Carlos Chagas
Reúnem-se domingo a convenções municipais do PT, para o início da escolha dos novos integrantes dos Diretórios Estaduais e, depois, do Nacional. O mais forte candidato à presidência do partido é o ex-senador José Eduardo Dutra, de Sergipe, mas, com todo o respeito, ele parece o patinho feio posto no lago dos cisnes.
Mais se acentuará na legenda a preocupação com o poder e sua preservação, em detrimento das lutas ideológicas do passado, pela melhoria das condições de vida do trabalhador e da afirmação da soberania nacional.
De José Dirceu a José Genoíno e a João Paulo Cunha, só para citar alguns dos prováveis novos dirigentes, estão todos mais ligados na obrigação de eleger Dilma Rousseff do que na apresentação de um roteiro de reformas capazes de exprimir um passo adiante no desenvolvimento social do país. Curvam-se às determinações do primeiro-companheiro, do neoliberalismo econômico à imposição da candidata, tudo sem um mínimo debate interno. Comportam-se como amigos do rei, empenhados em prestar-lhe vassalagem em vez de conduzi-lo de volta aos caminhos um dia percorridos em favor das verdadeiras mudanças sociais, políticas e econômicas do país.
É uma pena, mas o PT de hoje tornou-se pálida versão do partido que se propunha construir um novo Brasil.
Último esforço
Por coincidência no mesmo fim de semana, enquanto acontece a reunião do PT, em São Paulo, o PMDB estará promovendo amplo encontro, em Curitiba. Não propriamente todo o PMDB, porque seus dirigentes nacionais vão boicotar, infensos à iniciativa do governador Roberto Requião cujo objetivo é sensibilizar as bases partidárias em favor do lançamento de uma candidatura própria à presidência da República. Um dos oradores será o ex-presidente Paes de Andrade, que prestará homenagem ao dr. Ulysses Guimarães e, mesmo à revelia do governador, lançará o nome dele como candidato.
Fica óbvia a divisão entre a cúpula nacional do PMDB, já comprometida com a candidatura Dilma Rousseff, e as bases, pelo jeito empenhadas em não perder a condição de maior partido do país. O objetivo da reunião de Curitiba é levar à realização de uma convenção nacional capaz de solucionar o impasse.
Ano da marcha-a-ré
Como ano que vem é de eleições, quer dizer, de bondades, 2009 passará à crônica como ano de maldades. Melhor para o governo e as elites praticá-las de uma vez, confiando em que a curta memória nacional esquecerá rápido o mal.
Só esta semana, decidiu-se que o plenário da Câmara não aprovará a decisão da Comissão de Constituição e Justiça, extinguindo o abominável fator previdenciário, aquele que fez escolher a cada ano o valor real das aposentadorias. Da mesma forma, os deputados não votarão o projeto aprovado no Senado, dando a todos os aposentados o mesmo reajuste daqueles que recebem o salário mínimo. É a segunda consagração do nivelamento por baixo de todos os que pararam de trabalhar.
Ao mesmo tempo, aumenta-se o IPTU em até 60%, para ao ano que vem. Sem falar que a nova lei do Inquilinato está para ser sancionada pelo presidente Lula, acabando com o direito de ponto para pequenos e médios empresários e autorizando os proprietários a despejar em quinze dias os locatários, caso disponham de melhores contratos.
Será que o eleitorado se lembrará disso, daqui a um ano?
O filme do Serra
Andam as oposições em paroxismo por conta da pré-estréia do filme sobre a vida do Lula, onde os seus erros são omitidos e as suas virtudes, exaltadas. Trata-se de mais um capítulo da campanha sucessória, sem dúvidas, mas censurá-lo seria um ato de truculência, além de uma burrice. A liberdade de expressão do pensamento e de imagem é constitucional.
Se quiserem mesmo neutralizar os efeitos de “O Filho do Brasil” melhor seria que os tucanos contratassem um cineasta e produzissem uma película sobre José Serra. Poderia ser “O Filho do Palmeiras”, ou coisa parecida. E se não pensaram, anos atrás, em fazer um filme sobre Fernando Henrique Cardoso, certamente foi pela falta de um mocinho no presumível roteiro. Com todo o respeito, só haveria bandidos…
Palanque voador
Razão tinha mesmo mestre Gilberto Freire, para quem o Brasil era o país de possibilidades tão impossíveis que qualquer dia o Carnaval acabaria caindo na Sexta-Feira Santa.
Além do presidente Lula, estão confirmadas as presenças de Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva em Copenhague, no começo de dezembro, para a Conferência Mundial do Meio Ambiente. Com mais um jeitinho Aécio Neves e Ciro Gomes estarão presentes, quer dizer, o palanque eleitoral brasileiro sairá dos trópicos para o frio, transferindo-se para a Dinamarca.
Só Heloísa Helena não irá, por haver-se decidido a apoiar Marina Silva. O PSOL se aliará ao PV, com Heloísa disputando o Senado por Alagoas.
Negócios da China
Durante séculos era moda aventureiros, especuladores e banqueiros viajarem para a China, lá realizando negócios capazes de enriquecê-los em quinze minutos. Negócios da China, que corriam por conta do imperialismo explícito e exacerbado, às custas do sacrificado povo chinês.
Pois as coisas mudaram e agora é a China que faz negócios especialíssimos no resto do mundo, tornando-se a segunda economia do planeta e em vias de virar a primeira. Não dá para os neoliberais acusarem o comunismo, que prevalece pela metade naquele país. O tiro poderia sair pela culatra e a moda pegar.
Assim, culpam a política monetária de Pequim, porque enquanto o dólar cai, o yuen permanece imóvel, facilitando as exportações chinesas. Afinal, a mão de obra, lá, é baratíssima. Um operário recebe o equivalente a 25 dólares por mês. Um engenheiro, 40 dólares. O milagre é que esses ordenados bastam para todos morarem, comerem, vestirem-se e até pouparem. Pelo jeito, nossas elites intentam fazer meio milagre: reduzir os vencimentos dos assalariados para que nossos produtos possam competir lá fora…
Fonte: Tribuna da Imprensa
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