Helio Fernandes
Não posso deixar de começar (mais uma vez me perguntando e procurando entender com especialistas o fato dessas catástrofes se repetirem), com a entrevista do governador do Rio. Só podia ser na Globo, ele sozinho diante de um microfone, nem mesmo um repórter para fazer indagações, pedir explicações. Não, ninguém podia “roubar” o espaço e o tempo do governador.
E Cabral, ínclito, altivo, altaneiro, textual: “É muita irresponsabilidade dessas famílias que vão morar em lugares inacessíveis, áreas de risco permanente, morrem e traumatizam o país”.
Já que deixou o governador BRADAR sozinho a RESPONSABILIDADE do povo, e a sua total isenção diante da catástrofe, a Globo precisaria explicar: “Por que o governador viajou para o exterior quando a tragédia já caminhava para o auge ou apogeu?”
Qual a razão do governador ficar no exterior, só decidiu voltar quando soube que Dona Dilma viria ao Rio, o “holofote” estaria garantido. De passagem, poderiam perguntar a Sergio Cabral: “Quem financiava sua viagem de férias? O Estado do Rio? Impossível. Ele mesmo? Tem recursos, apesar de acusadíssimo de enriquecimento ilícito (começando no dossiê Marcello Alencar), e também pelo fato de nunca ter trabalhado na vida, só ocupado cargos públicos. A Globo fará essas indagações, o governador responderá?
Os exemplos de coragem, de luta, de solidariedade são centenas, mas podem ser resumidos num episódio emocionante. Dois rapazes, no terceiro andar de um prédio, viram uma mulher tentando se segurar nos escombros de uma casa, (que logo seria derrubada por ondas colossais) jogaram uma corda para ela. O que aconteceu depois, de tão empolgante e emocionante, parece inacreditável pelo desfecho;
Quase levada por aquelas ondas assustadoras, ela conseguiu pegar a corda (fina, e é impossível explicar como se agarrou), os rapazes começaram a puxá-la de 12 metros de altura, ninguém acreditava que pudesse se manter agarrada, e que eles, lá de cima, tivessem força para puxá-la.
Pois tiveram, ela se manteve firme, eles num esforço impressionante, conseguiram puxá-la e colocá-la no terraço da casa. Duvido que alguém, acompanhando pela televisão, não tivesse ficado emocionado, rezando, torcendo, pedindo a Deus, de toda e qualquer maneira.
Para essa salvação milagrosa (desculpem), mais de 500 outras não puderam se salvar, não tiveram a menor chance ou oportunidade. Desesperadas, sequestradas pelas chuvas OCASIONAIS, e pela OMISSÃO PERMANENTE das autoridades, que descuidaram das suas obrigações e deveres. Morreram até mesmo sem saber como.
Aquele senhor, que depois de muito procurar “achou” a casa, lhe perguntaram, “alguém vivo?”. Respondeu: “Eram 9 pessoas da minha família, todos morreram”.
E diante do horror dos que ouviam, concluiu afirmando ou perguntando: “O que é que eu posso fazer?” Nada mais lancinante do que os dois fatos juntos. A perda de 9 familiares (mulher, filhos, pais e sogros) e a constatação lancinante, mas que podia muito bem ser chamada de REVOLTADA, nas circunstâncias horrorosas.
Esse homem reconhecia que não podia fazer nada, mas ao mesmo tempo condenava os que podiam fazer e não fizeram. No ano passado, na mesma região, temporal e desabamento, não na proporção de agora, mas com advertências de técnicos de todas as formações.
Diante do vulto da DESTRUIÇÃO, quase todos perguntam: “Quanto tempo levará para a RECONSTRUÇÃO?”. E esses mesmos especialistas, engenheiros, geólogos, os que estudam a movimentação das águas, represadas, libertadas, mudando de curso e de percurso, descendo a uma velocidade de mais de 100 quilômetros, respondem: “Pode calcular em 10 anos, se forem tomadas as providências adequadas”.
Outros especialistas, que passam a vida estudando para que outros não percam a própria vida, dizem: “Isso é tarefa para uma geração”. E repetem, para demonstrar a falta de confiança nos que fingem que governam: “Se forem tomadas as providências indispensáveis”.
Mas a preocupação desses técnicos se localiza também no AGORA, advertem: “Vai continuar chovendo, mais tragédia”. E em muitos lugares, existem populações ainda “ilhadas”, sem o mínimo de possibilidade de socorro.
No Brasil nunca houve nada parecido. E o governador cabralzinho “condena” os que vão morar em encostas, mas não assume a responsabilidade em duas grandes questões. 1 – E a fiscalização, responsabilidade do seu próprio governo? 2 – E não dá uma palavra a não ser de reprovação, para os que vão morar nas encostas? Morariam em que lugares, no “entendimento” dele?
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PS – No Estado do Rio, cabralzinho é o maior responsável, perdão, irresponsável, por omissão.
PS2 – No plano nacional, quem vai responsabilizar o ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima? “Financiou” a própria candidatura a governador da Bahia, com o dinheiro que era para investir em áreas de risco. Pois 50 por cento dessas verbas, JOGOU na Bahia, que não teve chuvas e logicamente sem tragédia. Não vai responder por CRIME DOLOSO?
PS3 – E Geraldo Alckmin, o grande responsável em São Paulo. Voltou a chover na capital. Mas Alckmin se recolheu à própria insignificância. Depois de dizer, “não posso resolver nada em 24 horas”. Esquecido que, desde 1994, está no governo de São Paulo, como vice em exercício ou governador pela TERCEIRA VEZ, inconstitucional. Ficará impune?