Daniel Gullino
O Globo
O presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) afirmou nesta quinta-feira, dia 4, que é preciso parar de “frescura” e “mimimi” com a pandemia de Covid-19 e questionou até quando as pessoas ficarão “chorando”. Para Bolsonaro, é preciso “enfrentar nossos problemas”. O novo coronavírus já matou quase 260 mil brasileiros, e a mortes estão em alta, batendo recordes nos últimos dias.
A declaração ocorreu durante inauguração de um trecho da ferrovia Norte-Sul, em São Simão (GO). O presidente elogiou produtores rurais por terem continuado trabalhando durante a pandemia e questionou em seguida “onde vai parar o Brasil se nós pararmos”, em referência a medidas que estão sendo tomadas por governadores e prefeitos em todo o país para diminuir a circulação de pessoas, em uma tentativa de frear o avanço da Covid-19.
“FRESCURA” – “Vocês (produtores rurais) não ficaram em casa, não se acovardaram. Nós temos que enfrentar nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades. Mas onde vai parar o Brasil se só pararmos?”, disse Bolsonaro.
Na quarta-feira, o Brasil bateu, pelo segundo dia consecutivo, o recorde de registros de mortes em 24h. Foram 1.840 óbitos contabilizados pelas secretarias estaduais de saúde. A média móvel dos últimos sete dias também bateu um novo recorde: 1.332. É o quinto dia consecutivo em que isto ocorre.
Nesta quinta, Bolsonaro disse lamentar as mortes, mas afirmou que “tem que ter uma solução”. “Até quando vão ficar dentro de casa, até quando vai se fechar tudo? Ninguém aguenta mais isso. Lamentamos as mortes, repito, mas tem que ter uma solução. Tudo tem que ter um responsável”, disse.
“NÃO TEM DINHEIRO” – Depois, negou que privilegie a economia em detrimento da saúde e afirmou que a economia é importante inclusive para comprar vacinas: “Lamento as mortes, repito. Antes que comecem a falar por aí, essa imprensa, que eu estou ignorando mortes e pensando em economia. Por que vocês não ouvem falar de vacina em países da África? Ou em alguns países aqui da América do Sul? Porque não tem dinheiro. Não tem economia, então não tem vacina. Se nós destruirmos nossa economia, podem esquecer um monte de coisa”.
Bolsonaro fez um “apelo” a governadores e prefeitos contra o fechamento de comércio e disse que “o povo quer trabalhar”: “Eu apelo aqui, já que me foi castrada a autoridade, para (que) governadores e prefeitos repensem a política do fechar tudo. O povo quer trabalhar! Venham para o meio do povo, conversem com o povo! Não fiquem me acusando de fazer aglomeração, aqui tem aglomeração, em todo lugar tem”.
Para o presidente, toda atividade que ajuda no sustento das pessoas é essencial: “A grande maioria tem que trabalhar. Quando se fala `essa atividade é essencial, aquela não´. Atividade essencial é toda aquela necessária para o chefe de família levar o pão para dentro de casa, porra”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A estratégia genocida de Bolsonaro é empurrar todos que puder para as ruas, no estilo roleta russa, sob a justificativa que a economia não pode parar. Em nenhum momento assumiu o seu papel de presidente eleito, conduzindo a nação e buscando unir interesses aliados às ações de prevenção com a efetivação de soluções. Preferiu o negacionismo, a cloroquina e as aglomerações em plena pandemia. Agora, tem a insensibilidade de afrontar o sofrimento de milhares de famílias. Conforme dito nessa Tribuna, o seu impedimento não afronta à democracia. É uma questão emergencial em defesa da vida. (Marcelo Copelli)