Coxinha e caviar
19/09/2015 02h00
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Parecem bem menos do que sólidas, na atual
conjuntura política, as chances de que o empresário João Doria Jr. venha a
disputar, que dirá com sucesso, a eleição para a Prefeitura de São Paulo no ano
que vem.
Em seu próprio partido, o PSDB, nomes bem mais identificados
com a estrutura do governo estadual ou com lideranças da agremiação já se
apresentam como pré-candidatos.
É inquestionável, todavia, o bom trânsito do
empresário de comunicações (e ex-secretário de Turismo da metrópole) em setores
endinheirados, fundado na realização de concorridos eventos em resorts de luxo
e na ativa presença em circuitos como o da alta gastronomia e do consumo mais
exigente.
Terá sido em razão, provavelmente, do desejo de
ampliar seu prestígio nessa faixa influente, ainda que reduzida, da população
paulista que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) se dispôs a pagar pela veiculação
de peças publicitárias em algumas das revistas editadas pelo grupo de Doria Jr.
Numa delas, intitulada "Caviar Lifestyle"
–cuja circulação declarada se limita a 40 mil números–, anúncio de nove páginas
custou R$ 501 mil reais aos cofres paulistas, como revelou esta Folha.
Para fins de comparação, registre-se que 18 páginas
na revista "IstoÉ", sem dúvida mais conhecida de qualquer pagador de
impostos com hábitos não tão requintados, exigiram da administração paulista
dispêndio comparativamente menor: R$ 479 mil.
Publicidade de duas páginas na revista
"Época", cuja circulação –sem demérito de seus leitores– atinge
contingentes que não frequentam as cadeiras de frente dos desfiles de moda,
terá custado somente R$ 71 mil.
Por inadvertência da Redação, a notícia foi
publicada sem que, no mesmo dia, as explicações da gestão tucana pudessem ser
cotejadas pelo leitor. Usaram-se critérios técnicos, não se levando em conta a
afinidade partidária.
Que Doria Jr. tenha organizado homenagem a Geraldo
Alckmin em Nova York, em maio deste ano, pouco contribui para a credibilidade
dessa versão.
Os contribuintes paulistas, dentre os quais alguns
jocosamente associam o empresário ao universo "coxinha", ficam assim
esclarecidos –e não se diga que o governo apenas colocou uma azeitona na empada
do grupo empresarial. É de caviar que se trata.