Da Redação
Em março de 2017, a pedido do então juiz federal Sérgio Moro, a procuradora Laura Tessler foi afastada do caso do tríplex de Lula.
Em mensagem ao chefe da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, Moro reclamou de suposta falta de competência de Tessler.
Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem, escreveu Moro.
É óbvio que não cabe a um juiz interferir no time do Ministério Público Federal, mas isso aconteceu.
Deltan Dallagnol repassou a mensagem de Moro ao colega Carlos Fernando dos Santos Lima, dizendo que “na audiência do Lula, não podemos deixar acontecer [a escalação de Laura Tessler]”.
Na audiência mencionada, o MPF foi representado pelos procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon.
Tessler não participou do caso do tríplex a partir de então, ao menos publicamente.
Agora, novas mensagens reveladas pelo Intercept Brasil mostram que a procuradora afastada tinha uma atitude crítica em relação a Jair Bolsonaro.
Em 31 de outubro de 2018, depois de confirmada a eleição de Bolsonaro, ela escreveu em um grupo “Pelo amor de Deus!!! Alguém fala pro Moro não ir encontrar Bolsonaro”.
O encontro selou a entrada de Moro no Ministério da Justiça e Tessler provavelmente nem sabia do pior.
Em primeiro de novembro de 2018, o então vice-presidente Hamilton Mourão revelou que Moro havia sido sondado para ser ministro de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, entre o primeiro e o segundo turnos.
Isso abriu o campo para vários questionamentos éticos sobre decisões anteriores de Moro.
Na semana que antecedeu o primeiro turno, Moro havia feito manobra para vazar delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que não havia sido homologada pelo STF, com acusações graves ao PT, Lula e Dilma Rousseff.
Bolsonaro, diante disso, quis “pagar” Moro com um cargo, uma promessa de vaga no STF?
A procuradora Laura Tessler não parecia preocupada apenas com o fato de que a entrada de Moro no governo Bolsonaro poderia abalar a credibilidade da Lava Jato.
Pelas mensagens trocadas naquele 28 de outubro, ela parecia ter uma opinião negativa do presidente eleito.
“Bozo é muito mal visto…se juntar a ele vai queimar o Moro”, escreveu a procuradora, referindo-se ao futuro presidente com o nome do palhaço.
É impossível dizer, a partir das mensagens divulgadas até agora peloIntercept, se em março de 2017, quando pediu o afastamento de Tessler, Moro conhecia opinião dela sobre Bolsonaro, futuro chefe do então juiz federal.