o partidarismo exacerbado quando se trata de julgar tucanos e a parcialidade com que adere a determinadas causas do interesse de governantes, políticos e empresários corruptos.
Para fortalecer seu voto no processo que relata sobre a suposta parcialidade do juiz Sérgio Moro contra o réu Lula da Silva, o ministro Gilmar Mendes está esperando que o pessoal do marketing faça o trabalho sujo, divulgando como se fossem novidades as mensagens gravadas por hackers, que foram contratados para fazê-lo, mas a Justiça não identifica os mandantes.
As gravações foram massivamente divulgadas em março de 2019 pelo site The Intercept, pela Folha de S. Paulo e pela Veja, com cobertura de toda a mídia brasileira.
Na época, apesar do escândalo que se tentou armar, o resultado foi nulo, porque em nenhum trecho das centenas de horas de gravação ficou evidenciado que o juiz Sérgio Moro tivesse participado de conluio para condenar Lula injustamente.
ANULAÇÃO IMPOSSSÍVEL – Nas gravações, além da imaturidade demonstrada por alguns procuradores, a única ilegalidade foi um erro cometido por uma delegada federal, mas não foi grave a ponto de anular a condenação do político que comandou o maior esquema de corrupção do mundo.
A estratégia traçada por Gilmar Mendes e pelos advogados de Lula já vem sendo executada há vários meses. Consiste em ir “plantando” reportagens e artigos em jornais, revistas, portais, sites e blogs, em que trechos dos diálogos são republicados como novidades, enquanto Gilmar Mendes faz o ponteio, com declarações de que a parcialidade de Moro “causa pena” e até compara a Lava Jato ao Esquadrão da Morte, vejam a que ponto chega a desfaçatez do ministro, que não respeita o impedimento de entrevistas sobre questão que relata, e vai logo dizendo que os processos de Lula podem ser anulados.
“Todos nós de alguma forma sofremos uma manipulação disso que operava em Curitiba. Acho que temos que fazer as correções devidas, tenho dito e enfatizado que Lula é digno de um julgamento justo”, afirmou.
ESQUADRÃO DA MORTE – “Independentemente disso, temos que fazer consertos, reparos, para que isso não mais se repita, não se monte mais esse tipo de esquadrão da morte. Porque o que se instalou em Curitiba era um grupo de esquadrão da morte, totalmente fora dos parâmetros legais”, disse Gilmar Mendes, com se Lula fosse um político ilibado e Moro um juiz corrupto.
As declarações de Gilmar ocorreram dias após a Segunda Turma do Supremo, a qual faz parte, validar por quatro votos a um a liminar do ministro Ricardo Lewandowski que concedeu à defesa do ex-presidente Lula acesso às mensagens hackeadas do ex-coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol, do ex-juiz Sérgio Moro e dos demais integrantes da força-tarefa.
“Já é possível depreender o funcionamento de uma certa combinação institucionalizada e permanente, a serem verdadeiras as mensagens, entre o juiz e os ex-membros da força tarefa da Operação Lava Jato. Isso tudo ressai dessas mensagens. Os fatos são tão graves que estão repercutindo mundo afora”, disse Gilmar Mendes no julgamento, ao apoiar Lewandowski.
TUDO DOMINADO – Em tradução simultânea, antes mesmo da sessão da Segunda Turma do STF, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski já julgaram e condenaram o então juiz Sérgio Moro. Só não marcaram a data, porque ainda têm dúvidas sobre o posicionamento do neoministro Nunes Marques que pode destruir a armação. Se Nunes Marques faltar ou alegar suspeição, Moro será considerado juiz parcial.
O fato concreto é que Lula está confiante e mudou de ideia. Na certeza de que sua condenação será anulada, Lula decidiu afastar Fernando Haddad e acaba de anunciar sua própria candidatura em 2022.
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P.S. – Tudo isso mostra a enorme competência de Gilmar Mendes, que sabe realmente manipular situações. É pena que ele sempre esteja do lado errado e se esqueça de defender o interesse público. (C.N.)