Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Reforçado por vitórias esperadas e festejadas nas eleições municipais, o PMDB começa a falar grosso. Michel Temer prorrogou seu mandato por dois anos na presidência do partido e pega o presidente Lula na palavra, ou seja, é o candidato do Palácio do Planalto à presidência da Câmara. Exige do PT o cumprimento da promessa presidencial.
Em paralelo, o rolo está formado no Senado, que entraria no acordo pela escolha de um presidente do PT, no caso, Tião Viana. Como o PMDB também é a maior bancada, seus caciques levantam o pretexto de o senador acreano enfrentar resistências entre seus senadores. Leia-se Renan Calheiros, na primeira linha, e José Sarney, na retaguarda.
O ex-presidente nega, jura não ser candidato, mas, no fim, bem que gostaria de encerrar sua trajetória política como mais uma vez chefe de um poder da República. Na verdade, o que o PMDB quer é a dupla presidência, a qual teria direito não fosse sua aliança com o presidente da República. Afinal, ministérios, diretorias de estatais e altos postos federais não valem nada?
O problema é que se Tião Viana não for aceito, com ou sem a anuência do Lula, o PT dará o troco: seus deputados retirarão o apoio à candidatura Michel Temer, na Câmara, devendo votar em Ciro Nogueira, do PP. O prorrogado presidente do partido reagiria rompendo o acordo no Senado. Aliás, vai dar muita discussão saber quem, em fevereiro, realizará primeiro a eleição para renovar as mesas: Câmara ou Senado?
A pergunta que se faz é sobre quem perde e quem ganha, nesse desencontro. Pelo jeito, perdem todos. O governo não pode prescindir do respaldo do PMDB para a votação de seus projetos, nos próximos dois anos. É claro que o partido não adotaria de público uma postura oposicionista, mas faltaria nas horas cruciais. Teria o presidente Lula coragem para romper a aliança, demitindo os ministros peemedebistas? Também não, mas ficaria de cara feia e recusaria qualquer outro pleito que o partido viesse a fazer.
Tudo se refletiria na montagem da próxima sucessão presidencial. Apoiar Dilma Rousseff, se ela não decolar como candidata? Lançar candidato próprio ou, iniciativa extrema, apoiar José Serra ou Aécio Neves? Votos para a emenda constitucional do terceiro mandato, nem pensar. Em suma, tempestade à vista, nas relações até agora firmes entre o PMDB e o governo.
Bancadas ausentes
Pode ser que de ontem para hoje os números tenham mudado, mas, pelo jeito, as bancadas parlamentares do Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul estarão em maioria ausentes dos trabalhos do Congresso. Não haverá que criticar a gazeta, afinal boa parte dos deputados e senadores desses estados jogam seu futuro nas eleições para as prefeituras das capitais.
Os do PT ainda esperam uma reviravolta em Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte. Os fiéis seguidores de Aécio Neves tentam evitar a débâcle capaz de obstruir as pretensões presidenciais do governador. As esquerdas, no Rio, compulsoriamente obrigadas a se unir em torno de Fernando Gabeira, aguardam a oportunidade de reduzir a influência do governador Sérgio Cabral.
Como exigir a presença de todos em Brasília, ainda mais porque os presidentes Garibaldi Alves e Arlindo Chinaglia decidiram não colocar em pauta nenhuma votação plenária.
O Judiciário fora de foco
Vão continuar as dúvidas e as malandragens verificadas em torno da decisão de deputados e senadores demitir parentes de seus gabinetes. Já se ouve falar muito, nos corredores do Congresso, das demissões e de novas nomeações cruzadas, ou seja, uma quota em cada gabinete para acomodar parentes de colegas, desde que a recíproca seja verdadeira.
Apesar disso, saiu completamente de foco à recíproca que deveria valer no poder Judiciário. Lá, também, o nepotismo está proibido, ainda que não extinto. Mais nos tribunais estaduais, menos nos tribunais superiores, ainda se registra a presença de parentes dos meritíssimos.
Prevalece, em tudo, a natureza das coisas. O nepotismo é intrínseco a toda atividade humana. Imaginem se a moda pega, com todos os excessos, nas empresas privadas...
Parece o Joãozinho
O presidente Lula não se contém. Dia sim, outro também, investe contra a imprensa, como fez no fim de semana em São Paulo. Para ele, a mídia envenena as atividades do governo, "querendo que tudo dê errado".
Dessa vez, porém, ao menos na teoria, o presidente teve razão num aspecto. Disse que os jornalistas não são mais "formadores de opinião", como se intitulam. Não somos mesmo, mas por motivos diversos da fobia presidencial. Conforme a escola da humildade deveríamos ser apenas "informadores" de tudo o que se passa na sociedade, de bom e de mal, de certo ou errado, de ódio e de amor. Nossa função é transmitir o melhor possível à realidade. Informamos. Quem se forma é a própria sociedade, estimulada por mil e um fatores, dos quais a imprensa é apenas um.
Mesmo assim, ainda chegará o dia em que o presidente Lula, sem nos esquecer, dará o devido peso a essa profissão que já foi considerada o quarto poder, no passado, mas hoje será no máximo o sétimo ou o oitavo.
Quem acompanhou pela televisão os dramáticos lances do seqüestro de Santo André, no fim de semana, terá rebaixado ainda mais a cotação das telinhas como meio de informação, porque raras vezes se tem visto tão intenso festival de besteiras, ilações incorretas e falta de senso na narração dos episódios.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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