Carlos Newton
O Brasil vive uma fase democraticamente tenebrosa desde o primoroso governo de Itamar Franco (dezembro de 1993 a janeiro de 1995), que pegou a inflação anual em 631,54% e dois anos depois entregou o cargo com índice de apenas 22,41% ao ano, em viés de baixa, com inflação somente de 1,56% no seu último mês de gestão, dezembro de 1995. O mais importante é que o governo Itamar tirou o país da recessão e registrou crescimento de 10% do PIB e 6,78% da renda per capita.
A partir de Fernando Henrique Cardoso, em 2001, quando o PIB ficou num sobe-e-desce, o PT foi ganhando força com sua estratégia de dividir o país entre “nós e eles”, enfrentamento que se tornou uma espécie de política nacional e cada vez é mais acirrado.
FORA PT! – Foi essa divisão entre “nós e eles” que acabou tirando o PT do poder em 2018, simplesmente porque os erros governamentais foram tantos que os “eles” passaram a ser mais numeroso que os “nós”.
Jair Bolsonaro foi eleito por essa dicotomia, mas infantilmente não agiu como Itamar Franco, que montou um governo de união nacional. Logo ao assumir, o presidente Itamar reuniu-se com os presidentes de todos os partidos, disse que renunciaria e convocaria eleições se não tivesse apoio político e assim conseguiu a adesão de todos os partidos, inclusive do PT, pois até o relutante Lula afirmou à época que a governabilidade estava garantida.
De lá para cá, surgiu a divisão petista entre “nós e eles”, que Bolsonaro agora está radicalizando, em busca de poderes de exceção (leia-se: uma nova ditadura) e para tanto investe vigorosamente contra a imprensa, para se fazer de vítima.
“DONO DO PODER” – O atual locatário do eixo Alvorada-Planalto se julga dono do poder e tenta desmontar qualquer possibilidade de existência de imprensa independente, sem a qual não existe democracia. Já conseguiu minar a independência dos Poderes, através do pacto pela impunidade, celebrado com os presidente do Supremo, da Câmara e do Senado, mas ainda falta muito para
baixar um novo AI-5, como sugere o irresponsável filho Zero Três.
baixar um novo AI-5, como sugere o irresponsável filho Zero Três.
A falta de cultura, a ambição e a arrogância fazem com que Bolsonaro e seus filhos pensem (?) que seu plano é perfeito, vai comandar as massas pelas redes sociais e logo estará tudo dominado, como se diz hoje em dia.
É um plano aparentemente perfeito. Mas as aparências enganam, especialmente quando se trata de política.
OS OLHOS DA NAÇÃO – Bolsonaro e os filhos jamais conseguirão destruir a imprensa, que funciona como os olhos da nação, no entender de Ruy Barbosa: “Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam…”
“A imprensa é o quarto poder”, definiu há quase três séculos o filósofo irlandês Edmund Burke, que era conservador, mas o revolucionário Karl Marx concordava com ele: “A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas”, dizia Marx, que era jornalista, editor da gazeta de Renânia.
FALTA DE CULTURA – Bolsonaro e seus filhos são hábeis em manipular adeptos, mas nada sabem sobre Filosofia, gostariam de excluir do currículo essa doutrina que estuda o saber acumulado pela Humanidade. Desconhecem até o moderno pensamento de Julian Assange, um jornalista contemporâneo que dedicou sua vida à liberdade de imprensa e jamais será esquecido:
“Aparentemente, a imprensa ultrapassa os limites éticos, mas isso não significa que um jornal inteiro deva receber uma sentença de morte por causa disso”, assinala Assange.
Aqui na Tribuna da Internet, cultivamos a utopia de exercer um jornalismo livre. Millôr Fernandes ensinava que “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. A frase é genial, mas na TI julgamos que a imprensa deve apoiar entusiasticamente todos os atos do governo que sejam positivos e condenar com o mesmo rigor os que forem negativos. Para nós, esta é a doutrina do jornalismo independente, que praticamos.
INDEPENDÊNCIA – Não contem com nosso apoio incondicional a Jair Bolsonaro, Lula da Silva, Ciro Gomes, João Doria e Wilson Witzel, que são hoje os mais importantes líderes políticos do país, porque esse apoio irrestrito jamais acontecerá.
Na semana passada, demos exemplo do que significa o jornalismo independente. Quando as três promotoras convocaram açodadamente a imprensa, para anunciar que o porteiro do condomínio de Bolsonaro tinha mentido, a grande imprensa imediatamente engoliu essa versão.
Mas a Tribuna da Internet não recuou e não só conseguiu demonstrar que o porteiro não mentira, como também descortinou a armação montada para desmoralizar seus depoimentos. A Folha de S. Paulo correu atrás das denúncias da TI e confirmou que a tal perícia era uma falácia e as gravações da portaria poderiam ter sofrido manipulação.
UM HOMEM HONESTO – Na verdade, nada indicava que aquele modesto trabalhador do condomínio havia mentido. Pelo contrário, ele tinha cumprido suas obrigações e prestara dois depoimentos à Polícia que deviam ser respeitados pelas arrogantes promotoras.
E vai ser sempre assim. Não importa o que a grande mídia afirme ou aceite. Não interessa que os sites amestrados, de olho nas verbas públicas, defendam o governo Bolsonaro de maneira incondicional, como se nada fizesse de errado. No governo do PT também era assim e muitos sites e blogs se venderam por 30 dinheiros.
Mas passamos longe disso aqui na TI e sempre lembramos a opinião do líder britânico Winston Churchill: “Não existe opinião pública, existe opinião publicada”.