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terça-feira, julho 30, 2019

Estratégia de Delgatti é proteger o mandante, para extorqui-lo pelo resto da vida


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Ilustração reproduzida do Jornal Naciona
Carlos Newton
O sigilo que cerca o inquérito dos hackers é impressionante. Não há vazamento e a imprensa se realimenta de si mesma, repetindo informações que acabam se embaralhando. O fato concreto é que o prazo da prisão temporária está se esgotando. Na forma da lei, são apenas cinco dias, prorrogáveis por mais cinco dias, e fim de papo. Portanto, o juiz federal Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Criminal de Brasília, terá de decretar a prisão preventiva dos quatro indiciados, até que a investigação se aprofunde.
Na verdade, a prisão preventiva já deveria ter sido determinada desde do início da operação Spoofing (“falsificação tecnológica que procura dar a entender que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”, segundo a definição da Polícia Federal). Não há alternativa. Se não for determinada a prisão preventiva, os acusados terão de ser libertados daqui a dois dias.
MUITAS DÚVIDAS – Ainda falta descobrir muita coisa, a partir da provas que estão sendo colhidas com as quebras de sigilos e também com novos depoimentos dos quatro presos. Vejam as dúvidas que precisam sem dissipadas:
  • O hacker Walter Delgatti Neto agiu sozinho ou teve cúmplices na operação de hackeamento?
Essa resposta depende do número de autoridades hackeadas. Se realmente foram centenas ou até mais de mil, atingindo inclusive o presidente da República, com toda certeza houve cúmplices, que precisam ser identificados.
  • Os outros presos – Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Danilo Cristiano Marques atuaram no hackeamento?
Os três negam e o próprio Delgatti diz que agiu sozinho, mas não se pode confiar na palavra dele, que é um estelionatário de  muita experiência.
  • Delgatti diz que atuou sozinho, não houve mandante e não foi pago por Glenn Greenwald, do The Intercept, nem por qualquer outro interessado.
As três informações podem ser mentirosas. Dependendo do número de hackeados, será impossível Delgatti ter agido sozinho. Há dúvida sobre a existência de mandante e também não se sabe se Greenwald pagou pelo material, que deu grande visibilidade a seu site. As duas informações estão sendo investigadas, mas de antemão a Polícia Federal não acredita que Delgatti não tenha sido pago por interessados em desmoralizar a Lava Jato, anular condenações e evitar novas prisões de políticos e empresários corruptos. Essa declaração de Delgatti – de que agiu voluntariamente sem receber pagamento – chega a ser considerada ridícula pelos investigadores.
Quando essas dúvidas forem dissipadas, o caso policial estará encerrado. Será  então apresentada a denúncia pela Procuradoria-Geral da República e o juiz Vallisney de Oliveira decidirá se as provas são suficientes para abertura do processo.
O MANDANTE – Tudo indica que será difícil encontrar o mandante. Se o serviço tiver sido bem feito, com pagamento em dinheiro vivo ou em bitcoins ou outras criptomoedas, o rastreamento será dificultoso e a conclusão do trabalho policial vai depender de uma confissão do hacker Delgatti.
Poe enquanto, tudo indica que ele não pretende denunciar o mandante. Ciente de que, na forma da lei, sua pena será leve, o criminoso deve manter o silêncio, na esperança de poder extorquir o mandante pelo resto da vida.   
Este é o quadro atual da situação.

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