Por Hora do Povo Publicado em 30 de junho de 2019
O vice-presidente do PDT e ex-ministro Ciro Gomes criticou as comemorações de Bolsonaro e governistas pela assinatura do acordo do Mercosul com a União Européia (UE)
“Muito barulho entre os governistas sobre a velocidade com que, em menos de seis meses de governo, Bolsonaro logrou concluir o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, afinal, estas negociações “se arrastavam há mais de 20 anos”. Pode ser… Mas é muito importante que coloquemos dois pés atrás antes de comemorarmos qualquer coisa para além desta pseudovelocidade: em matéria de entendimentos internacionais quase sempre a pressa é inimiga da perfeição”, escreve Ciro em artigo avaliando a assinatura do acordo (O tratado Mercosul-União Européia).
“Por que este tratado demorou tanto? Resposta óbvia: porque há uma brutal confusão de interesses envolvidos. Vejamos os principais: agricultura e pecuária versus indústria; interesse estratégico de Brasil versus Argentina e demais companheiros de Mercosul; mortal assimetria na competitividade sistêmica entre os dois blocos econômicos”.
“A ideia de livre comércio deve guiar os esforços da humanidade, não tenho reservas a isto, mas, não sejamos abestados, como diria Tiririca: a taxa de juros que financia o industrial europeu é menor que um sexto daquela que financia o industrial brasileiro, a sofisticação tecnológica media do produto europeu é, pelo menos, três gerações na frente do produto industrial brasileiro médio, a indústria europeia compete com larga escala em sua oferta, no Brasil, 7 em cada 10 empregos são oferecidos por pequenas empresas. Juntem-se os problemas de logística, de produtividade, de barafunda tributária, de manipulação populista da taxa de cambio em favor do consumismo e, é possível entender porque, sob o ponto de vista industrial este acordo – precisamos lê-lo – pode ser devastador para o Brasil: o buraco em nossa conta com o estrangeiro em manufaturados, quando crescemos pífios 2% chega a mais de U$ 120 bilhões de dólares em apenas um ano! Pegue tudo isto e multiplique por 100 e teremos uma pista para a devastação que liquidará os últimos suspiros de uma indústria Argentina”, analisou Ciro.
“É assim: no momento desta assinatura os dois principais países do Mercosul agonizam economicamente guiados por uma visão estúpida imposta a ambos por influencia estrangeira. A Argentina está praticamente completando a destruição total de seu parque industrial e o Brasil está completando a pior década em 120 anos (!) em matéria de desenvolvimento econômico. Nossa indústria que já foi quase um terço de nosso PIB definha hoje para menos de 10%”, aponta no texto.
Ciro diz que “Bolsonaro em seu despreparo troca os pés pelas mãos autorizando agrotóxicos banidos na mesma Europa, que desdenha das políticas de proteção de populações tradicionais especialmente indígenas, que ameaça a política de reserva legal ou de proteção de biomas e recursos hídricos sensíveis está dado. Mas isto é prato cheíssimo para um surto de neoprotecionismo, agora a nobre e respeitável pretexto de retaliação ao produto agro-pastoril originário do Brasil”.
“É, amigos, Bolsonaro precisa aprender que o Céu não é perto… O problema é que quando ele aprender poderá ser muito tarde para o Brasil”, conclui.