Publicado em 8 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Idiana Tomazelli e Fábio Pupo, Folha de S. Paulo desta sexta-feira, destaca que, como era previsto e natural, o ex-presidente Lula da Silva não anunciará o nome de nenhum ministro, especialmente o da Economia, antes do resultado final de 30 de outubro.
É claro que seria um absurdo completo algum candidato anunciar o nome de ministro do seu governo antes do resultado das eleições, inclusive porque deve haver uns três mil candidatos ao cargo de ministro da Fazenda que se julgam em condições, sejam mais próximas ou remotas, de ocupar o posto.
FUGA DA DISCUSSÃO – Evidentemente que me refiro à hipótese de vitória de Lula da Silva. Caso contrário, o país teria que suportar ainda por mais tempo a presença de Paulo Guedes, que acumula a Fazenda e o Planejamento, e ainda indica titulares de outras pastas. Falando-se de votos e temas, observo que o Auxílio Brasil, por exemplo, é um lance conservador para fugir da discussão central que se encontra na distribuição de renda.
Colocado o programa em ação, nenhum candidato poderia condená-lo, uma vez que seria perder, talvez milhões de votos, exatamente das vítimas do peso do atual sistema concentrador de renda. O Auxílio Brasil é uma emergência para evitar que morram de fome todos os dias milhares de homens e mulheres, atingidos pelo desemprego, por salários reajustados abaixo da inflação, pela falta de saneamento e de esperança.
PONTO CRÍTICO – Foge-se do tema, fazendo-se com que o estado abra mão de parte de sua receita e entregue o Auxílio Brasil à milhares de famílias que vivem na linha abaixo da pobreza. A distribuição de renda, sustento, está na razão direta do emprego e do salário, significando dizer que o ponto crítico da questão ainda não enfrentado verdadeiramente é a redistribuição do sistema de remuneração do capital para o trabalho. Sem isso, o problema efetivamente não terá solução. Mas a conquista do voto exige outro comportamento.
Então, é aceitável apoiar-se o programa que começou com o Bolsa Família, no governo Lula, e ampliou-se para o Auxílio Brasil de Bolsonaro. As duas iniciativas, que no fundo são uma só, coincidem com uma frase do personagem central de “O Leopardo”, excelente filme de Luchino Visconti: “É preciso mudar para tudo continuar como está”.
FALTOU PLANO DE GOVERNO – Numa entrevista a Renato Machado, Folha de S. Paulo de ontem, Simone Tebet assinala que faltou a Lula para vencer no primeiro turno a apresentação, durante a campanha, de um plano mais detalhado de governo. Simone Tebet, a partir de hoje, se engaja na campanha do PT, estando presente nos momentos da propaganda e das candidaturas, desde que não impliquem em prejuízo de candidatos de seu partido, o MBD, nas unidades em que disputam os governos estaduais.
As soluções conservadoras, cito outro exemplo, com base numa reportagem de Matheus Teixeira e Thiago Bethonico, Folha de S. Paulo desta sexta-feira, focalizando planos para requacionar o programa destinado a retirar os endividados, como se tal situação não viesse a se repetir com a frequência com a que existe, sobretudo em consequência da propaganda para que a população tenha acesso à ilusão de dinheiro no bolso.
REAÇÃO NAS UNIVERSIDADES – O corte de verbas anunciado pelo próprio governo sob a forma falsa de contingenciamento – objeto de excelente reportagem de Bruno Alfano e Paula Ferreira, O Globo de ontem, criou uma situação de absoluta revolta nos meios universitários, inclusive em face de faltarem recursos para que possam pagar as contas de água e energia elétrica relativas ao mês de outubro.
As manifestações sucedem-se pelo país, levando-se em conta também que bolsas de estudo poderão não ser renovadas na reta final das eleições.
RUY CASTRO, VITÓRIA NA CULTURA – Foi realmente uma vitória da cultura brasileira, que se acumula diariamente nas páginas de jornais e nas editoras de livros, a eleição de Ruy Castro com 90% dos votos para a Academia Brasileira de Letras.
Sua trajetória tem iluminado gerações do país e funcionado para mostrar que a cultura se constrói e se renova, e que, a exemplo da história, também está no presente unido ao passado pela ponte encantada da percepção e do estilo, do conteúdo e da forma, pilares sobre os quais fundamentou as suas obras.
No jornalismo, hoje na Folha de S. Paulo, no passado no Correio da Manhã e na Playboy, descortinou a movimentação das próprias vidas humanas de seus personagens. Todos eles estão nas ruas do Rio e do país. Protagonistas entre luzes e sombras.