Dora Kramer
Não resta dúvida de que o governador de Minas, Aécio Neves, se apresenta como pré-candidato do PSDB à Presidência da República. Não há também razão para duvidar do governador quando ele afirma não ter “obsessão” pelo tema.
Na realidade, os movimentos do governador levam à conclusão de que Aécio está mais empenhado na administração política de uma tentativa do que na efetiva execução de um projeto de construção de candidatura presidencial.
Se o foco principal do governador fosse disputar mesmo a legenda do PSDB, ele agiria de modo diferente: teria empregado todos os esforços para a realização das prévias – hoje mera miragem por ele assim aceita –, como também teria cumprido a promessa de se licenciar do governo para viajar pelo país a fim de amealhar apoios nas sessões regionais do partido e se tornar mais conhecido do eleitorado.
Teria aplicado também seus atributos de negociador para se viabilizar dentro do próprio partido.
Prestando bem atenção nota-se que Aécio Neves não atua realmente como adversário de José Serra. As atitudes dele são diferentes da adotada por Geraldo Alckmin em 2006. Ali, os sinais de luta eram perceptíveis a olho nu. De parte a parte.
Aqui, há disputa de posições, mas que produz mais efeitos especiais que propriamente danos de concorrente para concorrente. Qual o prejuízo provocado por uma foto de Aécio com Ciro Gomes? Nenhum. Inclusive porque se o improvável fizer do mineiro o candidato, Ciro pode até apoiá-lo, mas o PSB seguirá com Lula e o PT não será tão ameno como é agora quando essa hipótese é mais remota.
Por ora, Aécio colhe benefícios e ao partido isso interessa porque é muito melhor ter uma candidatura alternativa que agrade do que trabalhar com uma alternativa frágil. Ele hoje é personagem de primeira linha no processo de sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, mesmo sendo desconhecido pela massa do eleitorado, tenha desempenho mediano nas pesquisas de opinião e conte com um adversário interno de posição obviamente preponderante. Ainda assim, Aécio transita com destaque.
E o faz há muito. Primeiro, por conta da possibilidade de sair do PSDB e disputar a Presidência por um outro partido. Hipótese sempre negada por ele, mas habilmente administrada no campo das especulações e alimentada por encontros pluripartidários, cuja consistência tinha mais a ver com as fotos produzidas do que com os fatos decorrentes deles.
A despeito da atividade do governador mineiro na “costura” de relações com outros partidos e das manifestações de apoio recebidas, Aécio Neves continua no PSDB e seus pretendentes a aliados seguem de compromisso marcado com a candidatura Dilma Rousseff.
O segundo e paralelo movimento do governador de Minas deu-se na eleição municipal do ano passado, quando se juntou ao então prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, para uma aliança em torno do candidato (vencedor) Márcio Lacerda, filiado por orientação de Aécio ao PSB.
O PT não autorizou a formalização da aliança e deu uma razão definitiva para isso: não iria mover águas para o moinho de Aécio Neves. À época, a imagem da foto foi bem mais generosa que o fato subsequente: Lacerda foi para o segundo turno com o candidato do PMDB que havia sido escolhido em convenção pelos aliados de Aécio no partido, supostamente para fazer papel figurativo, que acabou se revelando um adversário agressivo.
Assim como o PT e o PMDB na eleição municipal puseram seus destinos à frente da articulação alheia, os partidos – todos eles – farão o mesmo na eleição presidencial: brigar para ganhar.
A Cesar
O ex-prefeito do Rio Cesar Maia envia mensagem para contraditar em parte e esclarecer em parte artigo de ontem sobre a motivação de sua irritação com o governador José Serra: a pressa para que Serra se defina e interfira nas composições do Rio para que Fernando Gabeira seja candidato a governador, facilitando a candidatura de Cesar a senador.
“Sua fonte deve estar mal informada. Nesta segunda-feira (16), Gabeira participou aqui no Rio de uma reunião mensal sobre política internacional com dirigentes do DEM. Tudo em casa e com a amizade de sempre. Trinta dias atrás jantei na casa do Kassab em São Paulo, com Serra... 15 dias atrás almocei com Aécio. Nada disso foi sequer ventilado.
“Meu comentário (a respeito de Serra) tratou de uma curiosa inversão no processo de escolha do candidato pelo PSDB. Não havia visto antes pré-candidato dar-se prazo para definição e o partido, passivo, aguardar. A isso chamei de caudilhismo invertido, já que o normal seria o caudilho apontar no dedo seu candidato, como Lula com Dilma.”
Registrado. Inclusive o fato de que Cesar Maia não nega nem se refere ao seu desejo – centro do referido artigo – de ver Gabeira candidato ao governo e fora do páreo para o Senado
Fonte: Gazeta do Povo
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quinta-feira, novembro 19, 2009
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