Em atitude demagógica, ele assina a CPI que vai investigar suposto superfaturamento na Câmara
BRUNO GARCIADA REDAÇÃO
Acuado com a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que irá investigar suposto superfaturamento em sua gestão, o presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, vereador Deucimar Silva (PP), partiu para o ataque. Ele acusou os próprios colegas de Parlamento e tentou intimidar o MidiaNews.
As denúncias que motivaram a abertura da CPI foram feitas pelo site, por meio de investigação de um contrato da Câmara com a empresa Intergraf Gráfica e Editora Ltda. Os indícios apontam superfaturamento na compra de materiais gráficos, autorizado por Deucimar. A Intergraf pertenceria, segundo apurou a reportagem, a um deputado estadual de Várzea Grande, e estaria em nome de "laranjas".
Nesta quinta-feira (12), o presidente do Legislativo tentou intimidar a reportagem, afirmando que apresentará "uma filmagem comprometedora", na próxima terça-feira (17). Não disse do que tratam as imagens.Bastante nervoso, o parlamentar preferiu usar o "factóide" como uma ameaça, deixando no ar uma ameaça velada: se o site continuar as investigações sobre os gastos "suspeitos" da Câmara, ele irá divulgar as imagens.
"Vou mostrar, daqui uns dias, se ele [repórter] conversar muito. As imagens mostram esse jornalista, andando nos gabinetes de certas pessoas, dando uma de 'artista'. Vou mostrar", ameaçou Deucimar.
O vereador não citou nomes, mas fazia clara referëncia a este repórter, que, de fato, frequenta o Parlamento, um local público, no pleno exercício da profissão.
Ataques
No melhor estilo "joga pedra e esconde a mão", Deucimar, na tentativa de desqualificar a CPI e as denúncias de superfaturamento, disse que a comissão é uma maneira de ameaçá-lo. "Eles não querem investigar nada, eles querem só amedrontar o presidente", disse, sem citar nomes.
O vereador faz referência à votação do procedimento da Comissão Processante, que investiga o ex-presidente Lutero Ponce (PMDB), acusado de praticar fraudes no montante de R$ 7,5 milhões, em processos licitatórios, durante sua gestão (2007/20008), conforme aponta investigação da Polícia Fazendária. O comitê, provavelmente, pedirá a cassação do peemedebista, na sessão de julgamento, na segunda-feira (16), às 10 horas.
Deucimar Silva disse que foi pressionado para mudar a quórum da votação do processo contra Lutero. Ele defendeu maioria absoluta e disse que o grupo de Lutero quer que a votação seja por dois terços. O fato é que, com dois terços, ou seja, 14 votos para cassá-lo, as chances de ele se livrar da punição são maiores.
"Não aceito [essa CPI], é uma ameaça por causa da votação de segunda-feira. Não posso admitir vereador vindo no meu gabinete me ameaçar. Não vai me ameaçar nunca. Prefiro a morte ou perder o mandato", disparou Deucimar Silva, sem, mais uma vez, citar nomes.
Questionado sobre quem seriam esses vereadores que o teriam ameaçado, o presidente da Câmara despistou, mas é uma referência a sete dos dez parlamentares que assinaram a CPI"É fácil! É só vocês verem quem é a linha de frente. Estamos preparados para qualquer embate, não tenham dúvida. Se vier mais embates, estamos prontos, pois não existe vereador para me amedrontar", afirmou o presidente.
A CPI foi proposta por Chico 2000 (PR) e avalizada por Lueci Ramos (PSDB), Francisco Vuolo (PR), Néviton Fagundes (PRTB), Lutero Ponce (PMDB), Lúdio Cabral (PT) e Clovito (PTB). Após instituída, os vereadores Toninho de Souza (PDT), Pastor Washington (PRB) e o próprio Deucimar assinaram o requerimento de abertura da comissão.
Apresentação
Desde a primeira denúncia, feita pelo MidiaNews em setembro, Deucimar Silva não conseguiu dar explicações convincentes, passando a maior parte do tempo com ataques e xingamentos. Apesar disso, ele prometeu esclarecer todos os indícios de superfaturamento em uma apresentação à Imprensa.
"Vamos mostrar, se Deus quiser, na próxima terça-feira (17), nesse plenário, quem está equivocado: se é eu ou a imprensa eletrônica (referindo-se ao MidiaNews), que divulgou essa maldade. Vamos mostrar com a maior tranqüilidade. Vocês vão ver, na primeira fala, que vamos apresentar a vocês, onde está o erro", disse
Com discurso batido, Deucimar Silva voltou a falar que não tem nada a esconder, jogando uma possível responsabilidade para a adesão ao pregão da Assembléia Legislativa. "Vamos mostrar à Imprensa, que participamos de adesão, tanto do Governo Federal, Governo Estadual e da Assembléia Legislativa. Eu não tenho nada a esconder, eu assinei e se alguém errou, vamos pegar o culpado e acabou", disse, querendo se esquivar da CPI.
Mesmo o MidiaNews tendo denunciado que os valores pagos pela Câmara são maiores que o do mercado, Deucimar disse que economizou dinheiro. Ele autorizou o pagamento de R$ 62.296,25 à Intergraf, pela confecção de cartões e certificados. A reportagem cotou o material na empresa Defanti Gráfica, Editora e Embalagens, que produz o mesmo tipo material, por R$ 13.790,00, uma diferença superior a R$ 48 mil.
Pagou, mas nao levou
Além dos preços supertarurados, a Intergraf, segundo apurou a reportagem, teria entregue materiais diferentes dos discriminados nas notas fiscais e pagos pelo presidente Deucimar Silva. Um exemplo é a ausência do recurso conhecido como "hot stamping" em certificados.
O MidiaNews obteve cópias de alguns certificados entregues a diversas personalidades, recentemente, e atestou que o recurso não foi feito nos mesmos.
Segundo uma fonte do site, um funcionário efetivo da Cämara, há rumores de que, numa estratégia para tentar salvar sua pele, o presidente Deucimar Silva teria, desde a denúncia, mandado confeccionar outros impressos, desta vez, correspondentes aos especificados nas notas fiscais.
Fonte: Mídia News
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