Daniel Gullino
O Globo
A Globalweb Outsourcing, empresa ligada à ex-mulher do advogado Frederick Wassef, enviou um ofício para o presidente Jair Bolsonaro pedindo para ele “corrigir as injustiças” que teriam sido cometidas contra o grupo. A empresa alega que teve prejuízo de R$ 158 milhões devido a uma “injusta campanha midiática difamatória”.
O ofício foi enviado na quarta-feira e é assinado pelo diretor jurídico da Globalweb, Frederico Lima Júnior. Ele não especifica quais medidas espera que o presidente tome. O gabinete da Presidência reencaminhou no mesmo dia o documento para o Ministério da Economia. Ainda não há uma resposta.
“SENSO DE JUSTIÇA” – “Certos de contarmos com seu senso de justiça e cientes de que Vossa Excelência suportou na pele idêntica campanha difamatória sustentada em fake news, pagando com a paz pessoal e familiar por essas injustiças, solicitamos seu apoio, dedicação e empenho no encaminhamento de pedido de providências, com vistas a fazer cessar e corrigir as injustiças perpetradas em face do grupo empresarial Globalweb praticadas pelos órgãos do Governo Federal”, escreveu Frederico Lima Júnior.
O ofício é acompanhado por um “dossiê”, de 204 páginas, que reúne os “prejuízos causados pelo governo federal às empresas do Grupo Globalweb”. O documento afirma que as perdas foram causadas por “matérias falsas veiculadas na mídia contra a Globalweb e Cristina Boner”, mas não explica porque as notícias são falsas.
Cristina é uma das fundadoras da empresa, que hoje é administrada por uma de suas filhas, Bruna Boner. Ela foi casada com Frederick Wassef, advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e que também já trabalhou para o presidente Jair Bolsonaro.
RELAÇÃO COM BOLSONARO – Em nota enviada ao O Globo, Frederico afirmou que “durante os meses de julho a novembro de 2020, a Globalweb e seus acionistas foram bombardeados por reportagens negativas que procuravam estabelecer uma infundada relação com o Presidente da República que teria gerado supostos benefícios para a corporação”.
O texto ressalta que em novembro o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou uma representação do Ministério Público do Tribunal de Contas que apontava um suposto tráfico de influência. Entretanto, segundo a empresa, enquanto a representação não foi analisada “todos os processos que envolviam a Globalweb foram vistos como irregulares”.
IMPACTO – Por isso, argumenta Frederico, “o o Grupo Globalweb sentiu-se no dever de encaminhar um ofício junto a Presidência da República, com o histórico do que passou para demonstrar o quão elevado foi o impacto negativo auferido”.
“O governo Bolsonaro prometeu investir no crescimento da economia baseado no apoio às empresas como a nossa, brasileira e de capital 100% nacional. E o que sentimos na pele foi exatamente um abandono e massacre a mais de 10 mil famílias que foram impactadas pelo desemprego de nossos funcionários que tiveram que ser demitidos por falta de contratos”, diz a nota.
PREJUÍZO COM A PETROBRAS – A maior parte do prejuízo (R$ 94 milhões) ocorreu, segundo o relatório, por um impedimento de de participar de processos licitatórios da Petrobras. A Globalweb relata que a estatal aumentou seu Grau de Risco de Integridade (GRI) de baixo para alto, o que a impediu de participar de disputas. A decisão foi considerada arbitrária pela empresa.
Outro prejuízo relatado é uma multa de R$ 27 milhões aplicada pela Dataprev. No ano passado, o O Globo revelou que a multa chegou a ser suspensa pelo governo. Entretanto, a empresa reclama que uma negociação que fazia com a Dataprev foi interrompida após a publicação da reportagem e a punição foi confirmada.
A Globalweb também relata prejuízos em contratos com o Ministério da Educação, a Infraero, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Detran/DF, entre outros órgãos. Além disso, a companhia afirma que foi excluída de diversos processos do setor privado, sem detalhar quais.