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sábado, junho 20, 2020

Poucos dias após Moro se demitir, Bolsonaro passou a interferir na Polícia Federal


Denisse Ribeiro conseguiu retardar a operação da Polícia Federal
Carlos Newton
É impressionante a audácia de Jair Bolsonaro, que não respeita os limites institucionais e se comporta como se estivesse acima da lei e da ordem. Para interferir na Polícia Federal e proteger os interesses da família e dos amigos, conforme suas próprias palavras na reunião ministerial de 22 de abril, o presidente da República fez o possível e o impossível até conseguir a demissão do ministro Sérgio Moro, um cidadão acima de qualquer suspeita e que é hoje o brasileiro de maior prestígio no exterior.
Com a troca do diretor-geral e do superintendente do Rio de Janeiro, poucos dias após a saída de Moro o chefe do governo conseguiu realizar seu intento e começou a ter ingerência indevida na PF.
COMPROVAÇÃO – Reportagem de Bela Megale e Aguirre Talento, em O Globo nesta quinta-feira, comprova que no dia 27 de maio a Polícia Federal já estava curvada às pressões do chefe do governo e adiava a Operação Lume, cujo objetivo era busca e apreensão contra bolsonaristas suspeitos de envolvimento em atos antidemocráticos.
Para atrasar a operação, a Polícia Federal pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para “postergar” ou “recolher” os mandatos de busca e apreensão contra bolsonaristas.
A decisão foi tomada pela delegada Denisse Dias Rosa Ribeiro, que cumpriu ordens superiores do novo superintendente no Rio de Janeiro, Tácio Muzzi, e do diretor-geral Rolando de Souza, ambos nomeados após a saída de Sérgio Moro. Os três conseguiram retardar a Operação Lume em 20 dias, tempo mais do que suficiente para destruir provas e sumir com computadores e celulares.
ORDEM DO SUPREMO – Foi em 27 de maio que o ministro Alexandre Moraes determinou a deflagração da Operação Lume, com busca e apreensão contra 21 alvos bolsonaristas e também com quebra do sigilo bancário de 11 parlamentares da base de apoio do presidente Bolsonaro.
Mas a nova direção da PF mão obedeceu e deu início a uma manobra de “jus embromandi”, uma espécie de “juz sperniandi” operacional. Foi assim que a delegada Denisse Ribeiro levou exatos oito dias para escrever a petição ao Supremo com alegações que chegam a ser infantis.
Pede o retardamento ou revogação das ordens já emanadas, a pretexto de que “o direcionamento dos recursos da Polícia Federal seja inicialmente empregado na obtenção de dados de interesse e no preenchimento das diversas lacunas das hipóteses criminais aqui apresentadas”, escreveu a delegada, sem detalhar que lacunas seriam essas.
ALEGAÇÕES PUERIS – A delegada falou também em “perda de energia” e num “risco de aumento do escopo” da investigação, além de torná-la “menos objetiva, menos transparente e mais onerosa”.
Embromou bastante, mas acabou entregando o jogo, ao argumentar que a realização das “diversas medidas propostas em etapa tão inicial” da investigação traria risco desnecessário à estabilidade das instituições.
Em tradução simultânea, ao invés de “risco desnecessário à estabilidade das instituições”, por favor leia-se “Bolsonaro não quer”.
CAUSOU ESTRANHEZA – Essa manifestação para adiar ou “recolher” os mandados de busca e apreensão é incomum e prejudicou a operação, prevista para o início de junho. Essa atitude da Polícia Federal foi vista com estranheza no STF, já que a Polícia Federal é obrigada a cumprir mandados expedidos pelo Judiciário e não tem prerrogativa de opinar sobre essas ações.
O mais incrível é que na petição, a delegada também questiona se a PF terá “independência para realizar suas linhas de investigação próprias neste caso” ou se vai “atuar limitadamente como longa manus do juízo, restringindo-se ao mero papel de executora de ordens”, em claríssima crítica à atuação do relator Alexandre de Moraes.
AFASTAR A DELEGADA – Segundo fontes do STF, dizem os repórteres Bela Megale e Aguirre Talento, o ministro Moraes analisa um pedido da Procuradoria-Geral da República para afastar a delegada, que faz parte da equipe, mas quem a lidera é o delegado Igor Romário de Paiva.
O inquérito dos atos antidemocráticos é conduzido por uma equipe designada especialmente pelo ministro Alexandre de Moraes, a mesma que toca o inquérito das fake news. Em um despacho, Moraes garantiu a independência deles para atuar neste caso, sem necessidade de se subordinar ao novo diretor-geral da PF Rolando Alexandre de Souza, indicado pessoalmente por Bolsonaro após a saída de Maurício Valeixo.
Em uma outra investigação na qual atuou, a delegada Denisse também já tinha feito reclamação semelhante. Na Operação Zelotes, ela escreveu um relatório no qual criticou falta de “foco” dos órgãos parceiros da investigação e apontou que isso atrapalhou no resultado final do caso.
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P.S.
 – A dúvida é saber se a Polícia Federal vai continuar curvada a um governante desequilibrado como Jair Bolsonado ou vai dar o grito de independência e voltar a operar visando ao interesse público(C.N.)

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