Helio Fernandes
Muita gente acredita em pesquisa, alguns não fazem nada (estamos falando de levantamento eleitoral) sem pagar os muitos Institutos que vivem faustosamente dessas buscas, que geralmente não se sabe onde são feitas. Desenfreadas, mas quase sempre distantes da realidade.
Sem desrespeito, desprezo ou desconsideração com Ronaldo, o verdadeiro “fenômeno” é Luiz Inácio Lula da Silva. Fenômeno e praticamente milagroso. Onde conseguiu esses 87 por cento de popularidade (desculpem, não há outra palavra) tão badalada, glorificada e até, para os adversários, resmungada?
Se formos usar de sinceridade, apliquemos apenas o que ficou sendo um item irrefutável da personalidade de Lula, desliguemos o personagem humano do coadjuvante eleitoral, a conclusão terá que ser única e exclusivamente esta: 87 por cento que ninguém sabe como foram acumulados.
Já que falamos em Reagan e seus 82 por cento de popularidade (ao deixar os 8 anos de governo), aprofundemos a comparação. Ninguém sabe como Reagan chegou a ser indicado candidato pelo Partido Republicano. E mais estranho, como ganhou as suas eleições? (Uma eleição e uma reeleição, o máximo que a Constituição americana permite, por causa do medo das quatro vitórias seguidas de Roosevelt).
Em todos os quesitos (como se estivessem no Sambódromo), Lula derrota Reagan. Ator conhecido e reconhecido como canastrão, Reagan é suplantado por Lula, um ator nato, desenvolto, desembaraçado, descontraído. Talvez essa seja sua grande atração e a alavanca para os 87 por cento. (Dos que aceitam e reconhecem a pesquisa).
Reagan não tinha nenhum caráter, escrúpulo, respeito pelos outros. Foi o maior delator da Comissão McCarthy, denunciando dezenas de colegas de trabalho, por questões ideológicas. Charles Chaplin, até hoje o maior gênio do cinema (em matéria de humorismo e criatividade, depois dele, no mundo inteiro, vem o também gênio Chico Anysio), teve que deixar os EUA e ir morar na Inglaterra. Por causa da perseguição estimulada, alimentada e informada pelo ainda não presidente Reagan.
Como presidente sofreu atentado muito mais grave do que se imaginou ou se noticiou. Teve que se submeter a cirurgia de proporções preocupantes para os médicos. Não quis passar o cargo ao vice, Bush pai. Quando ia para a mesa de operação, chegou o Procurador Geral da República, disse a ele: “Presidente, como o senhor terá anestesia geral, precisa transferir o cargo, numa emergência, o senhor não poderá agir”.
Sem a menor consideração pelo vice, presente, perguntou aos médicos, “posso operar com anestesia local?” Os médicos, assustados, pediram um tempo, se reuniram numa sala ao lado. O que fazer com um presidente tão autoritário? Disseram que sim, Bush ficou esperando quase 4 horas, quais seriam seus pensamentos?
Lula não seria capaz desse desrespeito, embora fosse arrogante, dominador, sem nenhuma preocupação com os dinheiros públicos. Perdulário de escândalos, se beneficiou de um dos maiores de todos os tempos, que foi o MENSALÃO. Apesar de insistir, “não sabia de nada”, é lógico, claro e evidente que “sabia de tudo”.
Depois das denúncias públicas numa Câmara traumatizada pelo discurso de 7 horas (do deputado Roberto Jefferson), estava pronto para renunciar, em vez de sofrer o impeachment. (Como Nixon em 1972). Salvou-se sem saber como, aí aproveitou a vitória, saboreando-a até o fim, embora não fosse o desejado. Uma parte desses 87 por cento dos pontos das pesquisas, foram somados e acumulados a partir daí.
Do ponto de vista político e eleitoral, Reagan não existe no plano de comparação com Lula. Este disputou e perdeu quatro eleições diretas e importantes, uma para governador de São Paulo e três para presidente da República, fato inédito na História do mundo ocidental.
Depois, ganhou duas para ele mesmo, e não podendo colocar na sala de troféus a terceira faixa de campeão, “inventou” um candidato, fê-lo (Ah! Janio Quadros) vencedor. E com o fato inédito de ser sucedido por uma mulher, o que jamais acontecera.
Especularam muito sobre o comportamento de Lula depois que deixasse o governo. O próprio Lula, querendo ou não querendo, direta ou indiretamente, sabendo ou não sabendo (como no caso do mensalão e dos outros atos vergonhosos do seu governo), estimulou todas as análises, expectativas e perspectivas.
É indiscutível, Lula não vem se habituando com o ostracismo. Ninguém se acostuma, dizem que não é “ostracismo”, mas a verdade é que sofrem terrivelmente. Com a falta de Poder e a consequente depressão. Lula não é tão atingido como FHC, pelo fato de ter 15 anos menos. E dessa forma se mantendo no jogo.
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PS – Mas a verdade é que ninguém acertou no comportamento de Lula, acertando ou errando totalmente. Nem ONU, nem viagens ao exterior confraternizando com os “amigos” que continuam no Poder.
PS2 – Dona Dilma está satisfeita, nesse limiar do primeiro mês de governo? A ausência de Lula, é o que ela esperava? O silêncio absoluto do ex- a respeito da tragédia serrana, surpreendente? Lula não teve nem tinha nada a ver?
PS3 – De qualquer maneira, os 87 por cento estão aí mesmo. Falsos ou verdadeiros, serão utilizados em 2014. Ou em 2018? Dona Dilma estará com 71 anos, Lula com 73. (Só faço análise com o real, a irrealidade não pode ser examinada, a não ser por mistificadores).