Carlos Chagas�
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Parece longe de ter sido contida a rebelião no PMDB, depois de receber três e não seis ministérios, que mantinha no governo Lula, alem de não haver engolido o congelamento das nomeações para o segundo escalão. Dirigentes, líderes e até segmentos das bancadas do partido não perdoam a presidente Dilma Rousseff, apesar do jogo de cena e das juras de fidelidade que se sucedem.
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Um raciocínio domina o PMDB, sobre a necessidade de fazerem valer sua força nesses primeiros tempos do novo governo, porque depois ficará pior, caso não reajam. Para os cardeais da legenda, a responsabilidade por essa diminuição deve ser repartida entre a presidente da República e o partido dela, o PT, coisa que dá no mesmo. Eles argumentam que no governo Lula os companheiros exerceram o poder, mas no governo Dilma, buscam tomar o poder. O risco é grande, em especial diante da hipótese de, depois dela, retornar o Lula, já então sob nova direção, ou seja, dono absoluto do estado brasileiro. Mais como imperador, até, caso a corrente não seja contida no nascedouro.
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É o que pretende o PMDB, agora, julgando-se garfado depois de exercer as funções de condômino e co-participante da eleição de outubro passado. Tivesse o partido se inclinado pela candidatura José Serra e quem garante que os resultados não teriam sido diferentes? A hora, assim, é de cobrar a conta, não apenas pela contribuição para a eleição de Dilma como para prevenir a completa conquista do poder pelo PT, candidato a partido único…
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APENAS IGUALDADE DE OPORTUNIDADES NÃO BASTA �
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Setores hoje meio fora de moda, como a intelectualidade acadêmica e esquerdista, aqueles que já foram do PT mas abandonaram o partido, alertam para um hiato nas propostas de Dilma Rousseff. Se concordam com o objetivo de extirpação da pobreza absoluta e da miséria, discordam do diagnóstico de que tudo se resolverá com a igualdade de oportunidades para toda a população. Aliás, desconfiam das elites que se apegam tanto a essa meia verdade, porque atrás da igualdade de oportunidades situa-se a livre competição entre quantidades distintas.
Como poderão competir o filho do miserável desempregado, morador num barraco da periferia, e o pimpolho bem alimentado da classe média e dos andares superiores? Não adianta ficar citando as exceções como regra, à maneira do menino descalço que vendia amendoim na feira haver-se tornado grande industrial, banqueiro ou até presidente da República. Para cada exemplo de quem se beneficiou pela igualdade de oportunidades ou pela livre competição entre quantidades distintas existirão milhões que ficaram pelo caminho, ou nem puderam trilhá-lo.
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Só a igualdade de oportunidades não basta. É necessária mas, isolada, torna-se enganação, tendo em vista que imensos contingentes de brasileiros começam a não ter oportunidade ainda na barriga da mãe, doente, mal alimentada e incapaz de transmitir ao futuro bebê as condições mínimas de competir ou de ter oportunidades.
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Seria para essa massa que deveriam voltar-se as atenções do novo governo, sabendo da importância de assistir os menos favorecidos com instrumentos acima e além de conceder-lhes igualdade de oportunidades. Apenas escola não chega, é preciso saúde, emprego, alimentação, lazer, cultura e até privilégios.
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PRELÚDIO DE CRISE
Depois de o Supremo Tribunal Federal haver decidido que seria do presidente Lula a palavra final sobre a extradição de Césare Battisti, vem o presidente da mais alta corte nacional de justiça dar o dito pelo não dito, admitindo que seus colegas possam, quando reunidos, mandar o italiano de volta ao seu país.
Ora, o então presidente da República determinou que Battisti ficaria no Brasil, reconhecendo sua condição de refugiado político. O ministro Cezar Peluso reabre questão já concluída e deixa aberta a brecha para um confronto entre o Judiciário e o Executivo. Caso o Supremo decida pela extradição, como ficará a presidente Dilma Rousseff, que terá concordado em gênero, número e grau com o antecessor? Quem sabe se indicasse logo o décimo-primeiro ministro a decisão do Lula ganharia reforço?
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SARNEY TOMARIA A INICIATIVA?�
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É bom esclarecer que em termos de reforma política o Senado fez a lição de casa. Depois de acirrados debates, ainda em 2009, os senadores aprovaram não todas mas uma série de mudanças na legislação eleitoral e partidária. Os projetos desceram à Câmara e até hoje lá se encontram, sem solução. Tendências podem ter sido mudadas, mas um ponta-pé inicial tem que ser dado nesse que poderá constituir-se no segundo tempo da partida. Há quem suponha o atual e futuro presidente do Senado e do Congresso, José Sarney, tomando a frente dessa nova tentativa. Ainda mais se for ajudado pelo Lula, cuja promessa foi de, deixando o poder, trabalhar pela reforma política. Ao menos com a boa vontade do PT Sarney contaria, e como é um dos líderes do PMDB, quem sabe?
Fonte: Tribuna da Imprensa