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quarta-feira, setembro 02, 2015

Manifestações: Indignação não escolhe hora nem lugar

O sentimento de revolta aflora ainda mais para aqueles que estão entre os milhares de desempregados

Assistimos recentemente às manifestações convocadas pelas redes sociais, ocorridas em um domingo, nas quais a praça fora ocupada por jovens e idosos, homens e mulheres, enfim, pessoas que ali se concentraram para bradar a sua indignação...

Após aquela demonstração cidadã, que, para alguns, até assume contornos de catarse coletiva, com gritos de ordem contra toda a corrupção e inépcia de um sistema político e governamental, a multidão simplesmente se dispersa porque chegou a hora do almoço ou do jantar, por óbvio, para uma refeição mal digerida pela irresignação que insiste e persiste.

O sentimento de revolta aflora ainda mais para aqueles que estão entre os milhares de desempregados e mesmo para os que, possuindo renda, veem a inflação corroer o direito da “compra do pão” que deveria ser de cada dia, mas o orçamento não fecha o mês. Isso, para não citar, os que perdem entes queridos nas filas dos hospitais, em algum latrocínio, numa guerra civil insana e não declarada, entre facções criminosas e forças policiais.

Não é possível dimensionar, nem abstrair a dor e o sacrifício daquelas pessoas que há muito sairam pela tangente do significado da palavra dignidade. Para piorar, tudo em contraste com um sistema educacional falido que condena gerações ao analfabetismo funcional, privando-as da esperança de dias melhores.

Portanto, quando o povo pressiona, acende-se o sinal de alerta para que as pretensas instituições “republicanas” sejam de fato republicanas e não reféns do compadrismo vigente. Diante da realidade imposta, percebe-se, então, um maior dinamismo nas esferas de poder como uma tentativa de dar uma satisfação ao clamor popular.

Acontece que, diante do noticiário cotidiano, as pessoas retornam aos seus lares e não demora muito para regurgitarem mais compadrios, corrupções e tenebrosas relações entre Poderes constitucionais que deveriam funcionar separadamente, livres de promíscuos tentáculos de influência de uns sobre os outros.

Até quando será possível às autoridades constituídas acreditarem que milhões de brasileiros deixarão de marcar hora e lugar para ocuparem permanentemente as praças de todas as cidades?

Ou será que subestimam o possível furor das massas e a sua capacidade de paralisar definitivamente o país com uma inaudita exigência do “ou dá certo em respeito à Constituição que prevê, dentre outras coisas, o impedimento da governante; ou desce dos píncaros do poder pelo ato unilateral da renúncia, sob o solavanco popular”. Tudo, diante das fortes evidências de estelionato eleitoral e da inércia daqueles que ainda acham que estão nos prostíbulos do poder para afrontarem e prevaricarem com a vontade popular. Juízo é bom ou preferem esticar a corda para ver se arrebenta?

Nos extremos, os ânimos já estão bem aflorados e tem muita gente por aí com gosto de sangue na boca, pregando o ódio. Corre-se o risco desse acirramento se espalhar caso perdure a crise moral pela qual passa o país, ainda mais num cenário recessivo que aumenta a escassez das famílias. E não existe nada mais vigoroso para consolidar uma democracia do que a alternância de poder, em consonância com a vontade do povo.

Assim, renova-se a esperança e a vigilância, oxigenando as instituições fortalecendo suas musculaturas, estabilizando o plano político e econômico, consolidando, neste momento, aConstituição Federal que, mesmo tão ultrajada e vilipendiada, como a grande vencedora e o verdadeiro bastião da República.

Enfim, honra-se a memória de tantos homens e mulheres que no passado lutaram dignamente, nos deixando a grande responsabilidade para levar o seu legado adiante, pondo o Brasil definitivamente nos trilhos do desenvolvimento pleno.

Uma dessas personalidades históricas foi o memorável líder político Ulysses Guimarães que, em entrevista com o Jô Soares, em 21 de setembro de 1992, tem suas palavras ecoadas do passado como prognóstico para o presente, com a solução tão almejada pelo povo brasileiro ao defender a renúncia ou impedimento do então presidente Fernando Collor.

As ideias de Ulysses vivem e – frente aos atuais e inimagináveis esquemas de corrupção – teria dito de forma ainda mais vigorosa “que o povo acordou e está bem acordado, olhando bem esse cenário de vergonha e indignação que aí está em todo o país. Que ela não é mais presidente; e quem irrevogavelmente lavra essa sentença é o povo. A praça pública é maior do que a urna. Se ela foi eleita, agora foi repudiada pela praça pública. O cidadão acordou e está se manifestando em nome da cidadania. A cidadania é mais do que o cidadão. E se o resultado não for aquele que a nação quer, nós, políticos, passaremos a réus, a cúmplices disso que aí está. Então faça um favor para o Brasil e para si mesma: renuncie para abreviar um desgastante processo de impedimento”. Assim não sendo, será razoável a previsibilidade de que a indignação do povo deixará de marcar hora e lugar, abrindo-se espaço para a incivilidade e para que o imponderável aconteça em uma ocupação permanente das praças públicas.

Por Mauro Rogerio - Ten Cel Aviador da Força Aérea Brasileira
Fonte: Por Mauro Rogerio - 01/09/2015 - - 11:36:39

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