João Paulo Saconi
O Globo
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A manhã movimentada de acontecimentos relacionados à família de Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, dia 19, não refletiu em agitação entre apoiadores do presidente reunidos no WhatsApp. A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, fez cair pela metade as mensagens trocadas entre bolsonaristas na plataforma.
Os dados são referentes ao monitoramento de 1.734 grupos e foram obtidos pelo professor David Nemer, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Ao Sonar, Nemer indicou que na última terça-feira, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação contra membros da base bolsonarista, os grupos somaram 18,9 mil mensagens até entre meia-noite e 9h30m.
FLUXO EM QUEDA – No dia seguinte, quarta-feira, o número foi de 17 mil. Já nesta quinta-feira, com Queiroz preso desde às 6h, foram trocadas apenas 9 mil mensagens nesse mesmo período. A diminuição no fluxo de conversas tem motivo, segundo Nemer. Ele avalia que, na existência de poucas críticas a Bolsonaro por parte dessa base, a suspensão da troca de ideias se justifica como uma evidência de que há nela uma preocupação com o episódio envolvendo Queiroz, detido em um imóvel de Frederick Wassef, advogado de Jair e de Flávio.
“A autocrítica dos apoiadores e a crítica ao Bolsonaro não existem nesses grupos, o que mostra como eles se radicalizaram. Antes, era possível ver um debate, com perguntas e questionamentos. Hoje, quem questiona tem uma chance muito grande de ser removido. Nesse momento, a forma de entender o impacto que a prisão do Queiroz teve é analisar o silêncio, que representa a preocupação com Bolsonaro e o bolsonarismo como um todo”, afirma o professor, projetando duas possibilidades: “Estão preocupados ou esperando conteúdo que os guie e dê um norte para a reação”.
O fator surpresa da operação que prendeu Queiroz, diz Nemer, também pode ter sido definitivo para que os bolsonaristas tenham conversado menos uns com os outros nesta quinta-feira. Em outras ocasiões, quando os apoiadores do presidente nutriam expectativas por determinados acontecimentos, eles costumavam ter respostas e conteúdos prontos para reagir em defesa de Bolsonaro.
Não à toa, as mensagens que mais circularam ultimamente foram ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou as diligências da última terça-feira contra integrantes da base presidencial. “O ecossistema do WhatsApp bolsonarista não está preparado para trazer respostas, mesmo que em forma de desinformação, quando é pego de surpresa. Esses conteúdos estão sendo produzidos. Então, o que fica por enquanto é o silêncio”, analisa Nemer.