Reuters/Agência Senado
Nota da Casa Civil confirma saída de ministro Palocci; senadora Gleisi Hoffmann é a nova titular da pastaGleisi assume nesta quarta-feira (8). O Planalto espera, com isso, pôr fim à crise política que estava paralisando o governo e o Congresso
08/06/2011 | 03:00 | Das agênciasDepois de 23 dias sendo alvo de denúncias de enriquecimento ilícito e suspeitas de ter feito tráfico de influência no governo federal como consultor privado, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, pediu ontem demissão do cargo. A presidente Dilma Rousseff aceitou o pedido e escolheu a senadora paranaense Gleisi Hoffmann para a Casa Civil. Gleisi assume nesta quarta-feira. O Planalto espera, com isso, pôr fim à crise política que estava paralisando o governo e o Congresso.
Palocci não falou publicamente sobre sua demissão. Mas a Casa Civil emitiu uma nota em que o ex-ministro se defende. O ministério lembrou que a Procuradoria-Geral da República não viu nenhuma razão para investigar o ministro, em parecer emitido na segunda-feira.
Gleisi alia experiência política e gestão administrativa
Confirmada para suceder ao ministro Antonio Palocci na chefia da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) tem atuado com destaque na defesa do governo no Senado. Ela praticamente trabalhava como uma líder do governo. Fontes do Planalto avalizam que Gleisi tem todas as condições para comandar a Casa Civil e o relacionamento com o Congresso.
A paranaense de 45 anos tem experiência política, adquirida nas duas campanhas eleitorais, e reúne características técnicas, reforçadas durante o comando da diretoria de Finanças da Itaipu Binacional. Ex-presidente do PT no Paraná, Gleisi perdeu a eleição para o tucano Beto Richa à prefeitura de Curitiba em 2008, mas conseguiu se eleger ao Senado nas eleições do ano passado e contou com o apoio ostensivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da então candidata Dilma Rousseff
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Segunda vez
Quebra de sigilo derrubou ministro no governo Lula
Antonio Palocci experimentou ontem a segunda “queda” como ministro. Em 2006, quando era ministro da Fazenda na gestão Lula, ele resistiu a uma crise política intensa durante vários dias, mas acabou pedindo demissão do cargo. Uma mansão teria sido alugada em Brasília por ex-assessores de Palocci – dos tempos em que era prefeito da cidade paulista de Ribeirão Preto – para a suposta prática de tráfico de influência. Palocci negou que frequentasse o lugar, mas foi desmentido pelo caseiro Francenildo dos Santos Costa.
A assessoria de Palocci teve acesso à quebra de sigilo bancário do caseiro, que mostrava um depósito de R$ 25 mil, e passou as informações à imprensa. O vazamento dos dados tornou a situação de Palocci insustentável e ele pediu para sair. Em 2009, por 5 votos a 4, o STF rejeitou abertura de processo criminal contra Palocci por quebra de sigilo bancário de Francenildo.
Porém, para se livrar da indenização de R$ 500 mil a que foi condenada a pagar, a Caixa Econômica Federal (CEF) alegou à Justiça, em maio passado, que a responsabilidade pelo vazamento dos dados foi do gabinete de Palocci.
Com a defesa da Caixa, a oposição pediu a reabertura do caso da quebra de sigilo, mas o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou ontem a representação contra Palocci.
Da Redação
“O ministro considera que a robusta manifestação do procurador-geral da República [Roberto Gurgel] confirma a legalidade e a retidão de suas atividades profissionais no período recente, bem como a inexistência de qualquer fundamento, ainda que mínimo, nas alegações apresentadas sobre sua conduta”, diz a nota da Casa Civil. “Considera, entretanto, que a continuidade de embate político poderia prejudicar suas atribuições no governo. Diante disso, decidiu solicitar seu afastamento”, prossegue o texto.
A Presidência da República, também por meio de nota oficial, lamentou a saída de Palocci. “A presidenta aceitou e lamenta a perda de tão importante colaborador”, diz o texto, que também destacou “a valiosa participação de Antonio Palocci em seu governo” e “os inestimáveis serviços que prestou ao governo e ao país”. Palocci
Surpresa
A demissão de Palocci pegou os líderes governistas e de oposição da Câmara dos Deputados exatamente no meio de uma negociação sobre a possibilidade de convocar o agora ex-ministro para prestar esclarecimentos sobre seu enriquecimento nos últimos quatro anos, quando o patrimônio dele aumentou 20 vezes, saltando de R$ 375 mil para R$ 7,6 milhões.
Governo e oposição buscavam uma forma de ouvir Palocci, mas de uma forma combinada com o próprio ministro, sem que fosse por meio da convocação aprovada pelos partidos de oposição na Comissão de Agricultura.
Palocci, anteontem à noite, já havia informado os deputados governistas a disposição de ir à Câmara para prestar esclarecimentos. Mas no fim da tarde de ontem o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), foi avisado da reunião que ocorria no Planalto para decidir o futuro de Palocci e pediu tempo aos líderes partidários que estavam em sua sala.
Um pouco mais tarde, o próprio Palocci telefonou para Maia e para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), relatando sua decisão pela demissão. Com a demissão, nenhuma decisão sobre a convocação de Palocci foi tomada no Congresso. Mas, na prática, o pedido perdeu efeito, pois ex-ministros não podem ser convocados pelo Congresso a se explicar.
Apesar disso, a oposição informou que ainda pretende ouvir o ex-ministro. O líder do DEM na Câmara, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), disse que os oposicionistas devem, agora, apresentar um convite para que Palocci apresente esclarecimentos na Câmara – que o ex-ministro poderá recusar. A convocação não poderia ser recusada.
Futuro incerto
Deputado entre os anos de 2006-2010, período em que multiplicou seu patrimônio 20 vezes como consultor privado, o ex-ministro Antonio Palocci não voltará à Câmara Federal. Palocci não concorreu às eleições para a Câmara no ano passado para coordenar a campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff. Palocci foi a primeira baixa entre os ministros do governo Dilma. Ele assumiu o cargo em 1.º de janeiro deste ano e ficou 158 dias no cargo.
Interatividade
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Fonte: Gazeta do Povo