Deu no G1
Um dia depois de o país registrar novo recorde de mortes diárias causadas pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro falou a apoiadores sobre a pandemia. “Criaram pânico, né? O problema está aí, lamentamos. Mas você não pode entrar em pânico. Que nem a política, de novo, do fique em casa. O pessoal vai morrer de fome, de depressão?”
Bolsonaro fez o comentário em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. O vídeo com o diálogo foi divulgado em redes sociais. O presidente voltou a criticar a imprensa. De acordo com ele, “para a mídia o vírus sou eu.” De acordo com levantamento do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil registrou 1.726 mortes pela Covid-19 na terça, recorde desde o início da pandemia. Com isso, o país chegou ao total de 257.562 óbitos desde o começo da pandemia.
RESTRIÇÃO – A média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias até terça chegou a 1.274, aumento de 23% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. Nos últimos dias, estados anunciaram novas medidas de restrição para tentar conter o avanço da doença e o risco de colapso no sistema de saúde. Em boa parte deles, a ocupação de leitos de UTI por pacientes graves de Covid-19 está próxima de 100%.
Mais tarde, após um almoço com o embaixador do Kuwait no Brasil, Bolsonaro falou com a imprensa e voltou a comentar a pandemia no país. “A economia tem que pegar. Alguns falam que eu não estou preocupado com mortes. Estou preocupado com mortes, mas emprego também é vida. Uma pessoa desempregada entra em depressão, tem problemas, se alimenta mal, é mais propensa a pegar outras doenças”, disse o presidente.
MAIS LEITOS – Bolsonaro foi questionado sobre se é possível a União financiar mais leitos de UTI para a Covid-19 nos estados. Governos estaduais alegam que a União fechou leitos mantidos com verba federal nos estados e têm buscado o Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a reativação. Para Bolsonaro, não falta dinheiro para atender os estados.
“Olha, o recurso não falta para a gente atender as questões nessa área de saúde. Agora, tem que haver uma previsão por parte dos governadores, e o contato tem que ser através do secretários de Saúde junto ao ministério. Nós aqui nunca nos furtamos a liberar recursos para isso”, afirmou o presidente.
SÃO PAULO – Também nesta quarta, o governo de São Paulo anunciou que vai regredir todo o estado à fase vermelha, a mais restritiva da quarentena. A medida entre em vigor na primeira hora do próximo sábado, dia 6, e deve permanecer até o dia 19 de março. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB).
“Estamos em São Paulo e no Brasil à beira de um colapso. Exige medidas coletivas e urgentes (…) Por este motivo nós estamos atendendo a recomendação do centro de contingência e reclassificando todo o estado de SP para a fase vermelha a partir das 0h de sábado”, disse Doria.
Na terça, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, divulgou uma nota técnica na qual aponta o agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil. De acordo com a Fiocruz, 19 unidades da federação têm taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 80%. No boletim anterior, eram 12.
PORTARIA – Diante do quadro, o Ministério da Saúde publicou na terça portaria que libera um total de R$ 153,6 milhões para o financiamento de 3.201 novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em mais de 150 cidades de 22 estados — os leitos temporários serão custeados por 90 dias, com possibilidade de renovação posterior. Estados e municípios vinham se queixando da suspensão do repasse de recursos do governo federal para financiar leitos de UTI.
Taxas de ocupação nas capitais, segundo a Fiocruz: Porto Velho (100%); Rio Branco (93%); Manaus (92%); Boa Vista (82%); Belém (84%); Palmas (85%); São Luís (91%); Teresina (94%); Fortaleza (92%); Natal (94%); João Pessoa (87%); Salvador (83%); Rio de Janeiro (88%); Curitiba (95%); Florianópolis (98%); Porto Alegre (80%); Campo Grande (93%); Cuiabá (85%); Goiânia (95%); Brasília (91%)
Além disso, cinco capitais estão com taxas superiores a 70%: Macapá (72%); Recife (73%); Belo Horizonte (75%); Vitória (75%); São Paulo (76%)
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ainda que os eleitores que votaram em Bolsonaro se justificassem ao defender que não queriam a volta do PT à Presidência, hoje percebem que existiam inúmeras alternativas melhores do que a opção tomada. Qualquer outro candidato seria melhor do que o atual mandatário, que age de forma covarde, insensível e irresponsável desde que assumiu o governo. Em dois anos, colecionou mais críticas do que reconhecimento efetivo por ações em prol da sociedade. Não somente faz questão de ir na contramão das medidas recomendadas ao combate da crise sanitária, mas também incentiva os desvios e a propagação de aglomerações e a falta de cuidado. Nunca assume o que lhe compete e estampa os noticiários com suas mentiras diárias, culpando terceiros pelas sucessivas mortes que têm a rubrica da sua incompetência. Tirar Bolsonaro da cadeira que ocupa e interná-lo com uma camisa de força não é romper com a democracia, mas defender o direito à vida em meio à pandemia. (Marcelo Copelli)