Carlos Chagas¼br /> ¼br /> É provável que na reunião ministerial de hoje Dilma Rousseff confirme a disposição de criar, no âmbito do governo, o tal Conselho de Gestão, formado por técnicos e empresários empenhados em ver reduzidos os gastos públicos. Se isso acontecer, a presidente da República estará enxugando gelo. Para que um órgão paralelo cuidar da gestão da coisa pública quando há um ministério intitulado do Planejamento e Gestão?
Para amarrar Jorge Gerdau Johanpetter, empresário de conhecida competência, que recusou ser ministro do Lula e, agora, também de Dilma? Desse conselho ele não poderá escapar, mas, convenhamos, se é para economizar, para que gastar no mínimo com passagens aéreas, hospedagem, quem sabe jeton, para um numeroso grupo de amigos do governo chegar às mesmas conclusões a que já terá chegado a ministra Mirian Belchior?
¼br /> Nos tempos do Lula foram constituídos muitos conselhos, como o do Desenvolvimento Econômico, do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Político. Alguém se lembra de resultados práticos decorrentes das suas bissextas reuniões? Na hora das decisões, são os ministros que mandam. Ou deveriam mandar. Com todo o respeito, esse Conselho de Gestão lembra os versos de Cervantes sobre os Cavaleiros de Granada, aqueles que alta madrugada, brandindo lança e espada, saíram em louca cavalgada. Para quê? Para nada…
¼br /> DEVER CUMPRIDO SEM ALARDE ¼br /> ¼br /> Aplausos para a presidente Dilma Rousseff por haver cumprido o seu dever. Sem alarde, com pequeno grupo de ministros e assessores, ela agiu de bate-pronto. Viajou para o Rio em plena catástrofe, sobrevoou as regiões atingidas pelos temporais, solidarizou-se com as vítimas. Não tripudiou com a desgraça alheia nem omitiu-se.
Não fez promessas mirabolantes mas colocou o governo federal à disposição das autoridades fluminenses, ao mesmo tempo mobilizando contingentes e pessoal subordinados ao poder central. O importante é que Dilma não titubeou em ver sua imagem ligada a uma das maiores tragédias dos últimos quarenta anos, como alguém costumava fazer, esperando às vezes uma semana para viajar a locais semelhantes.¼br /> ¼br /> PROPRIEDADE CRUZADA
¼br /> A questão é complicada mas o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, resolveu enfrentá-la. Trata-se da propriedade cruzada dos meios de comunicação. Se um empresário de atividades ligadas à alimentação pode possuir uma fábrica de biscoito, outra de sardinha, esta de salsichas e aquela de macarrão, por que um empresário de comunicação deve ser proibido de dispor de um jornal, uma revista, uma emissora de rádio e outra de televisão?
¼br /> Esse é o argumento a favor, mas há o contra: dominando os variados instrumentos da mídia numa determinada região, ou até nacionalmente, esse empresário não estará impondo à sociedade uma única versão dos acontecimentos? Ainda mais quando coloca a notícia serviço de seus interesses e de suas concepções. Se for político, pior ainda.
¼br /> De qualquer forma, é preciso debater e, se for o caso, agir. Nos Estados Unidos, até o governo George W. Bush, a propriedade cruzada dos meios de comunicação era proibida. Depois, abriram-se brechas e o assunto ainda é objeto de debates no Congresso. Aqui, jamais existiram restrições à formação de verdadeiros impérios. Terá sido bom? Vamos discutir.
¼br /> PRAZO PARA ADAPTAÇÃO
¼br /> Irrita-se a ministra da Pesca, Idely Salvatti, quando ameaçam presenteá-la com um caniço e um samburá, quem sabe até com um peixe. Suas relações com a atividade pesqueira são nenhuma, mas esse não é motivo para criticá-la ou denegri-la. Poderá aprender, em tempo útil, como outros aprenderam. Edison Lobão, por exemplo, entendia muito pouco de energia e nada de minas. Em pouco tempo tornou-se um expert nas duas matérias, tanto que após o interregno para reeleger-se senador, viu-se convidado por Dilma Rousseff para conduzir o ministério que ocupou no governo Lula.
¼br /> Quem garante que Pedro Novais, especialista em Receita Federal, não produzirá bons resultados no ministério do Turismo? Vale o exemplo para Garibaldi Alves, na Previdência Social, Fernando Bezerra, na Integração Nacional, Mario Negromonte nas Cidades, Alexandre Padilha na Saúde, Fernando Pimentel no Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Aloizio Mercadante na Ciência e Tecnologia, Tereza Campelo no Desenvolvimento Social e quantos mais deslocados e até surpresos com os ministérios recebidos?
¼br /> O problema é que estarão todos de saia curta na reunião ministerial de hoje, caso a presidente Dilma Rousseff resolva iniciar uma sabatina a respeito dos planos e projetos de cada um. Esperam, pelo menos, mais um mês de moratória…
Fonte: Tribuna da Imprensa